Vivaldo José Breternitz (*)
Em recente reunião com acionistas, o CEO da Apple, Tim Cook, trouxe informações interessantes sobre o crescimento da companhia nos últimos seis anos. De acordo com o executivo, nesse período a Apple comprou quase 100 pequenas empresas – uma nova aquisição a cada três ou quatro semanas. Entre as compras mais interessantes do ano passado estão as startups NextVR e Spaces (ambas trabalhando com realidade virtual e aumentada), o Dark Sky, um aplicativo de previsão do tempo, e o serviço de pagamentos móveis Mobeewave.
Cook diz que a Apple se foca em empresas pequenas e inovadoras, que complementam seus produtos e ajudam a impulsioná-los. A Apple sempre tentou manter os detalhes de suas aquisições longe dos holofotes, inclusive procurando ocultar o valor de cada negócio, porém, especula-se que alguns deles ficaram na casa das centenas de milhões de dólares.
A estratégia da empresa tem sido adquirir startups de preços menores, de forma a não atrair a atenção de órgãos reguladores, que preocupados com a manutenção da competição, chegaram a pedir detalhes sobre as compras efetuadas pela Apple no ano passado. Na reunião, Cook também afirmou que a Apple, que atingiu um valor de mercado de US$ 2 trilhões em 2020, não tem uma posição dominante em nenhum mercado e em nenhuma categoria de serviço, software de base, aplicativos ou hardware.
Segundo disse, o mercado competitivo incentiva a empresa a ser melhor e que acusações de que ela adota práticas anticompetitivas caem por terra após análise cuidadosa dos fatos. Disse também não serem cabíveis as desconfianças de que a empresa busca estabelecer monopólios; são afirmações um tanto quanto risíveis, mas é útil lembrar que a maioria das alegações de comportamento anticompetitivo por parte da Apple se concentra no controle do iOS e da App Store; a imprensa vem tratando frequentemente da guerra aberta que Apple e Epic Games vem mantendo nos tribunais, exatamente nessas áreas.
Outro tema abordado na reunião foram os novos recursos do iOS que reprimem certos tipos de rastreamento – este último tema é objeto de uma briga em andamento com o Facebook, cujo CEO, Mark Zuckerberg, teria dito aos seus funcionários que “é preciso infligir dor” à Apple. Cook disse esperar que a implementação desses recursos dê início a uma revolução em termos de proteção da privacidade dos usuários.
A onda de aquisições não é exclusividade da Apple. Outras big techs, como Amazon, Facebook e Google também tem ido às compras – e todas elas estão na mira dos reguladores antitruste, tendo um relatório de um comitê do Congresso norte-americano afirmado, em outubro de 2020, que essas quatro empresas “no passado, foram startups menosprezadas que desafiavam o status quo, mas se tornaram monopólios como os que vimos pela última vez na era dos barões do petróleo e magnatas das ferrovias”.
São belas brigas!
(*) – Doutor em Ciências pela USP é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.