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Multimodalidade: o caminho para uma logística inteligente e sustentável no Brasil

em Negócios
terça-feira, 18 de julho de 2023

Igor Telles (*)

A logística é uma das atividades econômicas mais importantes do Brasil e tem uma contribuição significativa de 12% no PIB, segundo dados do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos). Neste sentido, quando se trata de contar com uma logística inteligente para a otimização do processo de transporte industrial, um mecanismo hoje é o estado da arte: a multimodalidade, que combina dois ou mais modais para a movimentação de cargas com um único operador logístico, responsável por toda a cadeia de transporte.

Com o recurso, é possível realizar uma operação de transporte integrada, que inclui os modais rodoviário, ferroviário, fluvial e marítimo. Nesse processo, a cabotagem, que corresponde à navegação marítima entre portos do mesmo país, se estabelece como o modal mais preparado para longas distâncias, trazendo à cadeia logística diversos benefícios como: sustentabilidade, com diminuição das emissões de CO2; redução de avarias e roubos de carga; e maior capacidade com operações de grande escala, o que possibilita um melhor planejamento logístico.

Para se ter uma ideia, 61% de toda a produção industrial brasileira, em 2019, foi escoada pelo sistema rodoviário e 21% pelas ferrovias, enquanto a cabotagem representou somente 12% desse volume, segundo dados da Ilos. Deste percentual, uma pequena parte refere-se ao transporte de contêiner, enquanto os granéis líquidos (combustíveis) e sólido (minério de ferro) são predominantes neste modelo de transporte.

Integração da cabotagem com o modal rodoviário
Desde 2018, quando houve a greve nacional de caminhoneiros, paralisando muitas estradas e comprometendo seriamente a distribuição de produtos no Brasil, tem havido um importante avanço por parte das empresas brasileiras no uso da multimodalidade, com maior consciência sobre a importância da melhor distribuição da malha logística, embora essa divisão ainda seja desproporcional. E esse é o grande desafio do Brasil atualmente: equilibrar a matriz de transporte, melhorando a cadeia logística com o aumento do uso da navegação de cabotagem para longas distâncias e interiorizando o conceito da multimodalidade.


Mas como é possível criar mecanismos de transformação e desenvolver uma logística inteligente, integrando os setores e aliviando o estresse da cadeia logística, principalmente rodoviária?

A resposta está justamente na cabotagem e na multimodalidade por meio do transporte de cargas do ponto de coleta ao ponto de entrega de maneira integrada e com apenas um único operador logístico responsável.

Ainda que, para alguns setores, o tempo de trânsito da cabotagem seja um pouco mais elevado, o serviço reduz os custos de armazenagem na planta, deixando de ser uma desvantagem para torna-se um benefício – o que é o centro de uma logística inteligente.

Outro diferencial que agrega valor às indústrias é que a cabotagem é um modal mais sustentável. Prova disso é a economia na emissão de CO2 se comparado rodoviário. Quando uma carga é transportada exclusivamente por meio de caminhões entre as cidades de Campinas (SP) e Camaragibe (PE), por exemplo – o que equivale a uma distância de aproximadamente 2.700 km – ocorre uma emissão em torno de 10,8 tCO2e (toneladas de CO2 equivalente), enquanto esse mesmo trajeto realizado utilizando a cabotagem observa-se uma emissão de aproximadamente 2,8tCO2e. Isto é, uma redução em torno de 74% na emissão de dióxido de carbono, segundo dados obtidos através da calculadora de emissões da Log-In Logística Intermodal.

Esse cenário vai ao encontro de uma importante agenda das indústrias atualmente, que é o compromisso com as práticas ESG. Assim, ao usar a logística inteligente promovendo a migração de cargas do caminhão para a cabotagem ganha-se mais sustentabilidade e, consequentemente, competitividade.

Outro importante ponto de destaque da cabotagem é a redução de sinistros, roubos e avarias da carga. Atualmente, o modal marítimo traz o índice de roubos e avarias da carga para praticamente zero quando comparado ao modal rodoviário, o que representa maior redução de custos para as indústrias. Considerando, ainda, a diminuição de gastos, estima-se que a cabotagem reduza os custos de frete em até 30%, aumentando a margem de lucro do negócio.

Ao investir na multimodalidade, grandes empresas também conseguem ter um leque de soluções mais amplo e serem atendidas na gestão de armazenagem e transporte de cargas fracionadas, o que permite expandir sua atuação no mercado, evitando gargalos logísticos. Trata-se de uma logística customizada e aderente à finalidade de cada empresa: é possível estar no rodoviário, na cabotagem, ou nos dois juntos, aproveitando as vantagens geradas a partir de cada modal.

O mesmo se dá nas cargas de retorno. A multimodalidade é capaz de aumentar a competitividade econômica das empresas ao evitar os transportes vazios. Isso porque o foco de uma logística inteligente é a precisão, ou seja, tornar as operações mais bem distribuídas, o que inclui viabilizar o uso da carga de retorno.

Um panorama referente ao setor logístico brasileiro
Embora o mercado logístico brasileiro ainda enfrente desafios e desequilíbrio, a cabotagem vem crescendo nos últimos dez anos graças a suas diversas vantagens. Nesse período, foram adquiridas cerca de 20 embarcações registradas com bandeira brasileira, um investimento total da ordem de R$3,5 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (ABAC).

Outra importante conquista para o setor também foi a sanção, no ano passado, do projeto que institui o BR do Mar: Programa de Estímulo ao Transporte por Cabotagem. A lei reúne uma série de medidas que visam aumentar de 11% para 30% a participação desse meio de transporte na matriz logística nacional, ampliando o volume de contêineres transportados para 2 milhões de TEUs, além de alavancar em 40% a capacidade da frota marítima dedicada à cabotagem para os próximos três anos.

Esse cenário também vem sendo impulsionado por um avanço dos armadores, com a modernização dos navios, maiores frequências marítimas e escalas semanais nos principais portos brasileiros e da América Latina. E, na sequência, pela melhor estruturação dos portos com maquinário de altíssima qualidade, além do maior investimento em tecnologia, com navios mais eficientes e plataformas de acesso ao processo e rastreamento de cargas.

Assim, quando uma indústria conta com um modelo de ponta a ponta, ganha não apenas no transporte, mas também com uma operação integrada da coleta a entrega, o que inclui gerenciamento, rastreamento, segurança operacional e pós-venda, agregando mais valor a toda cadeia.

(*) É Gerente Geral de Vendas na Log-In Logística Intermodal, empresa de soluções logísticas, movimentação portuária e navegação de Cabotagem e Mercosul.