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Mundo interior num universo virtual

em Opinião
segunda-feira, 25 de abril de 2016

Jacqueline da Silva Souza e Breno Rosostolato (*)

O celular é uma das invenções mais incríveis, porque diminui distâncias, facilita a vida e economiza tempo, dificilmente alguém não o tenha.

Além disso, traz uma variedade de coisas como: jogos, entretenimentos; é um “computador ambulante”, pois possibilita fazer conferências, vídeos, “selfies”, pagamentos de contas etc. A princípio, quando foi criado, o intuito era o da comunicação entre as pessoas sem precisar se dirigir a um orelhão ou ter um telefone fixo e obviamente ganhar tempo.

Se reportarmos ao tempo em que não tínhamos tal aparelho, certamente, lembrar-nos-emos das amizades feitas em “conduções” – transportes públicos –, no caso, todas as manhãs adentrávamos no ônibus, metrô ou trem e víamos as mesmas pessoas e daí passávamos a ter uma grande afinidade… conversávamos mais… até fazíamos festa com direito a bolo e salgados… Hoje cada um está fechado em seu mundo virtual, digitando sem parar, “zapeando” ou em outras redes sociais.

Tem-se relatos de atropelamentos e acidentes provocados por distrações causadas pelo “aparelhinho” de quem está ao volante e/ou o pedestre que está desatento também “teclando”. Parece um vício, uma “droga” que nos vicia diariamente, afinal não se pode viver sem estar conectado e quem foge à regra é chamado de “E.T”.

Num jantar entre casais ou amigos, muitas vezes, as pessoas se encontram em suas “realidades virtuais”, como se estivessem presas em uma redoma. Tiram fotos e já as postam, conversam sem se olharem verdadeiramente. A vaidade de postar e ter sua vida exposta na internet, nas redes sociais, também é um fator que deve ser considerado, afinal, o prazer por trás do comportamento quase compulsivo é um fator preponderante. Fazer parte de um grupo, ser aceito e ser popular, ao mesmo tempo em que traz a sensação de pertencimento, minimiza o sentimento de solidão.

Em sala de aula, o celular vem afetando o aprendizado dos alunos que sempre dão um jeito de “teclar” às escondidas e há aqueles que fazem isso às claras, não se importando com aquele que explana a matéria. Também há a seguinte situação: “´prô’, posso ouvir música enquanto faço a lição?”, antes perguntavam se era para copiar… Outro caso interessante, ao esquecê-lo em casa ou qualquer outro lugar entramos em pânico, voltamos a casa para buscá-lo, porque alguém pode “ligar”. Tem até nome específico para o problema, considerado como uma patologia da sociedade contemporânea, Nomofobia – “No Mobile” (Sem celular) e Fobia (medo).

O uso exagerado do celular – e a dependência dele – pode denunciar a incapacidade da pessoa em lidar com a solidão e vê o celular como uma companhia, bem como pode ser motivada por fatores emocionais ou traumas.
Sem contar algo terrível que ocorreu alguns meses atrás, o marido assassinou a esposa por suspeitar que ela estivesse tendo um caso, por ficar muito tempo digitando com “alguém”. Assaltos sucessivos por acreditarem que sempre levarão um celular de última geração, não só tiram o bem material como a vida da pessoa, para que não possa comprar outro.

Agora tudo se resume em tirar “selfie”, até em velórios, o discernimento e o bom senso acabaram, imaginem, tirar selfie com o morto! Em uma sociedade em que a imagem vale mais do que mil palavras, enaltece-se a vaidade. Prefere-se “likes” a pessoas. Não sou alheia ao uso do celular, gosto dos “atrativos” que traz e que me faz ficar distraída, consigo me comunicar com diversas pessoas, como todo mundo. Prezo apenas pelo bom uso, com os devidos cuidados.

Os adolescentes são reféns de uma sociedade imediatista, que defende a ideia de padrões de beleza e status. Uma sociedade que enaltece a popularidade dos iguais enquanto segrega e aniquila as diferenças. Deve-se ter um cuidado especial aos filhos e adolescentes, para que não caiam em armadilhas de pedófilos ou sequestradores. O que seria algo para diminuir distâncias, poupar tempo, “matar” saudade, acabou afastando muitas relações, devido ao uso indevido e desregrado, fazendo com que nos fechemos em “nossos mundos interiores num universo virtual”, não percebendo que o outro se faz presente em nossas vidas fisicamente e não lhe damos atenção, e se brincar ainda passamos um “zap” para o companheiro que está sentado à mesa conosco.

Ter celular parece até sinal de inclusão social e não é. Inclusão social são as pessoas terem acesso a tecnologias e aí me refiro não só a internet, mas a hospitais bem equipados e que possam oferecer um serviço moderno, ágil e acolhedor. Escolas que recebam alunos e deem boas condições à educação, materiais adequados e uma alimentação digna e que sustente as crianças e os adolescentes. Inclusão é disponibilizar espaços públicos para que todos possam transitar e se divertir. Opções de parques e áreas de lazer. O celular deveria ser um instrumento a mais para facilitar a comunicação entre as pessoas e não símbolo de status.

Reflitamos sobre até que ponto estamos conectados com a realidade. Será que vivemos virtualmente para escondermos que não somos quem desejamos?

Por fim, celular, usemos com moderação e sabedoria!

(*) – São professores da Faculdade Santa Marcelina (FASM).