Carlos Busch (*)
No panorama digital, certas inovações alcançam um status quase mítico devido ao seu profundo impacto na sociedade. O Chat GPT, desenvolvido pela OpenAI, sem dúvida, enquadra-se nessa categoria. Ele não é apenas um produto tecnológico, mas sim uma representação da capacidade quase inexplorada da inteligência artificial generativa.
O Despertar de uma Nova Era Digital
Quando o Chat GPT foi lançado, ele não só chamou a atenção da comunidade tecnológica, mas reverberou suas ondas de impacto por toda a sociedade, de forma semelhante à introdução da internet. Estávamos diante de uma ferramenta que poderia redefinir a forma como trabalhamos, aprendemos e até mesmo nos entretemos. O mercado, atento a esta revolução, rapidamente reconheceu as inúmeras oportunidades e desafios que surgiam.
A adoção da ferramenta foi assombrosa. Em janeiro de 2023, foi divulgado que a plataforma havia alcançado a impressionante marca de 100 milhões de usuários. Esta informação, validada por um relatório da UBS, indicava que, nos últimos 20 anos, nenhuma outra plataforma digital havia crescido tão rapidamente. O apogeu desse crescimento chegou em maio de 2023, mas, surpreendentemente, os dados de julho mostraram uma queda de 20% em relação ao pico. Esse declínio fez muitos questionarem a sustentabilidade dessa trajetória.
Durante a minha participação no Rio Innovation Week de 2023, que ocorreu no começo de outubro, pude presenciar em primeira mão esse estranho paradoxo. Em uma plenária repleta, com centenas de participantes, menos de 20 mãos se levantaram quando perguntei quem já havia usado o Chat GPT. Esse momento foi revelador. Apesar de toda a promessa e potencial, a realidade é que muitos ainda estão à margem desta revolução. O abismo entre o conceito e a prática do Chat GPT é evidente e, paradoxalmente, cria uma abundância de oportunidades inexploradas.
Ecos do Passado: As Palavras Visionárias de Bowie
A ascensão e a subsequente retração do Chat GPT são remanescentes da agitação inicial em torno da internet. Na década de 1990, o icônico David Bowie previu em uma entrevista a um canal britânico que a internet não era apenas uma ferramenta, mas um organismo emergente, quase como um “alienígena” entre nós. O mesmo pode ser dito sobre o Chat GPT. Parece que estamos interagindo com uma consciência digital em formação.
A despeito dos números inicialmente impressionantes, descobrimos que somente cerca de 2% da população global usa o Chat GPT em sua plenitude. Muitos têm uma visão reducionista da plataforma, considerando-a apenas uma substituição das ferramentas atuais. Isso limita seu potencial revolucionário. O Chat GPT não é apenas um substituto para pesquisas no Google; ele tem o potencial de transformar todos os setores, do atendimento ao cliente à pesquisa acadêmica.
O recente decréscimo nos assinantes destaca a necessidade de uma compreensão mais profunda do valor intrínseco do Chat GPT. A questão agora não é apenas aumentar o número de usuários, mas garantir que esses usuários reconheçam e aproveitem as vastas capacidades da plataforma.
O Chat GPT, em sua essência, é uma provocação do que é novo e possível. Ainda estamos em busca do “last mile”, a conexão definitiva que trará essa tecnologia para o dia a dia de cada indivíduo. E, em meio a essa busca, uma janela de oportunidade se abre para inovadores e visionários que podem orientar a sociedade nesta nova era.
Concluindo, a jornada do Chat GPT está longe de terminar. Com cada desafio surge uma oportunidade, e é evidente que nosso futuro digital, com o Chat GPT como um dos seus pilares, será repleto de descobertas e inovações.
(*) Executivo e mentor de negócios, Carlos Busch é graduado em Administração de Empresas pela PUC-RS com pós-graduação em Comércio Exterior pela Fundação Getulio Vargas (FGV).