Bruno Pio (*)
Uma loja só existe quando há pessoas dispostas a consumir os seus produtos.
Levando isto em consideração, o consumidor é um dos motores essenciais para a economia de qualquer nação e também a razão de ser do varejo. Não é à toa que boa parte das palestras e discussões de todas as edições da NRF fala sobre o comportamento do consumidor e como atraí-los seja por meio de Big Data, marketing ou customização. No fim das contas, tudo gira em torno do que faz uma pessoa comprar este ou aquele produto e o que a leva a escolher determinada marca.
Entretanto, em uma palestra conduzida na NRF 2017 pelo CEO do Federal Reserve Bank (FED), de Nova York, Willian Dudley, o tema foi abordado de uma maneira diferente: ao analisar como o comportamento dos consumidores evoluiu nos últimos dez anos, ele discorreu sobre como os seus gastos foram financiados.
O financiamento das famílias norte-americanas mudou muito desde a crise de 2008. O início do século XXI foi um período de grande expansão dos empréstimos para elas, especialmente os imobiliários, que refletiam uma expectativa de apreciação dos preços de imóveis alta e insustentável. E, neste contexto, principalmente aquelas de baixa e média rendas, se endividaram.
Segundo Dudley, tais famílias são desproporcionalmente afetadas pela perda de empregos. Além disso, elas também tinham pouca experiência com a administração de dívidas, sobretudo, em períodos de estresse financeiro, o que resultou não só em altos índices de inadimplência como também na falência de vários pequenos negócios.
A partir da crise, iniciou-se uma fase de grande desendividamento: as famílias tiveram que reequilibrar suas contas para pagar as dívidas em atraso. Esta fase durou cinco anos até que os preços dos imóveis voltaram a subir novamente e o endividamento estabilizou.
No período recente, o crédito para as famílias voltou a se expandir, mas de maneira mais saudável do que no início do século. Hoje, elas estão mais cautelosas em relação às hipotecas e as baixas taxas de juros norte-americanas fazem com que os consumidores absorvam melhor quaisquer situações inesperadas.
Entender o consumo e o financiamento destas pessoas pode ajudá-las a não serem pegas de surpresa novamente (exatamente como aconteceu com grande parte delas em 2008). Iniciado em julho de 2009, o atual período de crescimento econômico dos Estados Unidos é o terceiro mais longo desde a Segunda Guerra Mundial. Como o próprio Dudley diz, “as expansões econômicas não morrem de velhice”. Mas, será que a mais recente está para acabar?
Em tempos de Donald Trump e Brexit, sofre quem precisa fazer qualquer tipo de previsão sobre o futuro da economia. Mas, para o FED, saber o que acontece com as finanças das famílias é fundamental por três razões: para melhor perceber a força e resiliência da economia como um todo; para entender como o indivíduo reage às políticas e incentivos adotados; e para dar suporte a projetos comunitários e missões de desenvolvimento.
É verdade que, ao fazer tal análise, o FED pensa na economia como um todo. Resiliência da demanda, reação a incentivos e bem-estar social provavelmente são assuntos relevantes para todo empresário. Sendo assim, não seriam estes os insights mais importantes para qualquer varejista? Eis uma importante questão a ser sempre considerada.
(*) – É analista da Saint Paul Advisors.