Agência Brasil
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, admitiu que não haverá surpresa se houver “retração” no resultado do primeiro trimestre do ano (janeiro, fevereiro e março) do PIB a ser divulgado, até a próxima sexta-feira (29), pelo IBGE. “Acho que o PIB vinha e deu um pequeno blipping [sinal de alerta] no quarto trimestre [do ano passado], que aliás pode ser revisto. No começo do ano, os agentes estavam em grande expectativa de retração. Então, não seria surpresa a gente ver uma situação desta”, disse ao chegar ao Ministério da Fazenda.
Para Levy, o que interessa é o que vem pela frente: os ajustes que vêm sendo feitos nas áreas fiscal e monetária. “Se a gente fizer os ajustes, tanto o fiscal, quanto outros ajustes econômicos mais profundos conseguiremos botar a economia crescendo outra vez, que é o que queremos”. Também declarou que não tem feito projeções para elevar tributos, como, por exemplo, o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) incidente sobre aplicações no mercado financeiro. Segundo ele, é importante o governo agir com calma quando se trata de tributação.
“Não adianta inventar novos impostos como se fosse salvar a economia brasileira. Não é por aí. Temos uma coisa mais profunda, que não se resolve com coisas fáceis, por mais emocionantes que possam ser ou atávicas [habituais] que possam ser”, destacou. Levy disse ainda que a dimensão dos desafios que o governo tem pela frente pode ser exemplificada pelo anúncio do contingenciamento (retenção de gastos), ocorrido na sexta-feira (22) sobre o valor de R$ 69,9 bilhões.
“O governo cortou na carne com equilíbrio e cautela”. O contingenciamento foi feito com muito cuidado, tendo como base uma estratégia do governo. Segundo ele, há uma questão que é estrutural: as condições da economia brasileira mudaram. Um dos focos do governo agora é elevar a produtividade. “Nos últimos anos, a arrecadação sistematicamente não tem atendido às necessidades do governo, que tem apelado para receitas extraordinárias, de programas como Refis, outras coisas. Ao mesmo tempo, tivemos as desonerações. Precisamos ter uma situação um pouco mais equilibrada: o que a gente está tendo este ano, [não gera] receita”.
Levy também afirmou que o contingenciamento é uma parte das políticas postas em prática. É uma parte importante e outras são mais estruturais e tem que ver com o realinhamento de preços, com atividades de concessões e vamos ver como a gente reorganiza o financiamento de longo prazo, agora que acabou o dinheiro, pois [antes] havia aquele modelo mais baseado em recursos públicos”, disse.
Para ele, outros tópicos observados do programa de governo são a competitividade e a produtividade. De acordo com ele, o Brasil tem de fazer um ajuste estrutural já que mudaram as condições da economia, especialmente os preços das commodities. “A gente viu como as indústrias no Brasil, nos últimos anos, apesar de o governo ter dado muitos incentivos fiscais, não [registraram] desempenho muito forte. Essas são as coisas importantes, que a gente tem que estar olhando. São questões estruturais, são questões como a gente pode fazer para a economia ter mais vitalidade. E não necessariamente só colocado mais dinheiro público”, enfatizou.