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As taxas de câmbio precisam mudar no Brasil

em Opinião
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Heber Cardoso (*)

Muitas vezes, celebramos conquistas pelas quais deveríamos ter vergonha.

Em pleno 2023, ainda comemoramos o início de obras de saneamento básico em muitas partes do país. Sem falar em saúde, educação, segurança e inúmeros problemas. Em mais de 500 anos de história, o Brasil deveria estar celebrando feitos maiores. O mesmo vale para o mercado financeiro. Ainda vejo promessas mirabolantes de instituições financeiras e fintechs que são celebradas por brasileiros, mas que são verdadeiros retrocessos.

Posso mencionar, por exemplo, o crédito 50% mais barato em um país onde se cobra 200% ao ano em alguns produtos. Tem também as instituições que falam em diversificar investimentos no exterior. Até pouco tempo atrás, o juro nos EUA era zero e essas empresas cobravam (e ainda cobram) 2% para levar seu dinheiro e 2% para trazê-lo de volta. Não precisa conhecer o investimento para saber que você está 4% para trás na largada por essa diversificação.

Isso ludibria os clientes que pensam estar diante de um custo atrativo, mas que, na realidade, seguem pagando valores acima do que é justo. É muito fácil ser uma empresa “disruptiva” e “inovadora” num cenário desses. E no mercado de câmbio não é diferente. Trabalho com câmbio há mais de 20 anos e digo com propriedade: fala-se muito em dar acesso ao mundo para o brasileiro cobrando, muitas vezes, até 10% de custo por transação. Isso não faz sentido.

Afinal, trata-se de uma operação sem risco de crédito e que liquida – ou deveria liquidar – instantaneamente. Ou seja, se os juros no crédito e nas operações para investimentos são abusivos, a taxa de câmbio é muito pior. É exatamente nesta indignação que o mercado de câmbio, com as tecnologias atuais, precisa se renovar, entregando alternativas melhores, com modelos de negócio que tragam taxas verdadeiramente justas para o brasileiro.

Aí você pode estar me perguntando: “ok, Heber, mas como?”. O segredo é um planejamento de negócio focado na desintermediação. Eu explico. Sou CEO do Braza, um grupo de empresas especializadas em soluções financeiras globais. A 16 anos atrás, quando tínhamos apenas nossa instituição de pagamentos na Inglaterra (a Braza UK), identificamos duas opções para o longo prazo:

  1. fechar parceria com um banco e remunerá-lo, entregando ao cliente final os custos típicos do mercado; ou
  2. montar um ecossistema sem intermediários que precisam ser remunerados por transação. Ou seja, com um banco de câmbio, um aplicativo de remessas internacionais e um centro de inteligência focado em montar tecnologias proprietárias.

Optamos pelo segundo caminho: fundamos o banco no Brasil (Braza Bank), o aplicativo (CloudBreak, que em breve se chamará Braza On) e o nosso centro de tecnologia (Braza Tech). Todos integrados ao longo dos últimos 10 anos. E aí reside o ‘Xis’ da questão: graças a esse planejamento de longo prazo, hoje não precisamos remunerar agentes externos ao nosso grupo, reduzindo assim os custos para o cliente final.

Claro, isso não acontece do dia para a noite. Mas essa desintermediação precisa entrar no radar de quem atua com soluções financeiras globais. Para você ter uma ideia, esse ecossistema permite que nosso aplicativo de remessas internacionais, por exemplo, consiga cobrar uma taxa de 0,5% por operação. Esse custo chega a ser 65% menor que a média de outras plataformas.

Através da tecnologia de e-commerce Checkout, voltada para lojistas do exterior, permitimos que os brasileiros comprem por Pix fora do país com um custo em taxas que pode ser até 85% menor que o custo do cartão internacional. Tudo isso é árduo e burocrático de se alcançar? Pode levar anos? Sim. Mas é através deste caminho que as instituições financeiras podem ajudar a reduzir os altos custos que empresas e cidadãos do Brasil arcam ao se internacionalizar.

Vale lembrar que, depois de décadas com uma lei travada, o novo Marco Legal de Câmbio, em vigor desde 31 de dezembro de 2022, veio para desburocratizar e simplificar as operações no mercado de câmbio, bem como aumentar a competitividade entre os agentes financeiros. Isso é algo extremamente positivo. Afinal, a competição ajuda a reduzir os custos das operações e tornar os serviços cada vez melhores.

Como empresário do setor, esse aumento de competitividade poderia me assustar, mas meu sentimento é o contrário. Eu fico feliz de saber que teremos mais empresas do segmento promovendo um ambiente mais justo e que potencialize o alcance do brasileiro ao mundo. E vou além: o grupo Braza abriu suas APIs para que outras empresas também possam ser co-participantes em transformar os brasileiros, verdadeiramente, em cidadãos do mundo.

(*) – É CEO do Braza, grupo especializado em soluções financeiras globais que consolida as empresas Braza Bank, Braza UK, Braza Tech e CloudBreak (https://lp.braza.com.br/).