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O Brasil precisa ser mais amigável com seus empreendedores

em Mais
terça-feira, 16 de abril de 2024

Fernando Taliberti (*)

O empreendedorismo é um dos motores da economia, impulsionando a inovação, a criação de empregos e o crescimento sustentável. No entanto, empreender no Brasil ainda é um desafio, especialmente quando comparado aos Estados Unidos, onde a cultura empreendedora é valorizada e as estruturas jurídicas são mais amigáveis

Para que o país possa prosperar, é fundamental que sejam criadas condições mais favoráveis para os empreendedores, tanto em termos de estrutura jurídica quanto de acesso a capital. Uma das principais diferenças entre empreender no Brasil e nos Estados Unidos é a simplicidade das estruturas jurídicas. Nos EUA, os empreendedores têm acesso a modelos padronizados de contratos, como o SAFE (Simple Agreement for Future Equity), que facilitam a captação de investimentos.

O SAFE é um instrumento flexível e eficiente, permitindo que as startups levantem capital sem a necessidade de uma avaliação imediata da empresa. No Brasil, por outro lado, a falta de instrumentos jurídicos padronizados e a complexidade do sistema legal dificultam a captação de investimentos e aumentam os riscos para os empreendedores.

Essa falta de flexibilidade e agilidade no processo de levantamento de capital pode prejudicar o crescimento das startups e limitar o potencial de inovação do país. A necessidade de estabelecer um valor fixo para a empresa em estágio inicial pode ser extremamente prejudicial, pois muitas vezes é difícil determinar um valor justo e realista para um negócio que ainda está em fase de desenvolvimento.

Além disso, a burocracia e a rigidez das estruturas jurídicas brasileiras podem dificultar a captação de investimentos e atração de talentos, limitando o potencial de crescimento das startups. Outro ponto crucial é o acesso à capital. Nos EUA, o ambiente de investimento em startups é muito mais desenvolvido e maduro, com uma ampla variedade de opções de financiamento disponíveis.

Desde o financiamento coletivo (crowdfunding) até os fundos de venture capital, os empreendedores têm à disposição uma gama de alternativas para captar recursos e impulsionar o crescimento de seus negócios. No Brasil, porém, o acesso a capital ainda é limitado, o que dificulta o desenvolvimento de startups e a inovação. Medidas como a regulamentação do crowdfunding de investimento e a criação de incentivos fiscais para investidores em startups são passos importantes para ampliar o acesso a capital no país.

Infelizmente, a falta de proteção no ecossistema brasileiro tem consequências reais para os empreendedores e pode levar ao fechamento de negócios promissores. Um exemplo trágico é o caso da Vela Bikes, uma startup brasileira que encerrou suas operações recentemente. A Vela Bikes foi pioneira na produção de bicicletas elétricas no Brasil e recebeu investimentos de fundos de venture capital.

No entanto, devido a problemas com fornecedores e à falta de proteção legal, a empresa enfrentou dificuldades que acabaram levando ao seu fechamento. Essa história é um lembrete doloroso dos riscos que os empreendedores enfrentam no Brasil e da necessidade de criar um ambiente mais favorável para o crescimento e a inovação.

Para impulsionar o empreendedorismo e atrair investimentos, o Brasil precisa adotar medidas que simplifiquem as estruturas jurídicas, incentivem a captação de investimentos e protejam os empreendedores. A criação de instrumentos padronizados, como o SAFE, pode ser um primeiro passo para agilizar o processo de levantamento de capital e reduzir a burocracia.

Além disso, é fundamental promover uma cultura de risco e inovação, reconhecendo o valor dos empreendedores e incentivando o investimento em startups. Por fim, é preciso fortalecer a proteção legal para os empreendedores, garantindo que eles tenham os direitos e as salvaguardas necessárias para enfrentar os desafios inerentes ao mundo dos negócios.

O empreendedorismo é uma força transformadora que pode impulsionar o crescimento econômico, gerar empregos e promover a inovação. No entanto, para que isso aconteça, é fundamental que o Brasil crie um ambiente mais amigável aos empreendedores, simplificando as estruturas jurídicas, facilitando o levantamento de capital e garantindo a proteção necessária para o crescimento e a prosperidade dos negócios.

Somente assim poderemos desbloquear todo o potencial do empreendedorismo brasileiro e construir um futuro mais próspero para todos.

(*) – Engenheiro de Produção pela UFRJ, e mestre em Tecnologia para a Gestão pelo Politecnico di Torino, é fundador da Tali.Venture (https://tali.ventures/).