87 views 6 mins

O que a pandemia ensina sobre gestão de riscos nas empresas

em Opinião
terça-feira, 16 de junho de 2020

Alexandre Oliveira (*)

A pandemia fez a sociedade repensar suas atitudes de higiene, saúde e relacionamento social.

Mais do que isso, trouxe a todos os segmentos novas formas de agir e pensar em prol da manutenção da vida humana, incluindo a educação, inovação, economia e o empreendedorismo. Se há muito tempo falávamos de uma boa gestão de riscos dentro das empresas, em que cenários economicamente catastróficos podiam ser previstos e superados, a partir de agoras as empresas – sejam elas pequenas, médias ou grandes corporações – devem correr contra o tempo e incluir em seus estudos e preparativos as pandemias.

Ao longo da história, existiram diversos eventos como este. No estudo “Tail Risk of Contagious Diseases”, de P. Cirillo e N. N. Taleb, publicado em março, estão listados os 55 eventos epidemiológicos mais recentes e graves da humanidade em cada século, 20 deles relativos à peste negra, 9 de cólera, 7 de influenza e 5 de varíola, que com o avanço da ciência passaram ao controle da saúde.

Chama a atenção, no entanto, que em somente duas décadas já foram coletados 10 desses surtos. O estudo sugere que, mantidas as condições e padrões atuais das relações humanas em todos os setores, podemos ter três vezes mais o número de eventos que no século XIX, considerado o pior dos séculos das epidemias na história da humanidade.

Em outras palavras, o risco da ocorrência de novas pandemias se tornaria potencialmente maior, o que deve servir de indicador para a gestão de riscos incorporar em suas avaliações mais esta categoria, dado o elevado potencial de severidade em termos econômicos e a persistência temporal de seus efeitos sobre os negócios.

As esferas governamentais em conjunto com o setor privado necessitam gerar esforços que garantam a sustentação financeira do mercado durante os períodos de crise, permitindo que, após o período necessário para a contenção da mesma, as atividades possam retomar no melhor cenário possível. Mas como ter um plano de gestão de riscos sem saber o que vem pela frente?

As métricas podem auxiliar os diversos tipos de negócios, seja durante crises econômicas ou situações como a que vivemos atualmente. Olhando para a probabilidade de novas pandemias ao longo das próximas décadas, a mensuração de dados estatísticos se torna um dos pilares mais relevantes para uma gestão de riscos efetiva.

Obviamente que não devemos ser pessimistas, mas o time de gestão de riscos precisa considerar todos os cenários e estar preparado para tomar medidas radicais – se forem necessárias – pelo bem estar de sua equipe e a boa saúde financeira de uma empresa.

Não há gestão efetiva de riscos sem mensuração objetiva que permita a adoção de estratégias decisórias coerentes mais embasadas em dados e fatos. Estamos passando por um momento absolutamente singular e disruptivo que nos obriga a mudar nossa visão e atitudes diante da realidade que se coloca à nossa frente.

A nosso favor, temos a ciência e todo o conhecimento acumulado, bem como tecnologias desenvolvidas. Mas, outras pandemias são cada vez mais prováveis em função do próprio desenvolvimento da sociedade moderna e suas atividades econômicas podendo se constituir, cada vez mais, no novo normal.

Diante disso, é necessário que a gestão de riscos evolua no sentido de incorporar métodos prospectivos de avaliação e mensuração mais objetivos para capturar o risco de crises não só no âmbito econômico, mas também ligadas à saúde. Assim, passamos a ser capazes de quantificar a severidade ou considerar diversos cenários evolutivos para a prevalência.

Olhar para a gestão de riscos pode auxiliar no melhor processo de tomada de decisão, tanto no setor público quanto privado, estando melhor equipados para avaliar cenários absolutamente extremos permitindo o aprimoramento de planos de continuidade de contingenciamento públicos e de negócios, bem como na avaliação do risco de solvência e liquidez.

Sem prejuízo, obviamente, das questões humanitárias, uma vez que não há escolha entre vidas e economia. Afinal, este se constitui claramente em um falso dilema.

(*) – Administrador formado pela FGV com Mestrado em Modelagem Matemática em Finanças pela USP e Doutorado pela Poli/USP, é Diretor de Riscos da Matera (www.matera.com).