Marcos Guglielmi (*)
Tomar crédito com bancos e financeiras é uma prática recorrente em muitas empresas. Os motivos podem ser variados, como investir em novos equipamentos ou na expansão da empresa.
Entretanto, 90% das vezes essa medida é tomada para tirar as contas do vermelho em tempos difíceis. De acordo com o Serasa, a demanda das empresas por crédito cresceu 5,1% de dezembro de 2017 para janeiro de 2018. Se comparado somente janeiro, nos dois anos, o avanço foi ainda maior, 11,9%. A alta vem das necessidades das micro e pequenas empresas, já que as médias e grandes apresentaram queda na busca por crédito.
Apesar disso, há de se considerar diversos fatores antes de se requisitar o crédito. Isso porque o que deveria ser uma solução, pode é ampliar o problema. O primeiro passo é analisar alguns relatórios financeiros chave. É preciso saber onde estão os problemas de fluxo de caixa para que outras medidas possam ser tomadas antes da contratação do crédito, impedindo que essa ação seja meramente paliativa, ou se for, que seja pelo menor tempo possível.
O empresário precisa analisar relatórios como o fluxo de caixa, o demonstrativo de resultados e o balanço da empresa. Infelizmente, há empresas que nem possuem esses documentos, e para elas o primeiro passo é organizá-los. Há também aquelas que possuem os documentos, mas não os utilizam ativamente – ou não se preocupam tanto em entender por completo o que cada informação significa.
É preciso saber o que é um ativo e um passivo dentro do negócio. Conhecer o caminho do dinheiro que entra e que sai. Muitas vezes, existem saídas e entradas que o empresário não se preocupou em colocar na documentação. Isso faz com que relatórios de resultados fiquem incompletos. Um exemplo comum é quando o empresário não faz distinção entre seu pró-labore e a retirada de lucro. Empresas familiares sofrem muito com isso. Na maioria das vezes, a conta bancária, pessoal e empresarial, é a mesma.
O pró-labore é uma despesa da empresa. É o salário do proprietário, o mesmo que ele pagaria para outro profissional ficar em seu lugar. Já a retirada de lucro é o que resta após todas as despesas – incluindo o pró-labore. Ele pode retirar algo daqui? Sim, claro, mas esse não é seu salário, ele não ganha mais ou menos de acordo com o lucro da empresa. A empresa também tem necessidades a serem atendidas pelo lucro, inclusive investimentos e emergências.
Outro aspecto importante é saber a diferença entre faturar, vender e receber. Muitas empresas não analisam isso e acabam não sabendo qual a diferença entre vender e receber, se um valor acompanha exatamente o outro, e em quanto tempo. Isso é crucial para tomada de decisão de solicitar, ou não, crédito. Ainda deve-se entender muito bem qual a margem de contribuição que a venda está proporcionando para a empresa.
Esta margem é um dos principais fatores do acumulo, ou falta de caixa, que na final influencia na decisão de tomar crédito ou não. Se o empresário não souber sua margem de contribuição, não saberá praticamente nada para gestão financeira do negócio. Infelizmente há uma enorme confusão entre conceitos de margem, assim é necessário aprender corretamente qual, e como, aplicar. Mas, será que mesmo tomando esses cuidados, ainda é preciso contratar o crédito empresarial?
Urgências existem, e é preciso lidar com elas, então, se esse é o seu caso, é preciso analisar as melhores opções. Alternativas como investir capital próprio, de maneira organizada, a juros baixos é uma boa opção. Trazer um investidor de fora pode ser outra. Existem, também, linhas de fomento, como o crédito do BNDES. De toda forma, é preciso estar bem alinhado com a relação entre prazo e taxa de juros para que se faça um bom negócio.
Cheque especial e cartão de crédito são sempre as piores opções. Os juros são muito altos. Isso parece obvio, mas conheço muitos empresários que por falta de análise e planejamento pagam juros muito caros. Se você tiver mesmo que recorrer a um banco, busque um crédito empresarial com juros mais baixos, ou fixos, produtos que nem sempre estão à vista, mas o contador e o gerente podem te informar a respeito. Esse passo precisa ser bem planejado. Leia muito bem o contrato e certifique-se da relação entre prazo e taxa de juros.
Se não houver saída a não ser essa, que seja com o menor impacto para a empresa. Só assim o crédito será uma solução e não um problema.
(*) – É treinador de empresários e sócio fundador da ActionCOACH São Paulo (https://acsaopaulo.com.br/).