Mario Enzio (*)
Você é do tipo que sabe o que está ocorrendo no país nesse momento? Ou está apenas cuidando do que lhe interessa?
Somos seres que se preocupam com uma série de assuntos durante o dia. Se a comida do restaurante estava boa, se havia variedade de opções na hora de fazer seu prato, por exemplo. Se o empregado chegou no horário, se o pedido foi entregue, se a impressão saiu do jeito que você queria, se a edição do jornal não saiu com erros de diagramação. Estamos sempre zelando por alguma coisa.
Não importa o quê, há sempre algo que exige nossa atenção. Vai atravessar a rua? Terá que olhar para os lados. Sim, porque pode ser que um desavisado ainda esteja trafegando pela contramão. Está parado no ponto, se olhar para ver alguma mensagem no celular, pode ser que perca seu ônibus ou desça na estação errada. Há sempre um ponto de convergência que pode alterar seus planos, rotinas ou o bolso. Enfim, sua vida. Quer continuar analisando, vamos lá.
Deixou a luz acessa, vai pagar mais na conta. Não avisou que ia chegar tarde, a porta ficou trancada e teve que se arranjar para dormir. Podemos fazer uma série de coisas no chamado ‘piloto automático’. Aquela situação em que ao pedirmos para a pessoa repetir em palavras o que fez, ela não conseguirá se lembrar. Por quê? Porque está em puro estado de distração mental.
Grande parte das pessoas nas grandes cidades, – hoje eu já diria que até nas pequenas cidades, estão vivendo sob um estado de tensão e estresse operacional. Estamos pré-ocupados com coisas que não têm muito a ver e com outras menos ainda. E, por vezes, com essa enxurrada de situações acabamos nos esquecendo do que é essencial, do que é necessário e do que é, relativamente, importante. Ou seja, se distraem com a própria distração. Por quê? Pelo volume de dados e informações que somos bombardeados.
A razão da distração é o excesso. E com isso acabamos sendo vítimas da nossa própria vontade de querer saber de tudo e nos esquecemos de selecionar o que é útil e que realmente vai nos ajudar a sermos mais equilibrados e felizes. Então a distração é uma válvula de escape e ser distraído é quase que uma forma de querer se voltar para dentro de si.
Ainda, pergunto: sabe o que ocorre no país nesse momento? Está acompanhando as notícias? Consegue acompanhar sem que esteja sendo bombardeado por opiniões e ainda não consegue ter a sua própria? Ou se alguém lhe perguntar algo vai dizer apenas o que conseguiu ouvir no jornal dessa manhã?
Ser distraído têm níveis que podem preocupar e exigem até tratamento, mas pode ser um leve sintoma de desinteresse ou alienação. Mas, muito pior é quando nos sentimos manipulados e não sabemos ou não conseguimos diferenciar o que nos desorienta e nos confunde do é coerente e com propósito. Parece que queremos ficar distraídos.
Seriam felizes os que podem se desligar do mundo voluntariamente sem se preocupar com o que ocorre à sua volta?
(*) – Escritor, Mestre em Direitos Humanos e Doutorando em Direito e Ciências Sociais. Site (www.marioenzio.com.br).