Produção de energia eólica se aproxima do equivalente a uma Itaipu
O crescimento da geração de energia eólica no Brasil está fazendo com que o setor produza uma quantidade de eletricidade semelhante ao de Itaipu, maior usina do Brasil e segunda maior do mundo
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Segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), a produção energética eólica deve chegar a 11 GW (gigawatt) este ano, perto da capacidade produtiva de 14 GW de Itaipu. O volume de energia da matriz eólica é suficiente para iluminar com folga duas das maiores cidades brasileiras, São Paulo (11,5 milhões de habitantes) e Salvador (2,8 milhões de habitantes). Para sustentar o crescimento, o setor vai demandar investimentos acima de 20 bilhões de reais, estima a associação. Atentos ao desenvolvimento das energias renováveis, mais empresas começam a atuar nesse mercado.
Até 2024, a estimativa é elevar a capacidade instalada de fonte eólica para 24 GW (quase duas Itaipu), de acordo com o Plano Decenal de Expansão de Energia do governo. Com sol e ventos abundantes o ano inteiro, o Brasil tem condições favoráveis para liderar a produção mundial de energias renováveis. Esse potencial tem sido mais bem aproveitado na geração de energia eólica, com criação de empregos e maior participação na matriz energética.
Somente este ano, 50 mil empregos devem ser gerados no setor com a expansão operacional, de acordo com a Abeeólica. “Estamos falando de operários a gestores altamente qualificados que serão necessários para sustentar esse crescimento”, avalia Elbia Gannoum, presidente da Abeeólica.
Dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) revelam que os investimentos em energias renováveis no Brasil chegaram a sete bilhões de dólares em 2015 (ou quase 28 bilhões de reais, considerando o dólar a 3,9 reais de dezembro). A maior parte dos recursos foi destinada à produção de energia eólica (22 bilhões de reais), que adicionou mais dois GW (gigawatt) à matriz energética.
Outra fonte com grandes perspectivas é a de energia solar, que deve ganhar impulso nos próximos anos com o programa do governo de incentivo ao uso dessa fonte. Buscando incentivar a geração de energia solar fotovoltaica, o governo lançou em dezembro o Programa de Desenvolvimento de Geração de Energia (ProGD), que estimula os consumidores residenciais, comerciais e industriais a gerar a própria energia com base em fontes renováveis.
A meta é contemplar 2,7 milhões de consumidores até 2030, e fomentar R$ 100 bilhões em investimentos no período. Em 2015, os projetos de energia solar receberam cerca de 2,5 bilhões de reais, segundo estatísticas da Pnuma.
De olho no potencial das energias renováveis, a usina de Itaipu tem desenvolvido projetos de integração de matrizes energéticas. “O ponto nevrálgico da ampliação da matriz solar é o armazenamento dessa energia. À noite e quando fica nublado, não tem luz”, detalha Jorge Samek, diretor-geral brasileiro de Itaipu. Por isso, a usina desenvolve um projeto para integrar o abastecimento de energia solar com a fonte hidráulica, armazenada em reservatórios.
Quando não houver sol, a água estocada no reservatório pode ser usada para gerar energia elétrica. “Ao contrário de outros países, o Brasil tem a vantagem de poder integrar duas fontes renováveis de energia”, afirma Samek. Outra solução desenvolvida por Itaipu é uma bateria de energia do tamanho de um contêiner, que funciona com diferentes fontes ao mesmo tempo, para uso em localidades remotas. O sistema pode ser carregado por energia solar e acionado quando não houver sol ou em horários de pico de consumo, quando a tarifa é mais cara. A usina de Itaipu ganhou o Prêmio ECO em 2014 com práticas sustentáveis
Para Linda Murasawa, superintendente executiva de desenvolvimento sustentável do Banco Santander, a abundância de recursos naturais e a demanda por crescimento sustentável criam campo para o desenvolvimento de projetos de energias renováveis. “Nos últimos cinco anos, financiamos cerca de 25 bilhões de reais em projetos eólicos que geraram cinco GW (gigawatt) de capacidade instalada”, disse a executiva.
O mercado de energia solar é outro segmento em que o Santander pretende aumentar sua participação. “Vemos boas perspectivas para o Brasil. Temos 60 milhões de residências, e mesmo número de telhados que poderiam usar placas fotovoltaicas para captar energia do sol. Fora as indústrias, hospitais e escolas”, detalha Linda. O Santander venceu dois prêmios ECO em 2015 e 2013. Na ultima edição, o banco foi premiado pelo financiamento de projetos de energia solar para consumidores finais.
A estratégia do Grupo AES, que atua em geração e distribuição hidrelétrica, é diversificar sua produção de energia, para não ficar concentrada em apenas uma matriz energética. “Na AES Tietê, 30% de nosso portfólio será em energias renováveis, especialmente em eólica”, segundo Ítalo Freitas, presidente da AES Tietê. A AES Eletropaulo, uma das empresas do grupo, venceu o Prêmio ECO em 2014 e 2013 com projetos de sustentabilidade na gestão.
As fontes renováveis também geram inclusão social. Na Schneider Electric Brasil, o trabalho social em comunidades remotas só se tornou possível com a criação de produtos baseados em energia solar. “Pelo menos 1,5 milhão de pessoas ainda não tem acesso à energia. Nesses locais, levamos soluções de energia que vão de lanternas recarregáveis por luz solar a geradores movidos à energia solar”, disse Fernando Figueiredo, gerente de sustentabilidade e novos negócios da Schneider Electric Brasil. A Schneider venceu o Prêmio ECO em 2015, 2013 e 2012 com projetos de iluminação em comunidades isoladas.
Para Freitas, as fontes renováveis de energia ocuparão cada vez mais espaço na matriz energética e mudarão a forma de consumo. “No caso da energia solar, a procura vai aumentar quando os custos baixarem. Isso já vem acontecendo com ganhos de escala e eficiência.
Hoje, um painel fotovoltaico tem 17% de aproveitamento, mas chegará a 40% nos próximos vinte anos. Isso vai mudar o cenário energético, trazendo mais autoprodução e geração distribuída. Estaremos preparados para atender a esse novo mercado”, afirma.
Fonte: UDOP/ABEEólica