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Disrupção digital e cultural: onde elas se encontram na mudança do negócio?

em Negócios
sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Filippo Di Cesare (*)

As empresas que não são nativas digitais e, portanto, a maioria delas, precisam encarar suas transformações indo além da disrupção promovida pelas tecnologias em si. O principal atributo dessa mudança é refletir sobre a proposta de valor entregue ao cliente final e sobre o valor da sua rede, isto é, o ecossistema de parceiros e atores que participam dessa entrega.

Se antes a estratégia era construir um modelo de negócio considerando longos prazos, agora o foco é a mudança contínua, é buscar estar sempre evoluindo de acordo com as necessidades do consumidor. E a chave para o sucesso de um negócio é a capacidade de conseguir interpretar essas modificações tornando um processo natural e cultural da empresa, sempre sustentada pela liderança.

As inovações tecnológicas são o motor que permitem novos modelos de negócios e novas propostas de valor para se concretizarem no mercado. Não existe uma receita exata, mas é preciso considerar que a adoção de tecnologias faça parte da agenda cultural e dos stakeholders, que são os responsáveis por consolidar as estratégias do negócio da empresa.

Para isso, há algumas tecnologias que não são apenas questões técnicas, mas que se unem ao modo de pensar e à razão de ser da companhia, fortalecendo as equipes e a cultura empresarial. Nesse sentido, podemos falar do pensamento forjado com a tecnologia e não apenas de tecnicidades. Um exemplo são a API First e a AI First, que são vistos como um jeito de pensar e não apenas como questões técnicas.

Com base na interface de programação aplicada (API), a API First traz às empresas a capacidade natural de abertura à inovação, ou seja, é um caminho para desfrutar e compartilhar dos recursos de terceiros. Além disso, este é o impulso dado à empresa para prosperar e desfrutar de ecossistemas de novos negócios digitais, o que traz uma rica experiência ao usuário e uma maior flexibilidade de monetizar de forma inovadora os ativos da organização.

Já a AI First, que tem a Inteligência Artificial no centro da estratégia, coloca os dados em ação para que decisões sejam tomadas com base nas informações geradas. Em setores mais tradicionais, estima-se que 95% dos dados disponíveis não são utilizados nos negócios, enquanto as empresas de maior sucesso são aquelas que conseguem desfrutar dos dados tanto para evoluir sua proposta de valor, quanto para melhorar a experiência do cliente, gerando, assim, vantagem competitiva.

Cada empresa vive um momento específico e tem suas peculiaridades para avançar na sua jornada digital. Acertar o caminho não é fácil, há metodologias e não se trata de uma discussão técnica, é uma questão cultural e que deve ser debatido no âmbito do negócio, ou seja, a alta direção deve estar envolvida nessa trilha.

Neste sentido, a dica é pensar na estratégia, criar uma organização alinhada com isso, gerar competências e partir para a operacionalização unindo experiência e cultura alinhadas, lembrando que um mindset de API promove a construção de uma consciência de evolução contínua e uma abertura natural para a inovação por meio de contribuições externas, gerando a oferta de produtos ao mercado que podem gerar novas possibilidades de uso.

E, de mãos dadas com ela, a Inteligência Artificial — vinda como uma premissa da forma de agir da empresa, torna os dados mais efetivos em relação à oferta e à possibilidade de evolução da proposta de valor. No final, toda essa mudança cria possibilidades para reconfigurar e inovar a cadeia de valor, surgindo, assim, novos modelos de negócios.

(*) – É CEO Latam da Engineering, companhia global de TI e Consultoria especializada em Transformação Digital (https://www.engdb.com.br/).