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Seis tendências para as indústrias brasileiras absorverem em 2023

em Manchete Principal
segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Angela Gheller (*)

A indústria foi responsável por 22,2% do PIB do Brasil em 2021. E para 2022, previsões da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) estimam que o PIB Industrial tenha uma alta de 2%, frente a uma projeção anterior de 0,2%. Os números mostram o quanto o mercado acredita no potencial das indústrias brasileiras e no reaquecimento econômico que elas apresentam.

Nos últimos anos, a Manufatura nacional passou por uma série de transformações e processos de modernização e digitalização, que foram necessários para a sustentabilidade dos negócios. Agora, com um mercado mais desenhado e com demandas latentes de produção, é o momento de as indústrias prestarem atenção nos próximos passos para não perderem oportunidades de negócios. Por isso, listo seis tendências para as indústrias ficarem atentas em 2023.

  1. Digitalização na direção correta – O setor industrial precisou acelerar sua digitalização, no entanto ainda há muitas empresas que não iniciaram esse processo ou que o fizeram de maneira despreparada, e por isso não colhem os bons frutos.

Nesses casos, pontuo a importância dessas corporações voltarem ao cerne da questão, revisitando seus projetos iniciais para entender: quais são as necessidades da operação; qual o estágio de maturidade tecnológico da empresa; como e qual a tecnologia ideal para alavancar a produção.

Sempre digo algo que vale para toda a supply chain: na jornada da digitalização, pular etapas pode custar caro. Uma necessidade básica de qualquer indústria é ter seus processos mapeados corretamente, com dados precisos e atualizados, que direcionam à melhor tomada de decisão.

Imagem: metamorworks_canva

E para isso, investir em um ERP especializado é o primeiro passo, seguido da adoção de aplicativos que trazem mobilidade, a baixo custo, para o chão de fábrica, seja para apontamento de produção ou mesmo para manutenção industrial.

Com o apoio correto e avanço dessa digitalização, outro passo importante é o MES, Manufacturing Execution Systems ou Sistema de Execução da Manufatura, ferramenta que integra o parque de máquinas ao ERP, trazendo monitoramento online e controle de todo o chão de fábrica.

  1. Conectividade 5G – A partir deste ano, além das antenas públicas, a rede 5G privada será ainda mais explorada e ampliada em todo o território nacional. As propriedades dessa nova rede móvel, que possui baixa latência de dados e possibilita maior conectividade, permitem que indústrias que já estão digitalizadas consigam potencializar a sua produção, a partir da conexão dos dispositivos implementados na operação.

Para deixar mais claro o quão benéfica será essa evolução, veja: uma rede 4G permite 100 mil conexões por metro quadrado; já uma rede 5G possibilita 100 milhões de conexões por metro quadrado, ou seja, amplia em 10x mais as conexões entre aparelhos, tornando os processos ainda mais inteligentes e rápidos.

Com o aumento esperado da conectividade, revisitar a infraestrutura tecnológica e entender quais melhorias podem ser feitas e quais sistemas podem ser integrados é algo para ficar de olho em 2023. Alguns casos de uso já estão sendo estudados e poderão trazer ganhos significativos para a supply chain, como por exemplo, gestão de inventário por drone, Picking by Vision, realidade aumentada e AMV (Autonomous Mobile Robots).

  1. Segurança digital e do supply chain – Preocupação de empresas de todos os setores, a Manufatura deve dedicar cada vez mais esforços para a segurança de dados. Segundo um levantamento da empresa britânica Sophos, em 2021, 55% das indústrias brasileiras sofreram sequestro de dados. A pesquisa também mostrou que 67% das empresas levaram, em média, uma semana para recuperar os dados — imagine as perdas da operação.

Nesse cenário, é cada vez mais essencial investir em serviços, ferramentas e profissionais para estruturar uma rede bem protegida e garantir o funcionamento seguro de toda a operação. É preciso revisitar os processos e trabalhar o aspecto cultural da segurança de dados para que todos tenham a dimensão dos riscos, em um mundo cada vez mais conectado.

Nesse contexto, é preciso reforçar a proteção da integração das cadeias, ou seja, a comunicação que as indústrias mantêm com fornecedores, clientes e demais stakeholders para ter ambientes seguros e em conformidade com as leis.

  1. Capacitação e qualificação da mão-de-obra – Extremamente importante e relacionado aos itens anteriores, investir na qualificação da mão-de-obra é fundamental no processo de digitalização.

Fazer com que os colaboradores tenham uma visão holística da operação e entendam o funcionamento de todos os dispositivos implementados no chão de fábrica é essencial para que a operação ganhe em performance, produtividade, qualidade e rentabilidade.

Nesse sentido, também é importante reduzir os ruídos de que a digitalização vai destruir empregos e mostrar que, pelo contrário, por meio de capacitação, ela permite novas possibilidades de evolução na carreira.

E aqui é importante que as indústrias se cerquem de bons parceiros de tecnologia para garantir não só a aquisição das soluções, mas também, do suporte e capacitação necessária. Há empresas de tecnologia no mercado que oferecem consultoria de negócios, cursos e treinamentos para os usuários. É importante ficar atento às oportunidades.

Imagem: Blue Planet Studio_canva
  1. E-commerce para manufatura – Com o boom das vendas digitais, as indústrias observaram a oportunidade de ampliar sua atuação e investir no e-commerce para se conectar direto com os consumidores. E como é um modelo de negócio promissor, sem dúvida, é uma tendência para os próximos anos. Porém, é preciso que as indústrias entendam a jornada que precisa ser bem desenhada para se entrarem de forma correta e rentável no universo do comércio digital.

Aqui é preciso que todo o processo da jornada de venda, desde o planejamento de produção, esteja bem estruturado para atender as demandas, ou seja, entender se o melhor é desenvolver site próprio ou vender via marketplace; como será a disponibilização de produtos, vendas, giro de estoque e conciliações financeiras e, por fim, toda a logística de entrega. Novamente, não pule etapas.

  1. Agenda ESG – Hoje, todo o mercado — e os consumidores não estão alheios a isso — tem um olhar atento sobre práticas ESG nas cadeias de produção, acompanhando da origem até o beneficiamento de um produto. Cada vez mais surgem regulamentações, normas, acordos que envolvem o tema.

E por isso as indústrias precisam ter e cumprir uma agenda responsável, que começa no processo de organização interna, com uma boa governança corporativa, e se estende por toda a operação, envolvendo cada letra do “ESG”, se preparando para aproveitar as oportunidades e mitigar eventuais riscos.

O Brasil está entre os “top 5” países com a conta de energia mais cara do mundo. Portanto, entender como utilizar energia renovável ou até mesmo explorar o crédito de carbono, torna-se um tópico — em meio a uma extensa agenda — a ser observado para a otimização de recursos e redução de custos.

O mercado de tecnologia já estuda hoje soluções que analisam as possibilidades de redução de custos energéticos e que façam a regulamentação de crédito de carbono e outras matrizes como parte do negócio. Vale ficar atento.

Para 2023 e os próximos anos, a indústria brasileira precisa acompanhar os movimentos da sociedade, nos hábitos de consumo, nas novas demandas e estruturas de mercado para que os negócios se mantenham sustentáveis a longo prazo. A tecnologia está evoluindo constantemente e oferecendo soluções que atendam esses novos cenários.

Por isso, olhos atentos à sua operação e no que a tecnologia pode proporcionar ao seu negócio.

(*) – É diretora de produtos de Manufatura da TOTVS.