César Bergo (*)
Vivemos em uma sociedade em permanentes mudanças e que não podem ser precisamente esquematizadas com antecedência.
O mercado tenta antecipá-las, mas tais previsões não podem ser reduzidas a uma ciência exata e nunca poderão ser perfeitas. As mudanças ocorrem continuamente em todas as esferas da economia. As preferências e os gostos mudam, a mão-de-obra muda em quantidade, qualidade e locação.
Os recursos naturais são descobertos, enquanto outros são exauridos e as mudanças tecnológicas alteram as possibilidades de produção, afetada por mudanças climáticas que alteram as safras e causam limitações ambientais, além de prejudicar o fornecimento de água e de energia, dentre outros problemas.
Todas essas mudanças são aspectos típicos de qualquer sistema econômico.
De fato, não poderíamos conceber uma sociedade onde não houvesse mudança, uma sociedade na qual todos fizéssemos as mesmas coisas, dia após dia, e nenhum dado econômico jamais mudasse. Não podemos esperar que todas as atividades econômicas sejam “estáveis”, como se essas mudanças não ocorressem.
Dentro deste prisma, fomos visitados por uma pandemia de duração e dimensão inesperadas. A resiliência da sociedade humana vem sendo colocada a prova e surgem a todo momento inúmeros preparativos para evitar o colapso. Produzimos antídotos, contratamos e treinamos números enormes de técnicos e especialistas para combatê-la. Obviamente as atividades para combater a doença fez a economia movimentar-se. Mas seria importante que tais incidentes fossem estabilizados.
Na realidade se pudéssemos prever futuras pandemias diríamos que a humanidade aprendeu algo e que os procedimentos de prevenção e as atividades de combate seriam permanentemente incentivadas. O certo é que podemos esperar flutuações econômicas sempre. Mudanças que irão causar aumento nas atividades de um setor, e declínio nas de outro.
Neste momento é fundamental realizar uma revisão de toda a atividade empreendedora. Os empresários estão também, em grande parte, no ramo das previsões e correm contra o tempo, pois precisam investir e pagar seus custos no presente, na expectativa de obter suficientes rendimentos no futuro. O caos no mercado fornece o campo de treinamento que vai recompensar e expandir os empresários perspicazes, e eliminar os ineficientes.
Neste momento, após a injeção de dinheiro público na economia via auxílio emergencial, temos que esse novo dinheiro percorre todas as cadeias econômicas desde as pessoas que receberam os recursos até os fatores de produção: salários, aluguéis, juros. As pessoas irão correr para gastar suas rendas contribuindo para uma demanda artificial.
Podemos afirmar que, quanto mais longo for o ciclo inflacionário, mais doloroso e severo será o necessário processo de ajustamento e as forças de mercado vão perceber que a política monetária é de inflação permanente e irão abandonar o dinheiro em troca de bens, comprando-o enquanto a moeda ainda vale mais do que valerá no futuro próximo. O resultado será um descontrole da inflação, que nos é historicamente familiar.
A inflação como já vimos em passado recente destrói a moeda, arruína e esfacela as camadas mais pobres da população, asfixia a poupança. Portanto, sua devastação é ilimitada. Os Bancos, é verdade, podem inflar a oferta monetária por conta própria. Mas isso tem claros limites. Depois da criação do Banco Central, cada banco não determina a sua política de acordo com sua reserva e estão amarrados uns aos outros e regulados pela ação da autoridade monetária.
O governo sabidamente, ao longo do tempo, adquiriu o controle do sistema monetário. Ter o poder de imprimir dinheiro dá ao governo fonte de receitas sempre disponível. A inflação é também uma forma de taxação, pois o governo pode criar dinheiro do nada e usá-lo para desviar recursos que, de outra maneira, iriam para as atividades econômicas.
A inflação, portanto, se torna uma substituta da taxação bem aprazível ao governo e aos seus grupos favorecidos, e é uma substituta tão discreta que o público em geral pode facilmente – e é encorajado a – negligenciar. O governo pode atribuir a culpa pelo aumento de preços, que é uma consequência inevitável da inflação, ao público geral ou a alguns segmentos pelos quais nutre disfarçada antipatia, como por exemplo: servidores públicos, empresários, especuladores e estrangeiros.
Apenas a improvável adoção de uma doutrina econômica sólida poderia levar o público a jogar a culpa em quem realmente é o culpado: o próprio governo.
(*) – É Coordenador da Pós-Graduação em Mercado Financeiro e Capitais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília e presidente do CRE da 11ª Região.