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A inclusão financeira e o celular

em Opinião
quarta-feira, 05 de fevereiro de 2020

Luiz Antonio Sacco (*)

Segundo dados do Banco Mundial, a quantidade de adultos não bancarizados no Brasil totaliza 45 milhões de pessoas.

Apesar da redução desse número nos últimos anos, ainda temos uma “Espanha” dentro do País: sem acesso a serviços financeiros em pleno Século 21! Por outro lado, segundo a mesma pesquisa, quase 60% delas têm acesso a um celular com internet. Uma nova leva de empresas – as fintechs – vem disponibilizando serviços com menores custos, ampliando a competitividade no setor e favorecendo a entrada da parcela de desbancarizados no radar do sistema financeiro.

E a forma como isso vem se concretizando é por meio, justamente, do celular, com inovações tecnológicas mais evidentes para que a experiência do usuário seja positiva nos diversos produtos e serviços com apelo especial para essa fatia da população, assim como serviços exclusivos para o Microempreendedor Individual (MEI).

Pesquisas mostram que o acesso a serviços tradicionalmente oferecidas pelos bancos, como a poupança e o crédito, cumprem papel significativo na redução da desigualdade social. O exemplo mais clássico é o do economista e professor indiano Muhammad Yunus. Nos anos de 1970, Yunus oferecia empréstimos de baixo valor a pequenos produtores rurais de Bangladesh que viviam na pobreza e não tinham acesso a nenhum serviço bancário. Sua missão foi tão bem-sucedida que inspirou programas de microcrédito ao redor do mundo e lhe rendeu o Prêmio Nobel da Paz.

É animador, portanto, que o celular passa a ser um agente importante para promover mais inclusão financeira no país, favorecendo a mobilidade econômica e a inserção social, a partir da melhoria das condições de vida. O próximo estágio deve ser o de pagamentos instantâneos, modalidade popular na China, e que será incentivada pelo Banco Central. Em síntese, o sistema permite que as pessoas enviem dinheiro entre si em tempo real, pelo celular, e de forma mais simples do que ocorre hoje.

A atual movimentação de bancos e fintechs se sustenta em outros números além dos 45 milhões citados no início desse texto. Um estudo da Accenture estima que as receitas incrementais das instituições financeiras com os desbancarizados podem chegar a US$ 380 bilhões em cinco anos em países emergentes, entre eles o Brasil, que responderia por US$ 39 bilhões do total. E por que agora? O fator-chave são as novas tecnologias, que reduzem custos e trazem soluções para o mercado financeiro em escala global. O que antes era custoso e complicado, hoje é muito mais simples e acessível.

Entre essas tecnologias disruptivas está o blockchain. Segundo uma pesquisa da Universidade de Stanford, alguns dos pontos mais críticos para a inclusão financeira podem ser solucionados com blockchain, como a redução de custos e de tempo envolvidos nas transações, removendo exigências formais ao mesmo tempo em que garante confiabilidade ao processo.

Um exemplo é o envio e recebimento de dinheiro entre países. Com tecnologia tradicionais, isso pode demorar dias e devorar um percentual significativo da quantia enviada, um peso enorme para famílias dependentes de recursos remetidos por familiares do exterior, por exemplo. Via blockchain, a transação hoje já é concluída em poucos minutos e por uma fração do custo.

Ainda há um longo caminho a percorrer em direção à inclusão financeira, mas estamos avançando cada vez mais rápido, em especial nos últimos anos, quanto à aplicação da tecnologia com o objetivo de reduzir desigualdades. Sem dúvida, um cenário muito promissor!

(*) – Executivo com larga experiência em serviços financeiros e tecnologia, é diretor geral da Ripple na América do Sul.