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Portela lembra na avenida os imigrantes judeus que se instalaram no Recife

em Especial
quinta-feira, 08 de fevereiro de 2018
Cristina Índio do Brasil/ABr

Portela lembra na avenida os imigrantes judeus que se instalaram no Recife

“Minha gente, se prepare / Que essa história vale a pena/ Tome assento, se acomode/ E vejam quem entra em cena / E quem sai, e onde se passa, / Onde termina, ou começa,/ De onde vem ou se destina”

Cristina Índio do Brasil/ABr

Detalhe do carro da Portela que representa a viagem dos judeus do Brasil para Nova Amsterdã – mais tarde chamada de Nova York.

Cristina Índio do Brasil/Agência Brasil

É desse jeito que a carnavalesca Rosa Magalhães faz o convite para o público acompanhar o desfile da Portela este ano, com o enredo “De Repente de Lá Pra Cá e Dirrepente de Cá Pra Lá”. A escola será a segunda a entrar na Marquês de Sapucaí na segunda-feira (12) e vai levar para a passarela do samba a “vida incerta de imigrantes” judeus, conforme o texto de apresentação do enredo.

A Azul e Branco, localizada no limite entre os bairros de Madureira e Oswaldo Cruz, na zona norte do Rio, vai mostrar a história de judeus que fugiram de perseguição por não poderem praticar a sua religião. Eles saíram de Portugal e se instalaram na Holanda e depois vieram para o Brasil, mais precisamente para o Recife, na época em que Pernambuco estava sob o governo holandês, no comando de Maurício de Nassau, que tomou o território para explorar as riquezas do local.

Anos depois, com a retomada das terras pelos portugueses, novamente os judeus tiveram que sair: parte foi para a Holanda, uns para o Caribe e outros buscaram um destino mais longe, foram para a região da Nova Amsterdã, que mais tarde passou a se chamar Nova York. “O enredo tem uma parte que é no Recife, que é o Recife holandês, tem uma parte que é a viagem – quando são expulsos – e tem uma parte quando eles chegam para fundar outra colônia em Nova York, que era também um empório da Companhia das Índias”, adiantou.

A carnavalesca Rosa Magalhães trabalhando no barracão da Portela.Alegorias marcantes foram realizadas pela carnavalesca para contar essa história. A da cidade nordestina é representada pelas casas coloridas do centro histórico, onde foi inaugurada a Kahal Zur Israel, primeira sinagoga das Américas. A parte da viagem vem representada por uma enorme embarcação, com detalhes de piratas, para lembrar que os judeus sofreram ataques durante o trajeto. A cidade de Nova York vem caracterizada com um símbolo da cidade que é a Estátua da Liberdade.

Títulos
A carnavalesca, que coleciona sete campeonatos – o primeiro no Império Serrano, cinco na Imperatriz Leopoldinense e o último na Vila Isabel –, voltou este ano à Portela, onde já tinha elaborado fantasias em carnavais passados. De início, a escola tinha outro enredo, não revelado por ela. Foi necessário fazer uma negociação com a diretoria para a escolha.

“O ideal é já se organizar, mas, em princípio, você não sabe quais são as propostas que vai receber. Tudo é complexo”, contou Rosa Magalhães, acrescentando que, depois de conseguir a aprovação, pôde desenvolver tudo da maneira como tinha programado para apresentar no desfile. Além disso, as restrições orçamentárias impactaram o andamento dos trabalhos. O enredo de 2018 não contou com patrocínio privado e os recursos municipais foram reduzidos à metade.

O primeiro carro alegórico a entrar na avenida terá a presença de integrantes da Velha Guarda.Em compensação, os componentes da escola vão para a passarela com o que têm de melhor e com a expectativa de serem campeões novamente. No ano passado, a Portela dividiu o título com a Mocidade Independente de Padre Miguel, da zona oeste, mas agora, quer exclusividade no campeonato. “O componente da Portela é muito decidido. Ele quer ganhar de qualquer modo”, contou Rosa.

Orgulho de fazer parte
No barracão da escola, o clima é de animação. Elizabeth Sá de Oliveira, a Beth, é auxiliar pelo quarto ano consecutivo do almoxarifado do barracão, onde são guardados os materiais usados para a elaboração de fantasias e dos carros alegóricos. A todo momento, chegam profissionais fazendo os seus pedidos. O controle da saída de tudo tem que ser rígido para evitar desperdícios e deixar tudo dentro do orçamento.
“Julgo o nosso trabalho como bastante importante porque recebemos, armazenamos e distribuímos o material que precisam para a confecção do carnaval. A demanda aumenta conforme vai chegando o carnaval”, contou Beth, relatando que às vezes tem precisado fazer horas-extras. Como portelense, a auxiliar do almoxarifado considera gratificante poder acompanhar a preparação do que a escola levará para a Sapucaí.

“Quando chega na avenida, a emoção é imensa, porque você percebe que fez parte daquilo ali. Tá lindo? Tá sendo elogiado? É motivo de muito orgulho”, disse Beth, sorridente. No dia do desfile, além de participar, ela ajuda os componentes a subir em um dos carros alegóricos na concentração.

Portela 4 temproarioVelha Guarda
Rosa Magalhães revelou um cuidado particular da tradicional escola com a prestigiada Velha Guarda da Portela. O figurino dos componentes da ala de veteranos da escola já foi entregue. “Graças a Deus está pronta com tudo. Não está me deixando nervosa”.

Para prestigiá-los, Rosa ainda reservou lugar especial no Abre Alas, primeiro carro alegórico a entrar na avenida, para integrantes da Velha Guarda, entre eles Vilma, ex-porta bandeira da escola, o compositor e cantor Monarco e a Tia Surica, cantora e umas das principais Yabás –cozinheiras da famosa feijoada da Portela e de outras comidas populares. “Acho que são pessoas importantes dentro da escola. Tem que tirar o chapéu para este pessoal. São pessoas que batalharam e trabalharam muito pela escola também”, contou.