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O “Coliseu Virtual”: entenda o fenômeno e como lidar com as suas consequências

em Opinião
segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Heloisa Castro (*)

Especialista compara os antigos coliseus romanos com o atual cenário das mídias sociais; entenda!

O advento das mídias sociais e da cultura da internet trouxe consigo um fenômeno preocupante que foi comparado à antiga prática do Império Romano, chamado o “Coliseu Virtual”. O termo foi usado pela primeira vez pelo influenciador Pedro HCM e não poderia ter se encaixado melhor. Este paralelo entre as atitudes das pessoas na internet e as práticas romanas de entretenimento revela uma realidade complexa e, por vezes, perigosa. A disseminação de fake news, a propagação de fofocas e a busca incessante por engajamento têm criado um ciclo vicioso de comportamento agressivo e massivo nas plataformas.

Durante os eventos no Coliseu Romano, multidões se reuniam para assistir a espetáculos que variavam de combates entre gladiadores até batalhas encenadas com animais selvagens. A busca incessante por um entretenimento sangrento tornou-se uma característica marcante da sociedade romana da época. O Coliseu Virtual, por sua vez, compartilha algumas semelhanças com essa prática histórica, pois também atrai uma audiência ávida por emoções fortes — ainda que agora essas emoções se manifestem de maneira virtual.

Com a evolução da tecnologia, nunca antes a humanidade presenciou uma disseminação tão rápida de informações, sejam elas verdadeiras ou falsas. Apesar de que, um estudo do MIT aponta que as famosas “fake news” têm uma chance muito maior de se tornarem virais do que as notícias reais. O engajamento se tornou a moeda de troca, onde a capacidade de atrair atenção para assuntos — sejam eles polêmicos, sensacionalistas ou controversos —, determina a relevância e o sucesso na esfera online. Essa dinâmica envolve não apenas a busca por atenção, mas também a monetização do conteúdo, criando uma corrente de sensacionalismo e desinformação difícil de romper.

Em uma relação desequilibrada de poder, onde não importa quem está falando a verdade e sim que faz mais barulho, a realidade se aproxima cada vez mais de um cenário distópico de alguma produção de ficção científica. Os likes, os comentários, as DMs, os reacts… tudo isso passa a ter um peso muito maior do que deveria e começa a interferir na vida fora da internet. Baseada em uma necessidade de pertencimento, os usuários se unem para atirar pedras no escolhido da vez, sem se perguntar duas vezes o motivo e, principalmente, as consequências disso.

Assim como retratado na série Black Mirror, no episódio “Queda Livre”, as mídias sociais definem com quem você anda, onde você entra, o que você consegue alcançar e, por que não, quem você consegue atingir. Um simples comentário pode dar abertura para uma enxurrada de ódio e ataques virtuais — mesmo que não tenha sido a intenção. É como se as pessoas estivessem sempre esperando uma oportunidade para colocar outra para baixo.

E, diante deste cenário, devemos nos perguntar: até que ponto isso é um “problema da internet” e não um problema moral de uma sociedade adoecida? Uma página pode publicar uma fake news, mas as outras 20 milhões de pessoas que a compartilharam também poderiam ter checado a sua veracidade antes de fazê-lo. Até quando vamos terceirizar essa questão e ignorar as nossas próprias atitudes? Não há dúvidas de que as big techs estão lucrando às custas da nossa saúde mental, mas o que estamos fazendo para mudar esse cenário? O que estamos fazendo para evitar isso?

É válido ressaltar que a divulgação de notícias falsas no Brasil é crime, com pena de até três anos de reclusão. No entanto, enquanto não tivermos leis mais rigorosas sobre este tipo de comportamento online, pouca coisa parece mudar. Depois de tantas tragédias, já passou da hora de reclamar pela regularização da profissão de influenciador digital, oferecer preparo e condicionamento para as pessoas e conscientizar toda a população sobre essas condutas nocivas.
 
Como lidar com o Coliseu Virtual?
Se você foi vítima de um lichamento virtual, é preciso tomar alguns cuidados, confira:

Busque ajuda: Primeiro de tudo, busque ajuda psicológica e profissional. Não tente resolver a situação sozinho, não responda os comentários imediatamente e tente se blindar da melhor maneira possível dos ataques. Com uma equipe capacitada ao seu lado, a gestão de crise será muito mais eficiente, os culpados serão responsabilizados, além de evitar mais desgaste pessoal. 

Denuncie: Caso você esteja sendo alvo de fake news, denuncie os acusadores e reúna o máximo de informações e provas possível. Tire prints, salve links e prepare todos os materiais para fazer o boletim de ocorrência na Delegacia Virtual, especializada em crimes cibernéticos.

Reflita sobre o seu posicionamento: Se uma opinião pessoal ou alguma atitude causou o lichamento, é válido refletir sobre a reação do público, quais grupos se sentiram ofendidos e se é uma crítica válida (apesar do comportamento nocivo). Converse com pessoas capacitadas e entenda o seu impacto na internet e na sua comunidade. É importante não levar os comentários e ataques para o coração, mas entender o que motivou a reação.

Por fim, é importante destacar a importância da regulamentação do mercado digital — desde os pequenos criadores de conteúdo, até as páginas de fofoca gigantescas. Com preparo profissional, educação, conscientização e normas mais rigorosas, é possível tornar o ambiente virtual mais saudável para todos.

(*) Formada em Marketing pela UVA e pós-graduanda em Influência Digital pelo IBMR. É natural do Rio de Janeiro e atua no mercado de Marketing de Influência há 4 anos. Em setembro de 2019, participou da fundação da EPICdigitais, onde atua desde então como Head de Influenciadores.