Wilian Domingues (*)
O tempo na China parece andar em um ritmo diferente, especialmente quando observamos o caminhar acelerado de sua transformação digital.
Se olharmos para uma pequena janela vamos ver o quanto a China avançou numa economia estritamente monetária (que ainda usa papel mesmo) para uma economia digital.
Quando observo esse movimento através de leituras e insights de outros colegas de tecnologia, eu entendo que analisar como a China fez isso vale uma análise do contexto como um todo e observar a nossa volta se não estamos remando para o mesmo cenário, talvez não tão rápido quanto a China.
Olhando para o passado, mais precisamente no início do ano 2000, a China estava dando seu primeiro passo sob o tema e-commerce. O Alibaba introduzia o Taobao junto com o ALipay e trazia a primeira experiência de compra e venda on-line com implementação de segurança, entre quem comprava e quem vendia.
Isso foi fundamental para a sedimentação do alicerce digital do mercado chinês e abriu espaço para o processo de score de crédito e personalização de serviços.
A China conseguiu, então, desenvolver um modelo digital ideal, ajustado à sua realidade de mercado, aos seus desafios geográficos e ao seu vigoroso apetite comercial.
E nós, como CIOs, já começamos a pensar em como poderíamos adaptar essas lições ao nosso próprio mercado?
O que ninguém esperava, mesmo com essa revolução em mãos, é que em 2011 seria lançado o WeChat, um aplicativo de mensagens que evoluiu em curtíssimo prazo para uma superplataforma.
Apoiado por uma série de tecnologias, o WeChat criou o WeChat Pay e, segundo dados da CNBC de 2021, se tornou o segundo maior SuperApp do mundo, reunindo mais de 900 milhões de usuários.
O ponto aqui é observar qual foi o motor de aceleração do aplicativo. Esse sim é um tema que temos de colocar luz e observar como foi o movimento do digital na China.
Enquanto consideramos essa realidade, é importante notar que o WeChat Pay ganhou força por meio do comércio eletrônico, mas de uma maneira distinta: permitiu que os comerciantes atingissem diretamente os consumidores, superando os cartões de crédito por meio de uma tecnologia revigorada – o uso de QR Code.
A China não só ultrapassou o modelo tradicional baseado em cartões, mas também efetuou uma transação gigante para um modelo sustentado em carteiras digitais.
É sob esse aspecto que acredito que o mercado de pagamentos digitais brasileiro também pode sofrer algum tipo de disrupção.
O avanço da Meta com o WhatsApp Pay e outras iniciativas de empresas que nunca foram bancos pode colocar novos elementos nessa disputa pelo mercado de pagamentos, especialmente, o P2P (peer-to-peer).
Fazendo um humilde DE/PARA com o que vimos na China, o PIX pode ser a sedimentação que o mercado financeiro brasileiro precisava para impulsionar novas tecnologias de pagamentos.
Os fatores críticos de sucesso da onda digital chinesa estão presentes em nosso mercado brasileiro, que são a disseminação de smartphones e a bancarização digital das pessoas. A pandemia, em nosso caso, acelerou uma certa digitalização bancária para que o governo conseguisse alcançar as pessoas e contribuir com o Auxílio emergencial.
Não se pode ignorar a velocidade com que as coisas acontecem. Aplicações podem ser testadas e conectadas com jeito mais rápido do que foi no passado e isso pode gerar efeitos virais muito rápidos.
Estamos vendo também que a supremacia dos SuperApps está sendo abalada por Apps mais específicos, que resolvem problemas mais pontuais, diferente do modo mais “generalista” que os SuperApps conseguem atender.
Em resumo, a revolução digital na China nos oferece um vislumbre fascinante de como o futuro dos pagamentos digitais pode se desenrolar no Brasil. A transformação da China de uma economia baseada em dinheiro físico para uma sociedade digitalmente fluente, com o auxílio de SuperApps, como o WeChat, é um sinal claro de que mudanças semelhantes estão no horizonte para nós.
O surgimento do PIX e o crescente domínio de aplicativos de mensagens, como o WhatsApp Pay, estão pavimentando o caminho para uma nova era no setor financeiro brasileiro. Porém, à medida que avançamos, devemos estar atentos para garantir que todos os players do mercado tenham oportunidades iguais, tal como num safety car em uma corrida de automóveis.
Embora a regulamentação possa parecer um obstáculo para a inovação, ela também é necessária para criar um ambiente de negócios justo e seguro. Não se trata apenas de ganhar a corrida, mas de garantir que todos possamos participar e beneficiar das incríveis oportunidades que a economia digital tem a oferecer.
O tempo na China pode andar de uma maneira diferente, mas uma coisa é certa: quando o safety car sai da pista, a verdadeira corrida começa. E o Brasil, sem dúvidas, está pronto para entrar nessa disputa global pela inovação no setor de pagamentos digitais.
(*) É CIO na Paschoalotto, professor convidado Pós-Graduação no Curso de BIGDATA e Business Intelligence da FIAP, professor convidado no Startse University e MBA USP/Esalq e especialista com profundo conhecimento em Inteligência Artificial, Machine Learning, Big Data e outras tecnologias inovadoras.