José Ricardo Roriz Coelho (*)
O Brasil têm encontrado dificuldades crescentes para vencer no campeonato da produção global, tanto no comércio exterior, quanto jogando em casa, pois o mercado interno foi muito abastecido nos últimos anos por produtos estrangeiros.
O problema está se tornando tão agudo, que, no ano em que o País sediará a Olimpíada do Rio de Janeiro, nossas empresas, ironicamente, sequer conseguirão exercitar o tradicional ideal olímpico de que “o importante é competir”. Afinal, quem consegue concorrer na economia mundial enfrentando taxas de juros e impostos extorsivos, câmbio esquizofrênico, insegurança jurídica e um ambiente de negócios contaminado pela crise política e ética?
Todos esses problemas e a baixa competitividade afetam gravemente os setores produtivos, principalmente a indústria de transformação. Exemplo encontra-se nos plásticos, que caíram 8,7% em 2015, com produção de 6,1 milhões de toneladas. O recuo foi o pior desde a crise iniciada em setembro de 2008 e que apresentou seus mais sérios reflexos no mercado mundial e brasileiro durante o ano de 2009, período em que a produção do setor retrocedeu 13,3%.
O desempenho dos plásticos seguiu de perto o da indústria de transformação, cuja queda geral de produção foi de 9,9%. Importantes setores demandantes de plásticos tiveram quebras mais significativas, como o automotivo (-25%), alimentos (-2,4%), bebidas (-5,4%), eletroeletrônicos (-30%) e higiene e perfumaria (-3,8%). Como se observa, os problemas relativos ao cenário interno do País estão corroendo importantes segmentos.
O dólar mais elevado, ainda que de modo incipiente, tem ajudado alguns ramos a aumentarem as vendas externas. As exportações de transformados plásticos cresceram 8,8% em 2015. No entanto, da mesma forma que o câmbio favorece pontualmente um incremento de nossas vendas externas, impacta de maneira direta os nossos custos, pois as matérias-primas, em especial as resinas termoplásticas, têm parte de seus preços determinados em dólares.
No mercado internacional há um movimento de retração de preços de resinas por conta da forte queda do petróleo e derivados, mas isso ainda não foi sentido aqui no Brasil, por conta das variações cambiais repassadas aos preços nos mercados domésticos. A conjunção de queda nos volumes produzidos, somada à baixa expectativa do empresário quanto ao retorno do crescimento econômico, resulta em um dos mais dramáticos sinais da crise enfrentada pelo nosso setor: o fechamento de quase 30 mil postos de trabalho.
A indústria de transformação do plástico é um dos quatro maiores empregadores industriais do País e, dentre os setores geradores de mão de obra intensiva, é o que paga os melhores salários e contrata profissionais mais qualificados. Infelizmente, ainda não vemos alteração desse cenário. Para 2016 estimamos recuo de 3,5% e de 1,3% no emprego. Somente as exportações seguirão com um desempenho positivo, na ordem de 12%.
A realidade da indústria de transformação e a presente conjuntura não significam que temos um país inviável. O Brasil possui imenso potencial para vencer a crise e ingressar num novo ciclo de crescimento sustentado. Porém, precisa parar de fazer gols contra! Necessitamos de um projeto viável de País, de médio e longo prazo, mas que comece, de modo urgente, com a remoção dos obstáculos à produção aqui citados. Se continuarmos patinando nos mesmos problemas, seguiremos amargando derrotas na economia mundial.
(*) – É presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) e do Sindicato da Indústria de Material Plástico do Estado (Sindiplast-SP). É vice-presidente da Fiesp e diretor de seu Departamento de Competitividade e Tecnologia.