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Empresários e empreendedores são diferentes?

em Opinião
sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Estatísticas norte americanas da década de 80 já mostravam que mais de 50% dos alunos que se diplomavam nos cursos de mestrado em Administração de Empresas, saiam de suas classes para empreender ou seja, montar seus próprios negócios. O ambiente naquela época para o empreendedorismo já era propício. Financiamentos governamentais a fundo perdido eram concedidos mediante a apresentação de projetos de viabilidade econômico-financeira consistentes.

Universidades davam o suporte acadêmico necessário. Alguns punham a mão no bolso para arriscar seu próprio dinheiro numa nova empreitada. Outra característica era que muitos destes jovens já iniciavam seus negócios implantando uma governança corporativa, ou seja, formavam já no início um pequeno Conselho Consultivo. Amigos, acadêmicos ou especialistas eram chamados para formar o novo grêmio com o objetivo de atuar como consultores e guardiães do novo negócio que surgiria.

Traçando um paralelo com o nosso país, assistimos que a maioria dos formandos em Administração buscavam e até hoje buscam se empregar em grandes empresas, de preferencia multinacionais ou estatais, e no próprio governo. A cultura do empreendedorismo não é amparada academicamente na grade curricular das universidades e os jovens, mesmo tendo a veia empreendedora têm receio e até aversão em montar os seus próprios negócios. Como consequência vemos que muitos negócios foram montados por pessoas com pouca ou nenhuma formação acadêmica.

A revolução 4.0 entretanto está mudando esse panorama. Cada vez um número maior de jovens, com formação técnica e acadêmica está se lançando no empreendedorismo atraídos principalmente pela evolução tecnológica, possibilidade de extravasar sua criatividade e desafiar o ” status quo ” das coisas. O aparecimento das tantas startups é o sinal disso.

Olhando para a gestão de uma empresa, seja ela tradicional ou 4.0, observamos que raras vezes existe o equilíbrio entre o empreender e o administrar. Em geral, e o que é natural, uma pessoa com perfil de empreendedor vai se lançar e arriscar em seu novo negócio. Ela tem ideias sobre produtos, novos negócios, mercados e assim por diante. Quer ver suas ideias frutificarem em lucros e altos volumes de vendas.
Por contra, deixam totalmente a parte organizacional e administrativa, ou seja a gestão do negócio em segundo plano.

Muitas empresas com excelentes ideias e produtos quebram após um certo tempo de vida pela falta de uma administração consistente. Muitas startups são amparadas em suas fase inicial pelos investidores anjos que ajudam e dão a devida orientação na administração dos negócios. Pessoas com perfil empresarial vão de preferencia se empregar a abrir seus próprios negócios.

Seja no Brasil, nos Estados Unidos ou em qualquer parte do mundo, sempre teremos pessoas com o perfil tendendo a assumir o papel de empresários, ou seja Administradores, e outros com vocação para o empreendedorismo. O importante é saber dosar estes perfis nos negócios. Observamos que, em geral, as empresas de sucesso, longevas e que conseguiram crescer de forma saudável sempre contaram com uma boa dupla de gestores: o administrador e o empreendedor.

Quantas empresas familiares, que tiveram ou têm sucesso não se enquadram nesta situação? Por exemplo: dois irmãos, amigos ou primos iniciam um negócio. Um deles é o administrador (empresário) e o outro o empreendedor. Se ambos tivessem o mesmo perfil a empresa não progrediria, sucumbindo a brigas e disputas pela liderança e predomínio de ideias.

Ao se pensar na sucessão da gestão no contexto de uma empresa familiar, o eventual sucessor precisará ser muito bem observado. Muitas famílias cometem graves erros ao colocar filhos com veia de empresários para assumirem funções de empreendedores. O inverso também é verdadeiro, colocando herdeiros com viés de administradores em funções de empreendedorismo.

O que também observamos com certa frequência é quando pais e filhos têm a mesma veia empreendedora. Os conflitos e embates surgem desde o início. Se o pai não abre o devido espaço para o filho existe pouco campo para uma coexistência pacífica e o risco do negócio familiar sofrer muito. Ambos os papéis são de muita importância.

A arte é encontrar as pessoas corretas e criar um ambiente onde empresários e empreendedores possam conviver e trabalhar em paz e harmonia.

(*) – É fundador da Thomas Lanz Consultores Associados, empresa especializada em governança corporativa, gestão de empresas médias e grandes no Brasil.