J.A. Puppio*
A nossa área territorial é mesmo obra divina. Parafraseando o papa João Paulo II, Deus é brasileiro. As riquezas naturais as quais somos presenteados somadas ao clima tropical, e a ausência de catástrofes advindas de terremotos, vulcões e tornados, confere a nós brasileiros uma situação privilegiada perante ao mundo.
E por falar em riqueza natural, somos o maior produtor de etanol do planeta. Temos matéria-prima em abundância, originária da cana-de-açúcar, e, aliada ao intenso avanço da tecnologia, nosso país tem a faca e o queijo na mão para ser o celeiro mundial na produção de biocombustível.
Devido a pressão em nível global pela redução das emissões de carbono na atmosfera, e no cumprimento de metas e prazos estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), para que o setor de aviação contribua com essas reduções, projeta-se uma substituição do combustível convencional pelo produzido a partir de matérias limpas.
Para cumprir uma ordem de caráter mandatório da OACI (Organização da Aviação Civil Internacional), as aeronaves deverão usar uma mistura mínima de SAF (Combustível Sustentável de Aviação). Esse combustível é feito de recursos sustentáveis, como o carbono capturado do ar e do hidrogênio verde, e de óleos usados de origem orgânica, resíduos florestais e agrícolas.
Ainda de acordo com a agência, estima-se que o setor aéreo despeja mais de 900 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, sendo responsável por 2,5% das emissões globais de gases de efeito estufa. O uso de querosene de aviação – derivado do petróleo – é o principal elemento de impacto ecológico negativo. O objetivo é que os voos sejam neutros em carbono até 2050, e, para tanto, é urgente a redução gradual da emissão líquida de CO2.
De acordo com o compromisso assumido no Acordo de Paris, firmado em 2015 e assinado por 196 nações, o Brasil estabeleceu como meta a redução das emissões líquidas em 37% até 2025, e em 50% até o início da próxima década. Nesses valores são consideradas as emissões do país a partir de 2005. A meta é considerada ambiciosa por especialistas, no entanto, aumentam-se as perspectivas com novas frentes contribuindo nesse processo.
Nesse sentido, o país pode ser o protagonista na produção de um novo combustível de origem biológica para a aviação. Temos o solo, a matéria-prima e sabemos como fazer. A jornada para a liderança da produção e utilização de biocombustíveis no transporte aéreo já começou. As maiores multinacionais do setor do agro acompanham de perto o desdobramento deste mercado promissor para o nosso país, que necessita de investimentos que fomentem o projeto. O Brasil pode, deve e será o protagonista mundial de combustível limpo na aviação brasileira.
*J.A.Puppio é empresário, diretor-presidente da Air Safety e autor do livro “Impossível é o que não se tentou”.