Tom Canabarro (*)
O cartão de crédito é o meio de pagamento preferido do consumidor na internet, sendo utilizado em mais de 70% das compras on-line no Brasil.
Este meio de pagamento possui duas enormes vantagens para o consumidor: a aprovação do pagamento é imediata, sem precisar esperar dias úteis pela compensação do boleto, e ainda permite o parcelamento do pagamento. Apesar de muito conhecido e utilizado, esse meio de pagamento ainda esconde alguns segredos. Por isso, decidi listar abaixo os mais comuns que a maioria dos consumidores desconhece:
1. O seu nome não conta: Sabe quando o site pede o nome do portador do cartão? Pois é, esta informação não vale nada. Ela não é conferida. Algumas lojas checam se o nome do destinatário do pacote e do portador são iguais, mas não vão além disso. Não existe no Brasil e nem em muitos outros países uma verificação automática capaz de dizer quem é o dono do cartão. Já vi diversas vezes compras cujo portador do cartão possui nomes de celebridades e o pagamento foi aprovado. Mas não recomendo que isso seja feito, pois, caso a loja resolva fazer uma validação, seu pedido ficará parado na fila de análise e o produto pode não ser enviado.
2. O seu CPF também não conta: Assim como o nome, o CPF digitado no checkout não é usado para fins de identificação do dono do cartão. Seu uso tem outras utilidades, como emissão da nota fiscal e análise de crédito, capazes de determinar a quem aquele documento pertence. Nenhuma análise é capaz de garantir que um cartão pertence a um CPF. Como se poderia fazer tal validação? Apenas os bancos emissores do cartão sabem a quem ele pertence, mas por diversas razões (como custo, complexidade e segurança) esta informação não pode ser consultada.
3. O seu endereço de fatura vale um pouquinho: Finalmente, algo é validado – ou quase. Existe um sistema chamado AVS (Address Verification System, ou Sistema de Verificação de Endereço) capaz de conferir se o endereço da fatura digitado no site é igual àquele cadastrado no banco. Nos EUA, esse sistema funciona muito bem e é por isso que os sites americanos solicitam essa informação.
No Brasil as coisas não são tão fáceis. O principal problema é validar as diferentes formas de como abreviamos os nomes de ruas e avenidas. Por exemplo, você informa ao site que mora na Av. Nossa Senhora de Copacabana, mas no registro do banco está Avenida N. S. de Copacabana. Isso já é suficiente para o sistema não entender que se trata do mesmo endereço. Quando os detalhes de complementos são fornecidos (como Casa 2, Bloco C, ap 33; por exemplo), a comparação fica ainda mais difícil. Por isso, apesar de termos AVS no Brasil, ele só é parcialmente eficaz quando validamos o CEP.
4. A loja pode segurar o limite do seu cartão por vários dias: Uma venda com cartão possui duas etapas: a autorização e a captura. Na autorização, os dados do cartão são validados, e aquele dinheiro fica reservado para a loja. O portador, no entanto, ainda não é cobrado. Somente na segunda etapa, a captura, é que a loja confirma a cobrança. Neste momento, o valor aparece na fatura do dono do cartão.
Esse intervalo depende de quanto tempo a loja precisa para confirmar um pedido (um assento no avião, a vaga no hotel, o produto no estoque, entre outros). Algumas vezes, pode-se levar dias entre estas etapas. Se por acaso a loja não conseguir entregar o produto ou serviço, ela simplesmente não executa a etapa de captura, e o limite do cartão é liberado. Essa atitude é muito importante, pois, se algo errado acontecer entre o momento da compra e a entrega do produto, a transação não aparecerá no extrato do cartão, evitando os processos de reembolso.
Uma curiosidade: alguns bancos notificam o dono do cartão, por SMS, sobre valores cobrados. A mensagem é enviada na etapa de autorização, o que causa problemas quando a loja decide não efetuar a captura. O cliente recebe um comunicado da loja informando que a venda foi cancelada, mas o SMS do banco diz que ele foi cobrado.
5. O cartão é o meio mais seguro para comprar pela internet: Sim, seu cartão pode ser roubado, clonado e usado para fraudes. Mas não é do cliente a culpa se o site não é legítimo ou se o e-commerce não soube se proteger de ataques de hackers. Você está protegido, por contrato, contra cobranças indevidas. Se seu cartão foi usado em uma fraude, é preciso ligar no banco e solicitar o estorno da cobrança. Por outro lado, se você pagou um boleto de uma loja fantasma, não há como pedir o dinheiro de volta a não ser por meio da Justiça – um processo bem mais lento do que uma ligação para o banco.
(* ) – É co-fundador da Konduto, primeiro antifraude do mundo a acrescentar o comportamento de navegação e compra à análise de risco de compras on-line. A startup brasileira já processa mais de 3 milhões de pedidos por mês, de mais de 100 clientes.