Carlos Dorlass (*) e Thiago Cachatori (**)
Estamos à beira de concluirmos mais um ano letivo marcado pelas sequelas da pandemia, como as regras de convivência social.
Diversos foram os desafios enfrentados ao longo de 2020 e 2021, sobretudo no campo da saúde pública e dos impactos financeiros, que foram devastadores para muitas famílias e para a economia do país, de modo geral. Diante dessas adversidades, a escola foi pega de surpresa, fazendo com que em poucos dias mudasse seu sistema presencial e entrasse em um processo nunca vivenciado pelos estudantes, famílias e professores.
Assim, como o processo de adaptação para o modelo remoto foi um grande desafio, o retorno ao modelo presencial, que ocorre definitivamente desde o mês de novembro, abre precedentes para novas discussões e adversidades. Os estudantes são os mesmos, mas os obstáculos são novos. Por conta do distanciamento social, os impactos relacionados à ética de relacionamento e à convivência em grupo acabaram se abalando, ao ponto de muitos jovens perderem alguns referenciais.
A própria noção do público e privado acabou por ser afetada, sobretudo pela ampliação do uso das redes sociais e dos dispositivos móveis. Se antes a separação entre escola, trabalho e casa era bastante evidente, agora a escola e o trabalho “entraram” em nossos lares, fazendo inclusive com que a relação que possuímos em casa e a forma com que nos relacionamos no trabalho acabe por afetar as relações com o mundo por detrás das câmeras.
Porém, neste momento de retorno presencial, é necessário resgatarmos as regras e etiquetas sociais que foram abaladas pela pandemia para que a convivência em sociedade possa ser harmoniosa e sobretudo respeitosa. A constituição do ser humano sempre se deu em parceria entre família, escola e sociedade.
Entretanto, ao longo destes quase dois anos, a escola e a sociedade participaram do processo de forma paralela, e as consequências estão sendo sentidas apenas agora, no período em que os estudantes retornaram ao modelo presencial.
O contato com algumas regras e desafios ocorrem de maneira conflituosa, sobretudo porque estavam sendo vivenciadas dentro de suas próprias casas e ditadas por sua família. Mas como resgatamos comportamentos que ficaram “esquecidos” ao longo deste período? Qual o papel da família diante disso?
É evidente que todos que foram envolvidos no processo de aulas remotas conquistaram novos aprendizados. Essa prática gerou uma nova experiência de relacionamento interpessoal na aprendizagem escolar, exigindo, por parte dos estudantes, maior autonomia, organização do tempo, do espaço e, portanto, maior gerenciamento de sua vida acadêmica.
E aos pais, uma reorganização de sua rotina, maior empatia e cooperação em partilhar seus equipamentos tecnológicos com os filhos e cônjuges. A volta às aulas presenciais está demandando dos profissionais da educação, direcionadores e orientações pontuais junto às famílias, sobre os comportamentos e atitudes esperados dos estudantes. É um caminho a ser construído por todos.
Nesse momento é necessária a presença ainda mais efetiva da família, que é quem está ao lado dos jovens, porém sempre amparadas e acompanhadas pela escola. A prática de esportes, atividades coletivas, práticas de escuta, terapia comportamental e presença significativa da família são excelentes ferramentas para amparar e reparar os reflexos trazidos pelo isolamento em um período de formação intelectual e social dos adolescentes.
Afinal de contas, a escola é imprescindível para humanização e os laços familiares colaboram para este processo, independente do contexto em que vivemos.
(*) – É diretor geral do Colégio Marista Arquidiocesano-SP; (**) – É coordenador do Ensino Médio do Colégio Marista Arquidiocesano-SP.