Fernando Castro (*)
Mesmo que às vezes a inovação pareça um modismo e que as empresas entendam que precisam falar dela a qualquer custo, na prática, o tema vai muito além disso.
Inovar é gerar soluções para os problemas existentes ou que emergem de novos hábitos a partir da combinação de dois fatores: repertório e processos. Independentemente do mercado em que a empresa atua, ter uma cultura de inovação é determinante para que ela continue relevante e persista ao longo do tempo.
Mas pavimentar o caminho para a inovação não significa contratar uma pessoa ou passar essa responsabilidade para uma área específica. Para que essa necessidade de inovar se torne um pilar na organização é preciso construir uma cultura que estimule as pessoas e forneça as bases para que elas contribuam de fato. E isso não vale apenas para a grande empresa, mas para negócios de todos os perfis, segmentos e tamanhos.
Uma das bases para essa cultura de inovação é o repertório, que pode ser adquirido imergindo no setor em que se atua, em outros segmentos, áreas e também observando tendências, comportamentos e mudanças no ambiente. Manter o olhar atento e curioso para o mundo amplia o repertório e ajuda a entender e decodificar mensagens que até então não pareciam ter relação direta com o seu negócio – mas têm -, e que com o tempo podem trazer grande impacto.
A transformação dos últimos anos provocada pela entrada de empresas como Uber e Airbnb, por exemplo, afetou vários outros setores, não somente os mais ligados à mobilidade urbana e à hotelaria, e representou uma mudança bastante significativa de hábitos. Quem olhou para esse novo comportamento cedo e entendeu o que ele representava, conseguiu se antecipar e ter mais sucesso na adaptação das suas estratégias.
A própria pandemia, que ainda estamos vivendo, causou mudanças profundas que afetaram todos os mercados. E novamente quem entendeu mais rápido esses impactos e criou mecanismos para dar conta das novas demandas que emergiram manteve-se mais relevante e mais presente na vida do cliente.
Embora a busca por ampliar o repertório para a inovação seja uma tarefa individual, também é papel das organizações prover conteúdos e ferramentas para que as suas equipes estejam sempre conectadas com as mudanças no mundo e sejam capazes de inovar. E é aí que entra o segundo pilar que pode guiar o caminho para uma cultura inovadora: os processos. Afinal, não adianta ter repertório suficiente para ler as mensagens se faltar ferramentas para agrupar isso tudo e gerar insights.
Os processos são as combinações e os métodos, os sistemas e os programas internos das organizações que vão assegurar que a inovação possa acontecer. Ninguém acorda de manhã e simplesmente inova. É imprescindível ter ferramentas que orientem e organizem o processo de inovação, o que ajuda a empoderar as pessoas, gerando um círculo virtuoso que cria as condições favoráveis para as transformações acontecerem.
E o mais importante: com repertório e processos estabelecidos, é hora de olhar para dentro para garantir que a essência do negócio estará mantida. Esse, aliás, é um exercício que preserva o propósito e ao mesmo tempo estimula a empresa a inovar, partindo sempre do mesmo questionamento: “qual é o problema que de fato a minha empresa resolve e qual a melhor forma de fazer isso hoje?”.
Quando olhamos para as empresas que alcançaram relevância nos últimos tempos vemos que elas não “reinventaram a roda”, mas tiveram grande habilidade para voltar à origem do problema que se propuseram a resolver na sua essência e criaram novas soluções.
Logo, inovar também passa por não se opor à natureza da empresa, à sua história e seu legado. Isso tudo é repertório para se antecipar às tendências, e isso faz com que organizações que já trilharam certa trajetória tenham uma chance extra de aplicar todo o conhecimento adquirido para transformá-lo em ideias, produtos, serviços.
No final do dia, o caminho tão necessário para a inovação acontecer passa por encarar isso tudo como parte dos seus valores, da real contribuição do seu negócio para a sociedade. Quando a sua essência encontra repertório e processos, inovar não é mais um esforço, mas sim o seu dia a dia e de todos os que dele fazem parte.
(*) – É Chief Technology and Product Officer e responsável pelas áreas de Tecnologia, Produtos e Marketing do Agibank.