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Em terra sem emprego para jovens quem estende a mão é rei!

em Opinião
terça-feira, 16 de março de 2021

Kelly Lopes (*)

A paralisação da economia causada pela pandemia afetou principalmente os jovens, segundo os dados divulgados pelo IBGE.

Apontam que jovens entre 14 e 24 anos representam 6,8 milhões do total dos mais de 14 milhões de desempregados atualmente no país. Cerca de 1 em cada 4 do grupo economicamente ativo nesta faixa está sem trabalho. O desemprego se alastrou por todas as faixas etárias, mas de forma mais acelerada para quem tem essa idade e quer trabalhar.

Um outro levantamento divulgado no fim do ano passado pela consultoria IDados apontou que mais de dois terços dos jovens (77,4%) têm emprego considerado de baixa qualidade. De cada dez trabalhadores com até 24 anos de idade, quase oito trabalham em situação vulnerável, o que representa cerca de 7,7 milhões de pessoas. As perspectivas para esse jovem ainda ficam mais nebulosas nesse cenário de pandemia que intensificou os efeitos da maior crise política, econômica e sanitária que o país já viveu.

Não à toa, o Brasil é o sétimo país do mundo com maior desigualdade social, ficando atrás apenas de nações do continente africano, como África do Sul, Namíbia, Zâmbia, República Centro-Africana, Lesoto e Moçambique. O quadro ainda fica mais alarmante com o encerramento do auxílio emergencial que vai provocar o aumento de pessoas em busca de emprego. Frente a esse cenário, quais serão as expectativas e as oportunidades que esses jovens podem esperar? Em especial aqueles que tiveram um ensino de baixa qualidade?

É nessa hora que precisaremos conhecer a intenção verdadeira das empresas que exemplarmente se voluntariaram para colaborar com respiradores e insumos médicos, dinheiro e alimentos para a população na pandemia. É nessa hora que os ‘pulmões da responsabilidade social’ deverão mostrar trabalho, já que o desemprego entre jovens respira por aparelhos numa pandemia que já dura há décadas.

É preciso sair da bolha para olhar e entender quem de fato é minoria no mercado de trabalho. Os que têm acesso a bons empregados e usufruem de bons salários e formação adequada, esses não são a maioria. Porém, está mais que na hora de empresas e empresários devolver os frutos da sorte a sociedade que precisa de apoio.

Enquanto todos parecem sonhar com um mundo onde as pessoas estendem a mão umas às outras, as empresas e suas pessoas se esquecem de que formar e incentivar os jovens para o primeiro emprego significa diminuir a violência, desenvolver os novos talentos que, no futuro bem próximos, serão os idealizadores das próximas inovações que o mundo aguarda e as próprias empresas vão precisar.

Passou a hora de tirar do papel o compromisso de apoiar o emprego dos jovens de forma séria e estruturada, atrelado às metas que são sempre muito mais financeiras do que sociais. É preciso se envolver, por meio de suas pessoas, em de fato ajudar na formação e no início profissional do público mais atingido pelo desemprego. Ao invés disso, cada vez mais assistimos ao massacre dos jovens que tentam o primeiro emprego, mas que se deparam com exigências curriculares que beiram os níveis gerenciais de qualificação impossível de serem atingidas para a maior parte dessa população.

Como é possível inspirar um jovem para o mercado de trabalho nos dias de hoje? Talvez começando pelo modo mais sensível, enxergando suas dificuldades e atuando com a experiência profissional de cada colaborador de uma empresa para amenizá-las. É transferir conhecimento. É praticar a empatia na sua essência mais pura.
Uma ferramenta potente para atuar na transformação de vidas é a mentoria.

Cada vez mais é preciso encorajar as empresas a se aproximarem das Organizações Sociais com o objetivo de promover mentorias entre seus profissionais e os jovens assistidos em projetos de formação profissional. Assim, é possível impactar o maior número de jovens, de forma estruturada. É um processo inesquecível para quem participa e que auxilia o jovem a desenhar sua carreira a partir das experiências reais desses profissionais.

Além disso, uma ação voluntária resultados positivo práticos como o engajamento dos colaboradores com a causa e a valorização da empresa por agirem de forma socialmente responsável. É preciso uma “força tarefa” para que juntos, empresas e organizações sociais, possam “adotar” o maior número possível de jovens em início de carreira e mostrar a eles um mundo de oportunidades profissionais dignas que os ajudem a desviar do desalento, do desemprego, da angústia, da miséria, da fome e do crime.

Incentivar o jovem no seu primeiro passo profissional é investir em uma sociedade melhor, com mais oportunidades e menos desigualdades e violência. É ser transformador de vidas e motivador de talentos. É contribuir da melhor forma com a história de vida de uma jovem em formação, atuando como divisor de águas na vida dele e ainda mais na sua própria vida!

(*) – Pós-graduada em TI, especialista em gestão para o Terceiro Setor, MBA em Gestão Empresarial pela FGV e MBA em Gestão de RH Estratégico, é empreendedora social e superintendente do Instituto da Oportunidade Social (https://ios.org.br/).