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Gastar menos energia é melhor ação contra aquecimento global

em Especial
segunda-feira, 14 de dezembro de 2015
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Gastar menos energia é melhor ação contra aquecimento global

A meta internacional de manter o aquecimento global abaixo dos 2ºC pode não ser cumprida se o foco das ações for apenas na implantação de tecnologias de emissões negativas de carbono. Procurar gastar menos energia “suja”, como petróleo, carvão, e priorizar o uso eólico, solar e de biomassa são as melhores alternativas

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Uso eólico priorizado e menos energia suja são melhores alternativas ao aquecimento.

Hérika Dias/Agência USP de Notícias

O alerta consta do estudo “Biophysical and economic limits to negative CO2 emissions”, publicado no dia 7 de dezembro, na revista especializada Nature Climate Change. “As emissões negativas são tecnologias que permitem você remover da atmosfera o gás carbônico e outros gases do efeito estufa que já foram lançados na atmosfera”, explica o professor José Moreira, do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEE) da USP, coautor do estudo que foi liderado pelo professor Pete Smith, da Universidade de Aberdeen (Reino Unido).

A discussão de formas de conter o aquecimento global é importante, principalmente após a COP 21, na França. De 30 de novembro a 12 de dezembro, lideranças de 196 países do mundo discutiram um acordo mundial para conter o aquecimento global abaixo dos 2ºC até ao final do século. Esse limite de 2ºC foi acordado pela primeira vez em Copenhague, em 2009 e, depois, aprovado na Cúpula do Clima em Cancún, em 2010.

Segundo o professor Moreira, a preocupação dos cientistas é de que alguns políticos mundiais estejam “se esforçando pouco” em diminuir as emissões de gás carbônico, principal responsável pelo aumento da temperatura terrestre. “Isso pode ser consequência da crença de alguns dos tomadores de decisão em avaliações científicas de que se poderá usar, no futuro, tecnologias de emissões negativas de gás carbônico para evitar o aquecimento do planeta”.

Por isso, a pesquisa apresentada na Nature Climate Change demonstra os impactos das tecnologias de emissões negativas sobre o uso da terra, emissões de gases de efeito de estufa, uso da água, refletividade da Terra e esgotamento de nutrientes do solo, além dos requisitos de energia e de custos para cada tecnologia.

“A mensagem-chave do nosso estudo é que não devemos contar ainda com estas tecnologias não amplamente comprovadas para salvar nosso futuro. Em vez disso, cortes rápidos e agressivos nas emissões de gases de efeito estufa são necessários agora. A janela de oportunidade está se fechando rapidamente, por isso é imperativo obter um acordo global em Paris este mês para avançar nesse sério problema”, afirma Pete Smith. O professor da Universidade de Aberdeen disse ainda que as tecnologias de emissões negativas têm limitações significativas e é preciso investir em pesquisa e desenvolvimento para tentar superar essas limitações.

lampada temproarioMoreira destaca que são poucas as opções de tecnologias de emissões negativas. As abordadas no estudo foram: o florestamento e reflorestamento (plantar mais árvores para absorver gás carbônico), uso de produtos químicos para absorver gás carbônico do ar, aumento da produção de biocombustíveis (com a captura do gás carbônico liberado durante o seu processamento e, em seguida, armazenamento permanente abaixo do solo), trituração de rochas que, naturalmente, absorvem gás carbônico, espalhando-as sobre os solos para que elas removam o gás mais rapidamente.

O estudo aponta que muitas dessas ações podem ser inviáveis em grande escala e geram potenciais impactos ambientais, econômicos e de energia. Moreira dá o exemplo da produção de biocombustível com a captura do gás carbônico liberado durante o seu processamento e armazenamento abaixo do solo. Apesar de ser uma fonte alternativa e renovável para a produção de energia, o seu processo pode causar riscos que ainda não estão totalmente avaliados.

“O bioetanol utilizado no Brasil é um exemplo desse tipo de combustível. Se o bioetanol fosse adotado por todos os países, precisaríamos de uma quantidade enorme de cana-de-açúcar para atender a demanda e com isso deslocaríamos culturas alimentares, deixando de produzir milho, trigo e gerar um problema de não atender as necessidades básicas da população em relação à alimentação”, disse o professor, ele ainda ressalta que mais estudos são necessários para confirmar ou negar esses riscos.
Outra tecnologia de emissão negativa de carbono que possui limitações de uso são os produtos químicos para absorver gás carbônico do ar. “Existe a tecnologia, mas gasta-se muita energia para fazer isso, e se a fonte de energia for petróleo ou carvão, por exemplo, o processo é inútil, pois se tira gás carbônico e lança mais na atmosfera”, conta o professor.

“Nossa recomendação é de que continuem os esforços de mitigação, ou seja, de procurar gastar menos energia que não sejam sujas, do tipo eólica, solar e biomassa (como a cana-de açúcar) as quais agregam pouco gás carbônico na atmosfera, comparado com os combustíveis fósseis, porque não é confiável acreditar, nesse momento, que a ciência pode usar essas emissões negativas em grande escala no futuro”, complementa Moreira.

solar-ecod temproarioO efeito estufa é um fenômeno natural de aquecimento térmico da Terra, ele é ocasionado pela ação de gases que compõem a atmosfera (gás carbônico, metano, óxido nitroso, entre outros). Eles impedem que parte da energia do sol absorvida pela Terra durante o dia seja emitida de volta para o espaço e, assim, contribuem para a manutenção da temperatura média terrestre.

Entretanto a concentração natural desses gases está aumentando por causa da ação humana, como a queima de combustíveis fósseis — petróleo e carvão, por exemplo — e o desmatamento, que resultam no lançamento de mais gases na atmosfera, como o gás carbônico. O excesso desses gases na atmosfera faz com que parte dos raios solares não consigam voltar para o espaço, provocando uma elevação na temperatura de todo o planeta, o aquecimento global.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) da ONU, que conta com a participação de cientistas e técnicos para avaliar e relatar as variações climáticas e impactos ambientais, desenhou diferentes cenários para o aquecimento da Terra. Se nada for feito e o mundo continuar no caminho atual, poderá haver um aumento médio global da temperatura de 4ºC até ao final deste século.

Devido às emissões de carbono feitas até o momento, a temperatura média global subiu 0,85ºC. De acordo com o IPCC, esse pequeno aumento causou grandes impactos: quase metade das calotas polares do Ártico derreteram, milhões de hectares de árvores no oeste americano morreram devido a pragas relacionadas com o calor e os maiores glaciares no oeste da Antártida — com dezenas de milhões de metros cúbicos de gelo — começaram a se desintegrar.

Partículas da atmosfera amazônica são líquidas

Modelos climáticos globais não levam em conta particularidades da amazôniaValéria Dias/Ag. USP de Notícias

O estado físico das partículas da atmosfera amazônica são líquidas em 80% do tempo. Mas elas deixam de ser líquidas para se tornarem sólidas quando massas de ar vindas de Manaus contendo poluição urbana encontram essas partículas. É o que mostra um estudo publicado na revista Nature Geosciences, na edição desta segunda, 7 de dezembro. O trabalho também aponta para a necessidade de alteração dos modelos climáticos globais, pois eles são baseados na realidade das florestas boreais da Finlândia, no norte europeu, e não levam em conta as particularidades do bioma amazônico.
“Antigamente pensava-se que essas partículas eram sólidas e que as reações que elas participavam com os gases da atmosfera ocorriam entre o meio sólido e o gasoso. O fato de elas serem líquidas muda todos os mecanismos químicos de reação entre elas e os gases atmosféricos”, destaca o professor Paulo Artaxo, do Instituto de Física (IF) da USP e um dos coordenadores do estudo GoAmazon2014/15.
O trabalho contou com a participação de uma grande equipe envolvendo pesquisadores da USP, da Universidade de Harvard, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), da Universidade do Estado da Amazônia (UEA) e de outras instituições, e integra o Programa LBA — Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia.
As partículas estudadas pelos cientistas são produzidas por compostos orgânicos voláteis: os monoterpenos e o isopreno. Eles são liberados pelas plantas naturalmente dentro do seu metabolismo, exercem um papel fundamental na regulação do clima da região amazônica e estão ligados aos mecanismos de formação de nuvens e no controle do balanço radioativo da atmosfera. O trabalho elucida, pela primeira vez, os mecanismos de formação dessas partículas, e seu estado sólido ou líquido.