Sofia Gancedo (*)
Há, no Brasil, uma grande parcela de investidores conservadores, que preferem opções com o menor risco possível.
E a expressão “guardar o dinheiro embaixo do colchão”, muitas vezes, é a prioridade – sendo ou não uma simbologia. Um dos principais projetos de quem poupa é a compra da sonhada casa própria. E, quem busca uma boa rentabilidade, pode recorrer aos fundos imobiliários ou à aquisição de imóveis para diversificar sua carteira. Os tempos mudam e com eles também os costumes. Manter os recursos embaixo do colchão não é considerado um bom caminho.
Será que vale a pena apostar em uma moeda como o dólar, por exemplo? É importante lembrar que o Brasil é o local em que o dólar mais perdeu valor em 2022, de acordo com levantamento da Economática, que compara moedas de 25 países, entre emergentes e desenvolvidos. Desde o começo do ano, até maio, o dólar teve desvalorização de 14,77%. Portanto, em termos de investimento a médio prazo, acumular dólares hoje equivale a perder dinheiro.
O cenário mundial não é animador. Enfrentamos uma guerra, sem indicação para término animadora no horizonte, que faz disparar o preço do petróleo. Em outras palavras, embora o dólar continue sendo a moeda mais forte do mundo, o quadro global pede cautela.
A isso devemos acrescentar um fator-chave: a inflação, que nos últimos anos parecia ser um problema quase exclusivamente brasileiro e de países com economias mais vulneráveis, hoje se estende a boa parte do planeta como consequência dos pacotes de estímulo e da alta emissão de governos no curso da pandemia.
Em maio, por exemplo, os preços subiram 8,1% na zona do euro, superando pela primeira vez um aumento anual de oito pontos percentuais, desde que o Eurostat, gabinete europeu de estatísticas, começou a fazer seus registros. Sem falar na alta dos juros promovida pelos Estados Unidos, para conter a inflação – um alerta para a recessão, que preocupa o mundo todo.
Voltando ao dólar: a moeda norte-americana até pode ser considerada um bom refúgio, se precisarmos de capital de curto prazo. Mas o que acontece se quisermos fazer esse dinheiro render ao longo do tempo? Nesse caso, o desafio não será apenas vencer a inflação local, mas também a depreciação das moedas internacionais.
Convém, então, pensar em ativos que ganhem valor ao longo dos anos, acima do ritmo inflacionário, que funcionem em macroeconomias estáveis e no quadro de regulamentações claras; mercados-alvo que suportem flutuações temporárias – pandemia, guerra, inflação, entre outros – e que ofereçam ao investidor um retorno moderado, seguro e, se possível, diversificado, o que se consegue ao longo de longos ciclos econômicos (aproximadamente cinco anos).
Investir em imóveis tem se mostrado uma proteção contra a inflação porque sua valorização aumenta ao longo dos anos, principalmente nos países desenvolvidos.
Especialistas sempre apontam a liquidez – ou a falta dela – quando se fala em investimento em imóveis. Para os momentos de incerteza, o indicado é ter a reserva de emergência à mão.
Por outro lado, se o objetivo é gerar um resguardo para uma aposentadoria de longo prazo, a rentabilidade deve ser a prioridade. O risco é outro ponto importante. Quem oferece um retorno mensal de 30% sobre um investimento também deve explicar os grandes riscos que essa operação acarreta.
Encontrar opções que minimizem o risco e gerem retornos aceitáveis pode ser mais difícil do que em outras latitudes, mas as atuais ferramentas digitais abrem mais opções, com alternativas transparentes e confiáveis, que também são fáceis de operar a partir de um smartphone. O investidor está mais empoderado e com um leque de possibilidades maior, e isso já é digno de comemorar.
(*) – Formada em Administração de Empresas pela Universidade de San Andrés, mestre em Economia pela Eseade, e prêmio Globant Awards – Women that Build, é co-fundadora e COO da Bricksave.