Isabelle Araujo (*)
Uma das realidades mais duras do meio corporativo é a Síndrome de Burnout, um transtorno que acomete muitas pessoas no mercado de trabalho. Em um mundo marcado pela demanda de alta produtividade e entrega de resultados, profissionais se veem cada vez mais pressionados e forçados a passar de seus limites para exercer um “bom trabalho”.
O termo Burnout vem de origem inglesa e significa esgotamento ou combustão completa, sugerindo a queima total de energia. O número de pessoas nesta situação está cada vez maior, levando a Organização Mundial de Saúde a reconhecer o Burnout como doença na Classificação Internacional de Doenças – uma lista de enfermidades e estatísticas de saúde.
Esta doença atinge cerca de 32% dos brasileiros, de acordo com estimativa da International Stress Management (Isma-BR). É uma condição que não leva apenas à fadiga, mas que também pode criar sentimentos de frieza e apatia nas pessoas, que priorizam a entrega de resultados como único ponto importante.
Sensação de impotência, ineficiência e improdutividade também vêm junto com o Burnout, pois a pressão é tanta que o corpo não acompanha a necessidade de entregar resultados. Isso, somado à ansiedade, gera uma situação desesperadora e muito debilitante.
Um ponto importante de se ter conhecimento sobre esta síndrome é que ela não acontece de forma rápida e imediata. É algo gradual e que se desenvolve com o tempo, e acaba consumindo de forma silenciosa as pessoas.
- – Saiba identificar os sintomas do Burnout – Os sintomas podem ser divididos em três grupos: cansaço emocional e físico, sinais de desapego, sensação de não realização e ineficiência. No primeiro caso, os sintomas são mais perceptíveis, pois afetam diretamente o bem-estar físico e psicológico. Dificuldade para dormir (insônia), fadiga crônica, perda de apetite, esquecimento e dificuldade de concentração, ansiedade, raiva e até mesmo depressão são alguns dos mais comuns.
Todos eles começam de forma menos intensa e vão se agravando conforme o tempo passa e a situação se mantém. Esta é uma doença que se manifesta gradualmente, podendo piorar consideravelmente se não for tomada nenhuma medida. Nos sinais de desapego, vemos uma mudança em relação à perspectiva da realidade.
Podemos notar um grande aumento do pessimismo e do isolamento, uma vez que essas pessoas acabam se distanciando das demais por conta do estresse e da necessidade de produzir. O isolamento acaba por agravar a falta de lazer e intensifica a perda de prazer – outro sinal. A ausência de prazer no que se faz ocorre no ambiente de trabalho também, criando aquela sensação de não querer ir trabalhar em um ciclo vicioso.
Já na sensação de não estar realizado e de ineficiência, a falta de esperança e a apatia são sinais evidentes. Eles levam a um sentimento de desespero que agrava ainda mais a ansiedade e a depressão. Além disso, é possível notar uma queda de desempenho, pois, apesar das longas horas, o cansaço vence e acaba diminuindo o rendimento dos profissionais.
- – Como prevenir o Burnout – Sabendo dos sintomas, é importante entender quais ações são preciso tomar para que se evite este tipo de desgaste, assim como o desenvolvimento da síndrome e de sua evolução. Ter Burnout é fruto de um mau clima organizacional por parte do empregador, e é responsabilidade dele criar uma estrutura que ampare e auxilie o funcionário.
- – Estabeleça limites com seu empregador – Não é fácil ter esta conversa, mas é importante que você procure falar com seu gestor e crie alguns limites profissionais. Este é um ponto-chave na luta contra o Burnout, uma vez que a redução da carga diminui o estresse acumulado.
- – Dê mais prioridade a atividades de lazer – Ter uma válvula de escape e momentos de diversão faz toda a diferença, pois alivia o estresse, renova as energias e faz com que o descanso seja possível. É vital termos momentos de lazer, para que nossa saúde mental não fique comprometida.
- – Quebre a rotina – Se soltar um pouco da rotina pode fazer muito bem à saúde mental. Inserir novas atividades e afazeres no dia a dia ajuda a quebrar a sensação de estar preso em um ciclo. Além disso, experimentar coisas novas sempre é positivo e pode despertar sua paixão por algo que ainda não conhecia. Aposte nisso!
- – Regule seu sono – A falta de sono é um agravante muito característico em situações de estresse. Não dormir causa muita irritabilidade e pode intensificar os sintomas do Burnout. Procure criar um ambiente tranquilo e relaxante, que permita dormir, no mínimo, oito horas por noite.
- – Faça exercícios físicos – Encontrar o tempo para se exercitar é difícil, mas a prática regular de atividades físicas, além de liberar endorfina no organismo, também ajuda a aliviar o estresse do corpo.
- – Procure ajuda profissional – Dialogar sobre nossos problemas é muito importante para processá-los. Por isso, se estiver neste tipo de situação, procure um profissional para ajudá-lo. Conversar com psicólogos e fazer terapia é um primeiro passo desafiador, mas vale a pena!
Para tratar o Burnout, é imprescindível o acompanhamento com profissionais, psiquiatras e psicólogos, pois estes profissionais saberão individualizar o tratamento dependendo do caso e tomar medidas mais drásticas, caso seja necessário.
Afastar-se de um ambiente tóxico, que está te fazendo mal, também é válido neste momento.
Muitos não sabem, mas o diagnóstico de síndrome de Burnout torna o trabalhador elegível para afastamento pelo INSS. Esse afastamento remunerado pode ter duração de pelo menos 12 meses. No geral, é ideal procurar o tratamento o quanto antes, pois esta é uma doença progressiva e pode piorar conforme o tempo passa. É uma condição real e não pode ser ignorada.
- – Como as empresas podem contribuir para a luta contra o Burnout? – É de responsabilidade das empresas zelar pela saúde de seus funcionários e oferecer um ambiente de trabalho positivo, acolhedor e que entenda as necessidades dos colaboradores.
- – Criar uma cultura de respeito – Estabelecer uma cultura que respeite e acolha profissionais é essencial. Ambientes tóxicos, onde há cobrança excessiva e o assédio moral, por exemplo, contribuem para o desenvolvimento da Síndrome de Burnout. É importante também ouvir e entender as necessidades dos colaboradores, fazendo-os sentir que são importantes para a empresa.
- – Ofereça benefícios corporativos – Benefícios corporativos são ferramentas que ajudam no bem-estar dos trabalhadores. Ter acesso a uma boa alimentação, transporte, direito a descanso com férias remuneradas, faz toda a diferença e impacta muito na decisão de aceitar um trabalho ou não. Muitas empresas também oferecem convênios com academias, uma vez que a prática de exercício físico é muito importante para corpo e mente.
- – Formar gestores mais humanos – Uma gestão que entenda os limites de seus funcionários e adapte-se a rotina de trabalho para atender a todos, é imprescindível. Com organização e humanidade, além de garantir melhores desempenhos e resultados, também é possível elevar a motivação de uma equipe. Nessa perspectiva, vemos cada vez mais empresas fazendo workshops e treinando seus gestores para atenderem melhor os colaboradores.
É superimportante entendermos que a Síndrome de Burnout é uma condição que afeta muitos brasileiros, e que os números de casos vêm crescendo consideravelmente nos últimos anos, principalmente neste contexto globalizado e acelerado em que vivemos. No ambiente de trabalho, é necessário ter empatia, e isso prova ser necessário mais do que nunca.
(*) – É diretora de Operações da TotalPass, empresa de benefício corporativo que visa qualidade de vida (https://totalpass.com/br/).