Mario Enzio (*)
Está de ressaca? Não das festas, mas do ano passado? Se estiver, não é o único.
As últimas notícias na virada do ano falavam em fissuras políticas, corrupção, e de gastos além da conta. E por aí vão outras histórias escandalosas do que se pode considerar e nominar de um Congresso Nacional. Fico na expectativa de que cada vez mais possamos fiscalizar as ações que são feitas pelos distintos representantes do povo.
Como por exemplo, que não se sintam motivados a tirar poderes da Polícia Federal. Ou de querer restringir ações de investigação do Ministério Público. Ou de modificar regras e acordos de delação dando relativa vantagem às empresas investigadas.
Isso sem comentar, que quase no apagar das luzes do ano, se recomendou a aprovação de contas da presidência sem o parecer do TCU. Sendo assim, a Câmara estaria desrespeitando a Lei de Responsabilidade Fiscal. Essa aprovação de contas coloca o TCU como mero coadjuvante ou até como organismo desnecessário. Mais um porre para curar ressaca?
Não bastasse, esse clima de embriaguez, uma economista, a pedido de um grande jornal, avaliou que o prejuízo de 2015 encostaria a cifra de R$ 240 bilhões, sem incluir a corrupção que se alastra no governo. Quer dizer o quanto deixamos de ganhar com a recessão provocada pelo cenário político e econômico que vivemos. Trata-se da economista Zeida Latif, da XP Investimentos, que calculou em dinheiro quanto o Brasil perdeu: foram 240 bilhões de reais, quando se leva em conta a previsão de queda de 3,7% do PIB.
O jornal, em sua reportagem, traduz em miúdos: “são bens agrícolas e industriais que deixaram de ser produzidos e serviços que não foram prestados. Ou seja, uma grande quantidade de carros, máquinas, calçados, roupas etc. que não foi feita, e muitas consultas médicas, idas ao salão de beleza e trocas bancárias que não ocorreram”.
Resultado que espanta qualquer cidadão que sabe que esse valor poderia ter circulado na economia. Ah! Tem mais ressaca: e como os gastos foram além das receitas, não há perspectivas de recuperação da economia nesse ano. Assim, podemos esperar que o lado dos menos responsáveis por essa administração será atingido como novos tributos. Mas, antes de ficar mais embriagado, vamos aguardar a volta dos trabalhos legislativos.
Quero me ater a numa conta, de quanto custou a cada brasileiro esse prejuízo de 240 bilhões? Fazendo um cálculo imaginário: se temos no país, em torno de 207 milhões de habitantes, significa que cada um de nós teve uma perda de R$ 1, 150 bilhão. Isso mesmo: um bilhão e cento cinquenta milhões de reais, sem os impostos. É sensato dizer que essa conta é irreal. Pois, a distribuição de riquezas não é igualitária aos brasileiros. Mas, se fosse, essa seria a sua parte que deixou de circular no seu bolso. Nada mal, não é?
Com esse valor em caixa, você estaria entrando o ano com outro ânimo?
(*) É Escritor, Mestre em Direitos Humanos e Doutorando em Direito e Ciências Sociais (www.marioenzio.com.br).