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Novos negócios tentam inovação e solução de problemas da sociedade

em Especial
quarta-feira, 17 de julho de 2019
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Novos negócios tentam inovação e solução de problemas da sociedade

A recém-criada fábrica brasiliense Origem se prepara para entregar, no próximo mês, uma frota de 50 motos elétricas para atender empresas de entrega de encomendas que utilizam serviços de motoboy

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Empreendedorismo cresce acima de emprego e ocupação. Foto: Valter Campanato/ABr

Gilberto Costa/Agência Brasil

As motos terão arranque equivalente a um modelo convencional de 300 cilindradas, mas velocidade limitada a 60 quilômetros por hora (km/h).

A ideia dos empreendedores é alugar as motocicletas, já seguradas, a um custo fixo garantindo o fornecimento e trocas de baterias, uma vantagem em tempos de alta do preço dos combustíveis, como a gasolina. Estações para recarga serão instaladas em percursos usuais. A manutenção mecânica da frota, assim como a telemetria para rastreamento e gestão do uso das motos, será feita pela fábrica fornecedora.

“É um excelente momento para iniciar esse empreendimento”, garante Diogo Lisito, 30 anos, um dos três sócios fundadores da empresa que administram o negócio. “Quando leio notícias de que o país está em recessão, eu enxergo como responsabilidade minha ajudar o país a sair da crise”, disse ao comentar que a linha de produção tem dez engenheiros trabalhando diretamente nas motos e deverá contratar mais gente. A empresa tem autorização fiscal para se instalar na Zona Franca de Manaus.

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Empresário Diogo Lisita Pinto, fundador da Origem Motos. Valter Campanato/ABr

A fábrica forma o contingente de empresas inovadoras, definidas como startup: iniciativa de baixo custo e de base tecnológica, cujo modelo de negócio tem potencial de ganho de escala. Essas empresas estão surgindo no país em um momento em que muitas pessoas comuns tentam a oportunidade de ter um negócio próprio em época de alta do desemprego.

Segundo o Portal do Empreendedor – MEI, no início do mês de julho, cerca de 185 mil microempresários haviam optado pelo sistema de recolhimento de tributos em valores fixos mensais (abrangido pelo Simples Nacional). O número é 19% acima do verificado em fins de dezembro do ano passado – crescimento bastante superior ao aumento do emprego formal entre dezembro de 2018 e maio de 2019 (0,91).

Entre dezembro e julho, o número total de microempreendedores individuais passou de 7,7 milhões para mais de 8,5 milhões de pessoas (alta de 10,9%). Para o assessor especial do Ministério da Economia Guilherme Afif Domingos, o crescimento do número de empreendedores tem a ver com a procura de alternativas para obter trabalho e renda. “São empreendedores que estão trabalhando por conta própria, porque emprego, no sistema tradicional, está raro e vai ser muito raro daqui para frente”, prevê.

Afif avalia que a hora é oportuna para superar dificuldades. “No momento de crise, você encontra pessoas dispostas a arriscar sair da zona de conforto para buscar alternativas para própria sobrevivência. Portanto, a crise é alimentadora de atitudes empreendedoras”. O diretor-superintendente do Sebrae no DF, Valdir Oliveira, concorda com o assessor ministerial e acrescenta: “olhamos para crise e vemos recessão e desemprego. O empreendedor vê oportunidade. O dinheiro não some. O dinheiro muda de mão”.

No caso da Mi Petit, pequena empresa que produz comida para crianças, conforme cardápio recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e pelo Ministério da Saúde, a preocupação é oferecer qualidade nutricional, conforme demanda dos pais. “É uma demanda das famílias. A obesidade infantil tornou-se pandemia”, descreve Valéria Freitas, que antes de se juntar à nutricionista sócia da empresa para cuidar de alimentação infantil trabalhou no Brasil e no exterior como engenheira da área de telecomunicações.

A empresa, em funcionamento há dois anos, tem duas lojas em áreas nobres do DF e contrata nove empregados que preparam e vendem cardápio de 41 pratos para almoço ou jantar, cinco sobremesas e dez tipos de lanches. A administradora de RH, Roberta Lopes, é outra empreendedora que tem as crianças como clientela final. Em vez de comida, no entanto, seu negócio, chamado Mundo de Lívia, cuida do divertimento e desenvolvimento infantil. Ela criou uma pequena empresa para aluguel de brinquedos para crianças na fase inicial de desenvolvimento congnitivo.

A design Jussara Pelicano Botelho e outras duas sócias também já contrataram uma funcionária em um negócio que começa a engatinhar: há mais de um ano, elas criaram um aplicativo para atender mulheres de todas as idades que querem viajar sozinhas, em segurança, e com poucos recursos. A plataforma liga viajantes e anfitriãs em 75 cidades brasileiras e já reúne uma comunidade com mais de 3 mil mulheres. “Elaboramos um produto que está resolvendo problemas reais”, descreve.

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Empresária Valéria Freitas, fundadora da Mi Petit. Foto: Valter Campanato/ABr

Diego Reis, especialista em tecnologia e segurança da informação, fundou o grupo Afroempreendedor e assumiu como missão o desenvolvimento de produtos e atividades que geram empoderamento e inclusão social. “A gente quer equilibrar o jogo para que os pretos e negros tenham mais espaço na sociedade e, no nosso caso, no empreendedorismo”, resume. “O empreendedorismo é libertador”, defende. Reis, que toca sete projetos, reclama no entanto da falta de crédito: “não consegui pegar capital de giro de R$ 30 mil em um ano”.

A mesma dificuldade é relatada por Diogo Lisita. “Agora precisamos da grana, mas não temos como dar todas as garantias que os bancos exigem. Quando mais precisa, a economia parece estar menos disposta”, observa. “Querem oferecer o dinheiro depois que o seu negócio está validado, depois que você passou pela parte mais difícil. O mercado brasileiro tem apetite por inovação, melhoria, eficiência e por lucratividade. Só que não tem um apetite tão grande quanto vemos num ecossistema de startup no Vale do Silício, Europa, Índia e Israel”, compara.

Guilherme Afif Domingos faz coro com os dois empreendedores. “É flagrante a escassez de crédito, principalmente para o segmento de pequena empresa. O microcrédito famoso não chega”, pondera. O assessor especial do Ministério da Economia é bastante crítico quanto às dificuldades de se obter empréstimos. “O sistema bancário é muito concentrado nas mãos de poucos que arrecadam de todos e emprestam só para alguns – aqueles que têm garantia reais para poder dar. O custo hoje do crédito é de agiotagem”.