Permanecer muito tempo sentado prejudica a longevidade
Até 4% das mortes no mundo poderiam ser evitadas apenas reduzindo o tempo que as pessoas permanecem sentadas ao longo do dia. Isso representa 433 mil pessoas por ano. Os dados são de um estudo realizado por pesquisadores da USP e da Universidade Federal de Pelotas
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Valéria Dias/Agência USP de Notícias
“No limite, reduzindo o tempo sentado em até 3 horas por dia, seriam evitadas 4% de mortes. Entretanto, reduções mais singelas já repercutiriam em grandes ganhos em saúde pública. Por exemplo, reduzindo em 2 horas/dia o tempo que ficamos sentados seriam evitadas 2% das mortes; se for uma redução de 1 hora/dia, teríamos 1,2% a menos de mortes”, aponta o educador físico Leandro Fórnias Machado de Rezende, da FMUSP.
Juntamente com os pesquisadores Juliana Yukari Kodaira Viscondi e Juan Pablo Rey-López (da FMUSP), Thiago Hérick de Sá e Leandro Martin Totaro Garcia (Faculdade de Saúde Pública da USP), e de Grégore Iven Mielke (Universidade Federal de Pelotas), eles publicaram um artigo sobre o tema no American Journal of Preventive Medicine. E o jornal americano The New York Times publicou uma matéria sobre o tema no último dia 29 de março.
A grande questão é: por que permanecer muito tempo sentado eleva o risco de morte? “Existem alguns mecanismos biológicos do corpo que explicam isso. Ficar muito tempo sentado diminui a expressão de óxido nítrico do organismo [relacionado com algumas funções celulares e ao aumento do estresse oxidativo]. Isso leva ao aumento do risco de alterações cardiovasculares. Ocorre também a diminuição da ativação de uma enzima, a lipase lipoproteica, que é importante no metabolismo oxidativo, no controle de triglicérides, colesterol e outros fatores de risco metabólicos”, explica Rezende, que é doutorando do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP.
O estudo teve o objetivo de avaliar quantas mortes poderiam ser evitadas no mundo caso fosse reduzido o tempo que as pessoas ficam sentadas ao longo do dia. Para isso, os pesquisadores precisavam de dois dados: o tempo médio mundial de permanência nessa posição e o aumento do risco de morte associado a esse tempo.
O tempo médio de permanência sentado foi obtido a partir da análise de artigos publicados em revistas científicas internacionais de 54 países. “Já conhecíamos dois artigos sobre o tema. Um continha dados sobre países europeus (Eurobarometer), e outro apresentava dados de 20 países (International Prevalence Study)”, diz. Além disso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem um inquérito chamado WHO Steps, com informações sobre 94 países. “Eles estavam na forma de relatórios no site da OMS e alguns não reportavam o tempo de permanência sentado. Então entramos em contato, via email, com os 94 países que constavam no WHO Steps”, conta.
Os pesquisadores também fizeram buscas em bases para identificação de dados que, por ventura, não foram identificados nas fontes citadas acima. Quando algum país estava em mais de uma publicação, a estratégia foi utilizar o dado mais recente. Foram contemplados todos os continentes, alguns com mais países outros com menos, e a única exceção foi a África, pois não encontraram material.
Para os dados ligados ao aumento do risco associado ao tempo sentado, os pesquisadores utilizaram uma meta-análise publicada na Revista Científica PLoS ONE. Eles encontraram uma relação que não é linear: para quem fica sentado entre 4 e 7 horas por dia, o risco de morte aumenta em 2% para cada hora sentado. “Por exemplo, ficar sentado 4 horas, aumenta o risco em 2%; 5 horas, 4%; 6 horas, 6%; 7 horas, 8%. A partir de 7 horas sentado, o risco aumenta para 5%; 8 horas, 13%; e 9 horas, 18%”, esclarece o pesquisador.
Estratégias possíveis
Mas o educador físico é realista quanto à dificuldade de se reduzir o tempo que as pessoas permanecem sentadas, principalmente nas grandes cidades, onde é comum encontrar quem gaste muito mais de três horas diárias apenas no percurso entre a casa e o trabalho (sem contar o tempo de expediente). “Sempre que possível, as pessoas poderiam adotar algumas estratégias como ficar de pé, ir buscar água ou café. Uma reunião entre duas pessoas poderia ser feita caminhando lentamente”, sugere. Ele lembra também que já existem no mercado mesas de trabalho que permitem o controle de altura e possibilitam trabalhar em pé.
Para o pesquisador, é preciso ainda não culpabilizar as pessoas: as questões ambientais e sociais também devem ser levadas em conta. “Eu não vou deixar de me deslocar de carro ou de outro meio de transporte caso existam riscos de eu ser assaltado na rua usando uma bicicleta ou andando a pé. O ambiente precisa ser convidativo: uma calçada e uma ciclovia bem feitas, por exemplo, auxiliam na adoção de modos de vida mais ativos e saudáveis.”
Hambúrguer com fibra de abacaxi tem menos gordura
Ana Carolina Brunelli e Caio Albuquerque/Agência USP de Notícias
Já pensou em saborear um hambúrguer sem precisar se preocupar com alto teor de gordura que está ingerindo ou com as calorias que poderá ganhar? A doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, Miriam Selani, dedicou-se em buscar formas de promover o aproveitamento integral dos alimentos, agregando valor nutricional e contribuindo com a sustentabilidade. A ideia foi utilizar resíduos agroindustriais com a proposta de criar produtos mais saudáveis, além de evitar, dessa forma, o desperdício.
Como objeto de estudo, Miriam utilizou subprodutos do processamento de frutas como abacaxi, maracujá e manga, que são usualmente descartados pela indústria. Analisando os potenciais de cada alimento, foi necessário realizar uma seleção, para então iniciar os testes. Entre os três, o abacaxi foi o escolhido. A pesquisadora desenvolveu então, dois produtos alimentícios: extrusado de milho enriquecido com fibra de abacaxi, e hambúrguer bovino com fibra de abacaxi e óleo de canola como substitutos parciais de gordura.
Orientado pela professora Solange Guidolin Canniatti Brazaca e Carmem Josefina Contreras Castillo, do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição da Esalq, o estudo foi realizado em parceria com o The Food Processing Center, Department of Food Science and Technology da University of Nebraska-Lincoln (Estados Unidos). “A indústria alimentícia tem interesse em disponibilizar aos consumidores produtos mais saudáveis, como os enriquecidos com fibras ou com redução do teor de gorduras e colesterol”, contou Miriam. Nesse sentido, a pesquisa apresenta o potencial do subproduto de abacaxi, uma rica fonte de fibras.
Fibras
Segundo a pesquisadora, com os testes foi possível analisar que subprodutos agroindustriais ainda apresentam substâncias com propriedades e atividades importantes para a indústria alimentícia e que podem ser usados para uma segunda aplicação, resultando em ganhos econômicos e redução do impacto ambiental. “Os subprodutos de abacaxi, maracujá e manga, apresentam teores consideráveis de fibras, com destaque para o abacaxi, que pode ser considerado um ingrediente promissor, amplamente disponível e de baixo custo”, ressaltou.
Além das fibras encontradas nos subprodutos, quando aplicado em hambúrguer bovino, como um substituto de gordura, o abacaxi promoveu benefícios tecnológicos após o cozimento. “Rende mais, minimiza a redução do diâmetro do produto quando cozido, retém mais suculência, além de não afetar a cor do alimento”, explicou Miriam.
Em relação aos benefícios nutricionais, a pesquisadora conta que quando comparado ao produto com teor de gordura convencional, o hambúrguer com subprodutos de abacaxi e óleo canola, apresentou redução das calorias, redução do teor de gordura e, após cozidos, apresentaram redução do teor de colesterol e aumento na quantidade de ácidos graxos polinsaturados.
Os hambúrgueres foram avaliados por provadores treinados, que analisaram a cor, sabor, odor, maciez e suculência da carne. “Os provadores disseram que o hambúrguer com abacaxi e óleo de canola é similar ao produto convencional em todos os atributos avaliados”, disse Miriam, e ainda acrescenta “O uso do subproduto de abacaxi como ingrediente mostrou resultados promissores do ponto de vista tecnológico e também nutricional, fato que, no futuro, poderá beneficiar a população”.