Lixo no mar brasileiro vai de drogas a plástico
Plásticos, medicamentos, drogas e esgoto doméstico: desses objetos é composta a maior parte da poluição dos mares brasileiros, segundo levantamento realizado pelo Instituto Oceanográfico (IO) da USP e a Plastivida (Instituto Socioambiental dos Plásticos) em praias de São Paulo, Bahia e Alagoas
Levantamento do IO e Plastivida mostra a diversidade de objetos encontrados em praias no País. |
Sabrina Brito/Jornal da USP
O monitoramento faz parte de uma série de ações realizadas desde 2012, a partir de um convênio entre as instituições, para o correto tratamento do meio ambiente aquático.
Os estudos resultantes dessa associação têm como objetivo conhecer melhor o tamanho e as características da poluição do oceano no Brasil, dimensionar a contribuição do País para a situação global e desvendar a origem dos resíduos nos mares e praias nacionais. Até o momento, as conclusões obtidas foram principalmente duas: a de que o lixo presente nas águas oceânicas advém, majoritariamente, do continente e a de que o problema é multisetorial (ou seja, a variedade dos lixos encontrados no mar é enorme).
Dessa forma, o IO e a Plastivida interpretaram os resultados como indícios de que o cidadão pode ter um grande papel na melhora dessa situação, já que o lixo dos continentes é gerado por ele. Por isso, a parceria também foca na educação do público acerca do descarte de resíduos nos mares. Alexander Turra, professor do Departamento de Oceanografia Biológica do IO, acredita que o convênio entre os dois institutos pode ajudar muito a USP: “As ações que organizamos de forma colaborativa nos aproxima da missão da Universidade. Aqui, nós buscamos formar recursos humanos e produzir conhecimento. Com isso, queremos trabalhar cada vez mais para a melhora do ambiente”, afirma.
Com a cooperação de mais 16 empresas, a Plastivida, junto com o Instituto Oceanográfico, organiza há um ano o Fórum Setorial dos Plásticos – Por um Mar Limpo, que concretiza diversas interações em escolas, universidades e outras instituições. O objetivo é compartilhar o conhecimento com o público – não apenas as causas e as consequências da poluição marítima, mas também as formas através das quais o cidadão comum pode ajudar em busca da solução do problema. Outro apoiador do programa é o governo federal, por meio da Gerência Costeira do Departamento de Zoneamento Territorial do Ministério do Meio Ambiente.
O fórum é uma construção para promover um movimento de diálogo e integração para delinear os próximos passos do projeto. Com a ajuda desse movimento, os participantes pretendem pesquisar alternativas de atitudes que o setor industrial e a população possam tomar para combater o lixo presente no mar. “O Instituto Oceanográfico é um moderador desse diálogo. Nós auxiliamos as empresas a canalizarem as informações científicas corretas e a realizar as melhores ações concretas possíveis”, comentou o professor Turra.
Outra ação educativa resultante da parceria entre o IO e a Plastivida é o projeto EnTenda o Lixo, durante o qual os participantes realizam atividades que envolvem informações técnicas, pesquisas sobre a situação dos lixos presentes no mar, coleta de materiais e reciclagem. Ao longo do programa, os visitantes atuam em um processo prático de coleta de amostras de resíduos para acompanhar a observação das características e da origem do material coletado. Com base nas informações geradas, os educadores incentivam reflexões acerca das possíveis estratégias para solucionar o problema.
Além de organizar eventos e planejar atividades, as empresas participantes do fórum disponibilizaram uma plataforma on-line para concentrar informações e propostas do grupo. A página pode ser acessada neste link. Os principais objetivos da USP nesses projetos são a educação ambiental em relação ao consumo consciente e ao correto descarte de resíduos. A ideia é que, com as instruções corretas, a população poderá ajudar a manter a natureza limpa e saudável. Por isso, faz parte de todas as ações organizadas pelo IO um momento de instrução e conversa com o público.
Dieta que une açúcar e gordura causa mais danos ao organismo
Valéria Dias/Jornal da USP
Pesquisa do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP mostrou que camundongos submetidos a uma dieta muito rica, ao mesmo tempo, em gordura e em açúcar tiveram um aumento da inflamação celular e da resistência à insulina induzidas por essas dietas separadamente. Os dados estão no artigo Combination of a high-fat diet with sweetened condensed milk exacerbates inflammation and insulin resistance induced by each separately in mice publicado em junho na Revista Scientific Report, do grupo Nature.
A pesquisa foi realizada pela professora de educação física Laureane Nunes Masi, durante seu doutorado, sob a orientação do professor Rui Curi, do Departamento de Fisiologia e Biofísica do ICB. Os estudos foram realizados com cerca de 50 camundongos, com 12 semanas de idade, separados em quatro grupos e recebendo quatro dietas distintas, durante oito semanas. O grupo controle recebeu alimentação balanceada.
Já os outros três receberam dietas que causam obesidade (obesogênicas): o segundo grupo foi alimentado com a dieta controle mais leite condensado (oferecido à vontade, mas em um recipiente à parte); o terceiro grupo recebeu dieta rica em gordura (chamada de hiperlipídica: 59% de calorias em gordura); e o quarto grupo foi uma combinação das duas dietas anteriores (hiperlipídica mais leite condensado).
Ao final das oito semanas, a pesquisadora constatou que as três dietas que causam obesidade levaram ao aumento de peso dos animais, mas cada uma causou algum tipo diferente de prejuízo ao organismo. Os resultados indicaram que essas dietas levaram à intolerância à glicose, e ao aumento do depósito de gordura visceral, do tamanho das células de gordura, do peso do fígado e do nível de colesterol total, quando comparadas à dieta controle.
A dieta que associou açúcar e gordura foi a mais prejudicial entre elas, pois intensificou todos esses malefícios causados ao organismo pelas outras dietas. Em média, o peso inicial dos camundongo com 12 semanas é de 26 gramas. De acordo com a pesquisadora, o trabalho pode ajudar a comunidade científica que estuda a obesidade induzida por dietas ricas em açúcar e/ou em gordura.
“Observa-se que pessoas obesas apresentam sintomas e desordens diferentes umas das outras. Com esta pesquisa, mostramos que os hábitos alimentares e a ingestão crônica de um ou outro macronutriente é determinante nos malefícios decorrentes da obesidade”, aponta Laureane, que avaliou alguns tecidos dos animais, como fígado, o músculo esquelético sóleo (na perna), além do tecido adiposo (gordura) e dos macrófagos (células de defesa) da cavidade gastrointestinal. Nos macrófagos, ela observou o aumento de uma substância chamada interleucina 6, que indica inflamação.
Os animais alimentados com a dieta rica em açúcar, quando comparados aos animais que receberam dieta rica em gordura, apresentaram mais marcadores pró-inflamatórios nos tecidos analisados. “A inflamação, ou processo inflamatório, é uma reação do organismo a uma infecção ou lesão e faz parte do sistema imunológico do corpo. Isso ocorre internamente, nas células e tecidos, sem a gente ver, também em decorrência da ingestão crônica de uma dieta obesogênica”, explica a pesquisadora. “Enquanto na inflamação aguda, frente a uma lesão, por exemplo, observamos os sinais de calor, vermelhidão, inchaço e dor, na inflamação crônica decorrente da obesidade podemos observar aumento de algumas proteínas no sangue e nos tecidos do nosso corpo.”
No fígado, Laureane observou a ocorrência de fibrogênese (excesso de fibras), que corresponde a uma cicatrização do fígado frente a uma lesão. A fibrogênese é uma reação final da esteato-hepatite não alcoólica, doença caracterizada pelo acúmulo de gordura no fígado. No final da doença, o excesso de gordura se transforma em excesso de fibras, que posteriormente evolui para uma cirrose. “Foi interessante observar que os animais alimentados com dieta rica em açúcar não apresentaram acúmulo de gordura no fígado, mas parecem ter passado direto dessa fase da doença para a fibrose hepática”, diz a pesquisadora. Também foi verificado o aumento do TNF-a (fator de necrose tumoral), uma substância indicadora de inflamação.
Já a dieta rica em gordura levou ao aumento da taxa de açúcar no sangue (aumento da glicemia) e foi mais prejudicial para a sensibilidade periférica à insulina. “Os animais foram testados com uma sobrecarga de glicose. Ao longo do tempo, foi constatado que a glicemia não diminuiu como no grupo que recebeu dieta balanceada. Isso indica que a glicose não está sendo bem absorvida, existe uma intolerância à glicose”, esclarece Laureane.
Também foi constatado que essa dieta causou o acúmulo de gordura no fígado. A longo prazo, essa condição leva à inflamação e à formação de fibrose, como observado nesse mesmo estudo com a ingestão de dieta rica em açúcar.