Patrícia Pereira (*)
Sim, vamos falar de sustentabilidade, mas de um jeito diferente. Ultimamente, vemos o ESG ganhar força nas organizações, motivando-as a ajustar suas ações em prol dos pilares de governança, social e meio ambiente. Não à toa, esse conceito vem ao encontro da manufatura verde, que se refere a práticas de fabricação que priorizam a sustentabilidade e a redução do impacto ambiental.
No entanto, engana-se quem pensa que essa é uma tarefa fácil, considerando que envolve uma alta gama de ações que precisam ser adotadas. Afinal, muitas empresas almejam ser sustentáveis, mas nem todas têm um caminho definido para isso. E o que falta para elas? Possuir processos estruturados e adoção de tecnologias.
Em teoria, a Indústria 4.0 veio para suprir esse desafio. Até porque, a quarta revolução industrial tem como seu principal objetivo auxiliar para uma produção mais inteligente em que todos os processos de decisões fabris sejam tomados com informações fornecidas em tempo real dentro do sistema de manufatura. Compreendendo tais avanços, organizações ao redor do mundo se estruturaram e, hoje, já estão se preparando para as futuras revoluções na indústria.
Mas, e o Brasil? Por aqui, ainda estamos atravessando um entrave, considerando que, para muitos, a tecnologia ainda não é vista como um investimento. E, quando implementada, cria-se um paradoxo de que o sistema será responsável por conciliar todas as mudanças necessárias para o sucesso da organização – o que reflete a falta de maturidade digital que as empresas no país enfrentam.
Segundo a pesquisa inédita: “Estudo Nacional sobre Evolução Digital e Inovação de Negócios”, divulgada pela empresa brasileira de tecnologia digital Meta e pela escola de negócios Fundação Dom Cabral, 66% dos executivos afirmam não realizar diagnósticos de maturidade, e 30% dizem que estruturar o processo de digitalização é o principal desafio.
Considerando todos esses aspectos, precisamos chamar atenção para o fato de que as organizações brasileiras ainda possuem uma longa jornada no que tange a sua entrada assertiva na Indústria 4.0, conciliando o uso daquilo que há de mais tecnológico no dia a dia, como IOT (Internet das Coisas), funções analíticas preditivas, IA, machine learning, ferramentas de automação, entre outros e os sistemas essenciais para planejamento e gestão das operações.
Um dos pontos fundamentais a ser considerado na maturidade digital das indústrias é a adoção de sistemas de Planejamento de Recursos Empresariais (ERP, na sigla em inglês), a qual desempenham um papel importante na manufatura verde. Eles ajudam as empresas a otimizarem suas operações, monitorar o uso de recursos para tomar decisões e reduzir o impacto ambiental.
Alguns benefícios de integrar o ERP com práticas de manufatura verde e componentes de sensoriamento da indústria 4.0 incluem: redução de desperdício, uma vez que com o software as empresas podem otimizar a produção, minimizar o estoque em excesso e reduzir o desperdício de materiais; eficiência energética, já que a ferramenta pode ajudar na gestão de energia, identificando oportunidades para reduzir o consumo por meio de agendamento inteligente e monitoramento; conformidade ambiental: considerando que os sistemas ERP podem auxiliar na conformidade com regulamentações ambientais, facilitando a geração de relatórios necessários; e tomada de decisões sustentáveis, com dados em tempo real fornecidos para que as empresas possam tomar decisões assertivas sobre práticas sustentáveis.
Isso é, a ferramenta atua oferecendo uma visão geral da organização, gerando relatórios assertivos baseados em dados precisos, que podem ser utilizados a fim de verificar se as ações estão em conformidade ambiental, analisando custos e investimentos que precisam ser feitos. E, o que isso reflete na tal manufatura verde? Em tudo.
Certamente, o conceito vem ao encontro do atual engajamento social perante os cuidados do meio ambiente. Diante disso, as empresas que possuem integradas e aperfeiçoadas as práticas de gestão, automaticamente, abrem espaço para aderirem ações sustentáveis que eliminem desperdícios, ganhem eficiência e, principalmente, aumentem a vantagem competitiva frente ao mercado cada vez mais acirrado.
O Brasil tem feito esforços para promover a manufatura verde como parte de suas políticas de desenvolvimento sustentável e combate às mudanças climáticas. Isso pode incluir incentivos fiscais para empresas que adotam práticas sustentáveis, regulamentações ambientais mais rigorosas e a promoção de certificações ambientais para produtos fabricados de forma sustentável.
Por sua vez, para as empresas que possuem receios quanto as garantias de tais investimentos, ter o apoio de uma consultoria especializada nessa abordagem, indo desde a implementação de um software de gestão, até a condução de projeto, fará toda a diferença para que a organização obtenha resultados promissores.
Hoje, a sustentabilidade é considerada uma questão de sobrevivência para todos os setores, incluindo o de manufatura. Mas, de nada adianta seu amplo entendimento, sem que a companhia esteja de fato preparada para sua atribuição alinhada com boas práticas de gestão que elevem a sua maturidade digital. Por isso, é primordial que as empresas tenham intrínsecas a importância de mudarem, o quanto antes, seu posicionamento digital. Afinal, para que seja garantido o amanhã, é preciso começar pelo hoje.
(*) É especialista em manufatura no Grupo INOVAGE.