Sandra Maura (*)
Coisa de cinema. Durante muito tempo, essa era a grande definição que surgia, quando temas como Inteligência Artificial, Automação e Robôs apareciam nas discussões. Também pudera: dos Jetsons ao Exterminador do Futuro, a transformação tecnológica sempre foi assunto dos mais férteis às produções de ficção científica e até mesmo de animação.
Mas os tempos mudaram e, hoje, a combinação destes e outros recursos da tecnologia não são mais tendências para o futuro. Ao contrário, todas essas ideias já estão mudando radicalmente nossas rotinas de trabalho, tornando tarefas complexas e repetitivas em ações muito mais fáceis de serem feitas.
Graças ao avanço das soluções de hiperautomação, por exemplo, estamos caminhando para um ambiente no qual a própria tecnologia é capaz de nos ajudar a tomar decisões e executar as tarefas em nosso expediente.
Aos poucos, as máquinas entram em cena não mais para lutar contra a humanidade (ou defendê-la de um mal supremo), mas sim para tornar o dia a dia das operações muito mais assertiva e eficiente, eliminando gargalos que a nossa decisão humana (manual) poderia levar muito tempo até resolver.
O principal diferencial em relação a outras formas de automação vistas no passado, portanto, é que a hiperautomação foca em fazer com que o próprio sistema possa agir para analisar, checar e agir para simplificar a tomada de decisões dentro dos negócios, cruzando e analisando milhares de dados em tempo real.
Por meio da combinação de ferramentas como Automação Robótica de Processos (RPA – do inglês Robotic Process Automation), Aprendizado de Máquina e Inteligência Artificial (IA), estas soluções identificam eventuais gargalos e ajustam suas premissas para aumentar a eficiência dos processos da operação como um todo – sem qualquer ação manual.
É justamente essa habilidade de tomar decisões baseadas em dados e premissas de negócios sem qualquer ingerência humana o que tem feito com que a hiperautomação seja cada vez mais pesquisada e buscada pelas lideranças. Segundo análise do Gartner, este mercado deverá movimentar mais de 600 bilhões de dólares em 2022, contra pouco mais de US$ 480 bi registrado em 2020.
A explicação para essa alta procura encontra razão, também, no atual cenário das companhias como um todo. Com o modelo de trabalho híbrido ganhando a atenção das companhias de todo o globo, não é de se estranhar que ferramentas que ajudam a otimizar as tarefas estejam, de fato, ampliando sua presença na lista de prioridade dos conselhos e gestores de tecnologia.
Aliás, este é um dos pontos que mais mudaram em relação ao passado distante da automação. Se antes muitos perguntavam se o avanço da Inteligência Artificial e dos Robôs iria provocar o fim dos trabalhos humanos, a verdade, agora, é que a tecnologia inteligente pode justamente funcionar como um habilitador para que as pessoas possam se concentrar em atividades que vão agregar mais valor à suas empresas – ou, em muitos casos, para seus clientes.
O conceito da hiperautomação tem exatamente este objetivo: reduzir tarefas manuais repetitivas, burocráticas e mais suscetíveis aos erros, tornando o trabalho das equipes mais confiável e centrado no core business perseguido pelo time e negócio. De acordo com o mesmo estudo do Gartner citado acima, é esperado que as maiores empresas globais consigam economizar até 30% dos custos operacionais de suas equipes por meio, justamente, das soluções de hiperautomação e a orquestração de processos.
Temos de entender que a aplicação de novos conceitos inteligentes está em acordo com a digitalização de nossa vida, muito além das rotinas de trabalho. É possível, hoje, otimizar questões como ocupação de espaços (ainda mais importante após a pandemia da Covid-19, quando muitas empresas saíram de seus escritórios para espaços menores que precisam ter a quantidade de profissionais mensurada diariamente) e, até mesmo, o controle de versões de documentos processados simultaneamente a partir de diferentes locais.
Em tempos marcados pela transformação rápida das condições, contar com ajuda para analisar variáveis, acompanhar indicadores e tomar decisões bastante específicas e demoradas pode significar um alívio incomensurável às equipes, e especialmente para aquelas companhias que precisam lidar, por exemplo, para ambientes altamente regulados e que demandam checagem minuciosa.
A hiperautomação, ao contrário do que alguns filmes do passado insistiam em nos dizer, não é uma tendência para roubar o papel do homem nas operações. Muito mais do que isso, a novidade trazida pela combinação de IA, RPA e outros mecanismos busca ajudar a simplificar o que nós mesmo fazemos.
Como bem dizem especialistas das principais consultorias internacionais, acompanhar esse movimento de automação inteligente está longe de ser um diferencial de competitivo; hoje, eles dizem que trazer essas soluções é uma ação de sobrevivência que ajudar as marcas a lidarem com estruturas mais enxutas, grupos mais descentralizados e informação mais dinâmica.
É isso que deve guiar o pensamento dos executivos nesta jornada de transformação digital. Até porque, ainda é tempo de mudar o final da história que estamos construindo, principalmente para quem entender os spoilers que a própria realidade já tem insistido em nos mostrar.
(*) – É CEO da TOPMIND (https://topmind.com.br/).