Hubert Gebara (*)
A escassez de água provocada pela crise hídrica está gerando aumento dos casos de dengue e os condomínios terão de se precaver em mais uma frente de luta
Síndicos devem ficar atentos, pois o mosquito da dengue pode ser um perigoso intruso. Todos os moradores e o quadro completo de funcionários devem ser instruídos e ficarem espertos em relação ao novo perigo que a crise hídrica nos trouxe com a necessidade de armazenamento de água. Cerca de 80% dos criadouros do mosquito da dengue estão no interior de residências, em recipientes com água parada como pneus, garrafas, vasos de plantas, caixas d’água destampadas e calhas.
Condomínios podem ser considerados áreas de risco como qualquer outra residência. No playground, por exemplo, estão os pneus já notórios criadouros do mosquito Aedes Aegypti. O fosso do elevador é outro ponto que precisa ser vigiado. Por esta área escura e muito pouco lembrada, o vetor atingir os apartamentos. Isso pode ocorrer mesmo nos andares mais altos. Nos apartamentos estão outros criadouros: vasos de plantas, e vasilhas de água para animais de estimação. Água limpa e estagnada é tentação para o mosquito colocar seus ovos e estes podem eclodir em prazo de até um ano e meio.
O síndico deve tomar providências destinadas às áreas comuns do edifício: manter piscinas sempre com cloro e na quantidade de água adequada; colocar cloro ou sal de cozinha nos ralos, principalmente da garagem, locais escuros e aprazíveis ao mosquito; evitar acúmulo de água em tambores e sobre guaritas com laje sem caída.
As crises nunca estão sozinhas. Nossa ansiedade pela água pode incorrer também em nosso descuido na hora de armazenar o que podemos aproveitar das chuvas. Casos de dengue nos condomínios podem, por sua vez, ser motivo de pânico entre os moradores e toda a comunidade. Mais uma vez é hora dos síndicos mostrarem seu valor. O alerta com as dicas de prevenção da doença deve ser colocado em áreas de fácil leitura, como elevadores e no próprio hall. Como sempre, temos de pensar em tudo.
As águas de final de verão foram pródigas e não podemos reclamar. Nossos pedidos a São Pedro fizeram melhorar a situação dos mananciais e a vida continua. Para as empresas responsáveis pelo abastecimento há entretanto um longo caminho a ser percorrido. Se, de fato, estamos aprendendo a lição da seca, vamos vigiar melhor o que se passa longe de nossos olhos, na tubulação e na rede subterrânea onde o desleixo provoca grandes perdas e as fraudes ajudam a piorar a situação.
Contra a crise hídrica e o mosquito da dengue, quais serão as nossas novas armas? Não é para ficarmos apenas armazenando e protegendo a água. Nas duas frentes uma nova guerra está no horizonte. Segundo especialistas, repelentes químicos são mais potentes do que os naturais, à base de extratos de plantas como citronela e eucalipto.
Não podemos introduzir um predador do Aedes Aegypti no ambiente onde ele normalmente circula, principalmente de dia após grandes chuvas. Essa alternativa é de alto risco porque o predador pode ser fatal para outras espécies. As lagartixas domésticas são grandes predadoras de mosquitos e de outros pequenos insetos. Atacam até mesmo baratas muito maiores do que elas. A questão é não proliferam a ponto de oferecer perigo.
O caminho é mesmo – mais uma vez – o da vigilância. Vigiar também, claro, os eventuais primeiros sintomas que alguém, criança ou adulto, apresentar. Mas é bom saber que a picada do mosquito – a fêmea é que pica – só é maligna pelo vetor, aquela que estiver contaminada. Não é portanto qualquer picada que dissemina a dengue.
(*) – É vice-presidente de Administração Imobiliária e Condomínios do Secovi-SP e diretor do Grupo Hubert.