Marido-técnico fez Poliana Okimoto migrar da piscina para o mar
Pouco conhecida no Brasil e relativamente recente no programa olímpico (é disputada desde os Jogos de Pequim, em 2008), a maratona aquática tem o nome de Poliana Okimoto como referência.
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Pioneira na modalidade (disputada em águas abertas) no país, Poliana experimentou um período de adaptação, sofreu derrotas, passou por privações e conquistou, no que parece ser uma história com final feliz, a redenção em uma medalha olímpica. Poliana, que já nadava desde os 13 anos de idade, só foi conhecer a maratona aquática aos 21 anos.
Ela, que já havia até participado de um Mundial nos 800m e nadava apenas em piscinas, entrou no mar para disputar uma prova por causa de uma imposição em casa. Num certo domingo de 2004, Ricardo Cintra, marido e técnico, estava assistindo a prova da Travessia dos Fortes (disputada na Praia de Copacabana) pela televisão quando disse para Poliana: “em 2005, você vai fazer essa prova”.
No momento em que ele falou isso, a nadadora não levou muito a sério. O marido-técnico realmente via um potencial nela. “Ela achou que eu estava brincando. Mas eu realmente fiz a inscrição dela em 2005. Ela ficou nervosa, mas quando viu as adversárias, ela, que é muito competitiva, nadou e bateu recorde da prova [que tinha 3.800m]”, conta Cintra. O desempenho de Poliana atestou o que Cintra já desconfiava: “Nos treinamentos, eu via que ela tinha uma condição aeróbica muito boa. Sabia que as provas de piscina (800m e 1.500m) eram curtas para ela. Aí eu falei: este é o esporte ideal para você. E foi como tudo começou”, conta Cintra.
A primeira chance foi em Pequim. Poliana nadou bem e acabou em sétimo lugar. Mas ela sabia que poderia ter feito mais. A prova foi o título mundial em 2009. Na Copa do Mundo, ela venceu 11 das 13 provas da competição. Em 2012, Poliana teve a segunda chance, mas sofreu uma crise de hipotermia durante a competição. “Londres foi uma fatalidade. Maratona aquática é isso. A gente brinca que piscina é matemática. Sempre aquela temperatura, ir e voltar, ir e voltar. Não tem contato físico. Na maratona aquática tudo pode acontecer. Tem uma série de fatores. Em Londres, a água era muito fria e ela teve que abandonar”, relembra Cintra.
Já com 29 anos, Poliana sabia que as chances de uma medalha estavam acabando. Por isso, se dedicou ainda mais. Além dos treinos pesados, ela e o marido seguiram uma rotina regrada de vida. Alimentação, só sem glúten. “Sem gosto”, como diz Poliana. Ela tinha que ir para a cama cedo e acordar cedo. Diversão não tinha muita. “Nossa rotina era treinar, comer e dormir. É uma rotina bem cansativa. Teve uma fase que eu comecei a ter pena dela. E técnico não pode ter pena. Mas marido pode”, diz Cintra.
O dia de mensurar se o esforço daria resultado estava marcado. Em 15 de agosto de 2016, Poliana fez uma prova constante na Praia de Copacabana (mesmo lugar da estreia), mas chegou em quarto lugar. A medalha estava perdida, só que por apenas alguns minutos. Poliana conta tudo o que sentiu naqueles instantes: “Na hora que eu cheguei, estava exausta. Foi na superação, foi na coragem a minha prova. É claro que o quarto lugar é a pior posição que tem, é a mais ingrata. Senti que tinha faltado um pouquinho. Eu dei o meu máximo e a preparação foi a máxima para cá. Eu não tinha mais o que fazer e eu não esperava ganhar a terceira posição. Estava tranquila, mas eu não estava emocionada”.
Quando chegou a notícia de que a francesa Aurélie Muller (que havia cruzado a linha de chegada em segundo) foi desclassificada, Poliana não aguentou: “Depois que me disseram que tinha ganho o terceiro lugar, não sei de onde saiu tanta lágrima. Eu já tinha deixado toda a água do meu corpo no mar. Saía tanta água do meu olho que não sabia o que dizer”. O bronze havia chegado. Poliana tem um plano em curto prazo: aproveitar o gosto de coisas que estava proibida de comer: “Vou comer bem, vou comer doce. Eu tinha que comer tudo sem glúten. E as coisas sem glúten não têm gosto. É ruim e eu tinha que comer. Agora, eu vou sair um pouco da dieta. Desculpa nutri [nutricionista]”.
Depois de comer, dormir e descansar. Poliana e o marido esperam fazer mais pelo esporte em que são pioneiros. E para 2020, há planos? De acordo com Poliana, ainda não. “Deixa eu aproveitar a medalha, por enquanto. A minha vida era nadar, comer e dormir. Não me arrependo de nada do que eu fiz. Mas vou parar um pouco”, planeja a nadadora (EBC).
Zanetti diz que competiu sem saber que grego havia feito “série perfeita”
No dia em que conquistou a segunda medalha olímpica da carreira, o ginasta Arthur Zanetti realizou uma série ótima nas argolas. Sempre firme nos movimentos e com uma aterrissagem quase perfeita, o brasileiro conseguiu nota 15.766. A performance poderia valer o ouro, mas pouco antes o grego Eleftherios Petrounias havia conquistado a nota 16.000 (o que equivale a uma série perfeita).
Ao conceder entrevista após a vitória, Zanetti confidenciou que não sabia da nota dos adversários. Último a se apresentar, ele optou por se concentrar no próprio trabalho e só soube da posição após fazer seus movimentos na argola: “Eu não vi a série dele, não vi a nota. Só fiquei sabendo que eu fiquei em segundo lugar quando saiu no placar. Nenhuma outra prova eu assisti. Eu estava disputando no escuro e era o que eu queria: competir tranquilo, fazer a minha prova e sair satisfeito. É melhor porque você precisa cuidar de si para depois pensar em seus adversários”.
Apesar de Zanetti não ter visto o desempenho do grego, o técnico Marcos Goto diz que o ginasta tinha noção da força do rival. “Antes da competição, a gente já estava vendo os treinos. E ele já estava bem para caramba. Você não faz muita coisa diferente do que você treina. A gente achou que seria um páreo duro”, disse Goto. Sobre umaa possível rivalidade, uma vez que Petrounias tirou o título de Zanetti no Brasil e ainda superou a marca do brasileiro de Londres (15.900), Goto desconversou: “Não tem essa de rivalidade. O grego nem disputou em 2012. Isso é coisa que a mídia fala, mas não nos atinge de jeito nenhum”.
Casamento e investimento
Para o ginasta, as Olimpíadas do Rio marcaram o fim de um ciclo. De acordo com ele, agora é hora de “curtir a vida socialmente”. “Quero comer direito, comer as coisas que eu quero. Já faz muito tempo que estou na dieta. Quero fugir um pouquinho e a nutricionista diz que eu estou liberado. A gente precisa viver também. Eu preciso casar, preciso ter filhos, preciso ter uma família. Sair, curtir também a vida e não, simplesmente, ficar nos treinamentos”, diz.
Apesar dos planos, Zanetti diz que a Olimpíada de 2020 está no radar. Para tanto, espera que os investimentos no esporte não cessem após os jogos do Rio. “A gente espera que o incentivo continue ou melhore. Porque você viu que com investimento se consegue trazer resultados. Precisamos de investimentos na base porque não adianta ter um atleta já formado. Precisamos construir uma base boa para se ter quantidade e para que se possa tirar qualidade. É o que a gente briga todos os dias e espera que aconteça no futuro.”
Goto endossa o desejo de que o investimento na ginástica não acabe após o fim do ciclo olímpico. “Eu espero que, no mínimo, mantenham o orçamento que a gente tem hoje para manter o trabalho em 2020. Espero que outros órgãos ajudem na formação de atletas no país. Nós necessitamos de formação de novos treinadores e de atletas. Você ter atleta de seleção é uma coisa. Você formar, é outra”, conclui (EBC).