Santos Dumont, o Pai da Aviação, sim, senhor!
Na última segunda-feira (20), completaram-se 142 anos do nascimento do polêmico inventor mineiro Alberto Santos Dumont, que voou no 14-Bis e em dirigíveis, inventou o relógio de pulso e ficou deprimido ao ver aviões usados como máquinas de guerra
![]() ![]() Santos Dumont inventou também o relógio de pulso e o chuveiro elétrico. |
Freddy Charlson/Blog da Aviação
Santos Dumont era polêmico. Ponto.

Sim, Santos Dumont era polêmico.
Mas ele teve lá os seus motivos. Isso desde o tempo em que nasceu numa fazenda no interior das Minas Gerais e quando sua família mudou-se para outra fazenda, em Ribeirão Preto. Em vez de trabalhar na horta ou com os animais, Dumontinho era polêmico: preferia mexer com as máquinas. Ah, que precoce esse menino batizado como Alberto Santos Dumont, filho de pai de ascendência francesa (Monsieur Henrique) e mãe filha de tradicional família portuguesa (Dona Francisca, com certeza!). Esperto, o pai viu que o rapaz era craque em mecânica, física, química e eletricidade e emancipou o jovem. “Vá. Dumont, vá ser gauche na vida.” Eis que, aos 18 anos, o jovem sonhador atravessou o Oceano Atlântico para concluir os estudos na França e, enfim, poder voar, voar, subir, subir, ir para onde for (momento Biafra)…
Um ano depois, papai Dumont morreria. Abalado emocionalmente, claro, o pequeno Dumont, sempre fã do escritor francês Júlio Verne (autor de livros como 20 Mil Léguas Submarinas e A Volta Ao Mundo em 80 Dias, entre outros), herdou uma fortuna. Resolveu ficar em terras parisienses, comprou um carro e passou a disputar corridas velocíssimas – bem, pelo menos para a época. Aos 24 anos, em 1898, subiu num balão. Alugado. Ok, o jovem ainda não era poderoso. Um ano depois, foi às alturas com o próprio balão, o “Brasil”, criado por Dumont.

O tempo passa, o tempo voa (perdão pelo trocadilho, mas a propaganda com esse jingle é quase tão antiga quanto a época tratada por este texto!) e Santos Dumont estava cada vez mais fera na arte de voar. Entre 19 e 23 de julho de 1906, testou, em Paris, o bom e velho 14-Bis. O avião de formato estranho, que parecia ser feito de cartolina, era conhecido como “Oiseau de Proie” (ave de rapina, na língua de Catherine Deneuve). Ele foi o primeiro objeto mais pesado que o ar a erguer voo por impulsos próprios, superando o atrito do ar, as leis básicas da física, a gravidade e, principalmente, a fé alheia. E quem diz isso não sou eu (Bra-sil-sil-sil!), mas a Federação Internacional de Aviação (FIA).

Dumont queria mais. E, assim, em 23 de outubro de 1906, no campo de Bagatelle, em Paris, o Oiseau de Proie II voou utilizando seus próprios meios, sem a ajuda de catapultas e afins. Voou 60m em sete segundos, a meros 2m, 3m de altura, um feito incrível para a época. E com mais de mil pessoas como testemunhas. Ah, a Comissão Oficial do Aeroclube da França homologou o feito. Sim, o Oiseau de Proie, o nosso 14-Bis, era “mais pesado que o ar”. Ricão e gente fina, Santos Dumont distribuiu o dinheiro do prêmio para seus operários e os pobres de Paris. Sim, era um costume do inventor.
O brasileiro virou herói, foi homenageado na Europa, nos Estados Unidos e, of course!, no Brasil. Aqui, claro, a euforia tomou conta. Ao mesmo tempo, o povo imitão e oportunista foi mexendo nos projetos de Santos Dumont e aperfeiçoando as ideias. É que ele não patenteava suas invenções. Uma desleixo polêmico. De qualquer forma, em 1909, Dumont recebeu o primeiro brevê de aviador, fornecido pelo Aeroclube da França. O documento é tipo a CNH de piloto. Nesse mesmo ano, em 18 de setembro, o brasileiro voou pela última vez. Estava cansado, doente, com os primeiros sinais de esclerose múltipla. No ano seguinte, fechou sua oficina e isolou-se do mundo.
Sua situação ficou ainda mais crítica em agosto de 1914, quando começou a Primeira Guerra Mundial, com a invasão da França (logo a França, né, Dumont?) pela Alemanha. Os aviões, já mais rápidos e bem modernos, foram utilizados para observar tropas inimigas, travar combates aéreos e despejar bombas mundo afora. Santos Dumont ficou, então, deprimido, ao ver a invenção utilizada para destruir vidas humanas. Seu sonho se transformava em pesadelo. Polêmico, até ofereceu dez mil francos (sim, o euro não era nem sonho à época) para o autor da melhor obra contra o uso de aviões na guerra. Não se sabe se alguém escreveu. Não se sabe se Dumont chegou a pagar a quantia.

Dois anos depois, seria recebido com festa no Rio de Janeiro. Como tudo estava dando errado na vida do herói nacional e a polêmica o cercava por todos os lados, adivinhem?, o hidroavião que faria a recepção, sobrevoando o navio que o levava, sofreu um acidente, sem sobreviventes. Ah, o avião tinha o nome de… Santos Dumont.
Abalado, o herói brasileiro voltou a Paris. Lá, em junho de 1930, recebeu o título de Grande Oficial da Legião de Honra da França. A festa durou pouco. No ano seguinte, ficou internado em Biarritz, e Ortez, no sul da França. Teve que voltar ao Brasil, a tempo de virar membro da Academia Brasileira de Letras. Outra polêmica. Não me perguntem o livro que ele escreveu para merecer tal honraria… De qualquer forma, ele nunca chegou a tomar posse da cadeira 38.
