Entenda como a eleição de Donald Trump pode afetar o Brasil
Contrariando expectativas para o pleito presidencial norte-americano deste ano, o empresário bilionário e candidato pelo Partido Republicano, Donald Trump, venceu a ex-primeira dama e ex-secretária de Estado, Hillary Clinton, do Partido Democrata. Ouvimos especialistas para saber o que muda para o Brasil com o resultado das eleições nos Estados Unidos
As exportações brasileiras podem ser prejudicadas caso o discurso de Trump se converta na prática. |
Paula Laboissière/Agência Brasil
Economia
O que muda para o Brasil, sob o aspecto econômico, pode ser o que vai mudar para o comércio mundial como um todo. A avaliação é do economista e professor da Fundação Getúlio Vargas, Mauro Rochlin. A leitura dos efeitos da vitória de Donald Trump, segundo ele, é bem mais abrangente sob o ponto de vista econômico e diz respeito a todo o comércio internacional.
“Como o discurso de Trump é muito protecionista e um tanto xenófobo, o receio é que isso represente uma restrição maior do mercado norte-americano em relação às exportações. O discurso apontava para a defesa de empregos e, especificamente, para a China como uma destruidora de empregos nos Estados Unidos, o que faria supor que eles seriam menos receptivos com relação ao comércio com países que pudessem representar uma menor oferta de empregos lá.”
O especialista acredita que as exportações brasileiras podem ser prejudicadas caso o discurso do então candidato se converta na prática do agora presidente eleito Donald Trump. “Os Estados Unidos são o segundo principal parceiro comercial do Brasil. As exportações brasileiras para lá têm alto valor agregado. São produtos manufaturados, ao contrário do que vai, por exemplo, para a China, que são commodities. Qualquer restrição com relação ao mercado norte-americano seria ruim para o nosso setor exportador, principalmente de bens manufaturados. Esse é o maior risco para a economia brasileira”.
Rochlin defende ainda que, diante do novo cenário de vitória de Trump, os mercados devem “reprecificar” câmbio e bolsas de valores. “As bolsas e o câmbio refletiam a aposta da eleição da Hillary. Como a expectativa não se confirmou, o mercado deve precificar essa nova realidade. Na prática, teremos queda na bolsa de valores a curtíssimo prazo e uma alta do dólar em relação às demais moedas”, concluiu.
Relação bilateral
Sob a ótica política e da relação bilateral com o Brasil, o professor de política e administração pública Robert Gregory Michner acredita que os efeitos serão menores. Ele lembrou que a agenda de Donald Trump, em sua maioria, é “de ordem doméstica”, cumprindo a tradição da velha guarda republicana nos Estados Unidos.
“Ele não tem uma grande preocupação com a América Latina, salvo no sentido negativo, em termos de imigração ilegal. Para os brasileiros que queiram ir para os Estados Unidos, provavelmente vai ficar mais difícil obter visto”, disse. “Aquela defesa da democracia e de um governo aberto que tem Barack Obama não vai ser de muita importância para Trump. Vai ser mais importante assegurar que todos sejam aliados dos Estados Unidos. Que o Brasil e a América Latina estejam firmemente pró Estados Unidos”.
O especialista alertou, entretanto, para a possibilidade de intervencionismo por parte dos Estados Unidos, inclusive em países da América Latina. “Se o Trump percebe uma ameaça, por exemplo, [da] Venezuela ou Equador, quem sabe se ele vai ressuscitar a velha política dos republicanos de intervenção”?
“Basicamente, vamos ver se o discurso dele, que era muito hiperbólico, exagerado, realmente era pura retórica ou se era um prelúdio à ação. As promessas eram muito extremas em termos de política externa, de mudar grandes estratégias dos Estados Unidos em diversos sentidos. O discurso de Trump sempre foi racista, misógino e pouco tolerante. Vamos ver se isso se traduz, especialmente em relação aos imigrantes. Fica uma incógnita.”
Brasil entre os menos afetados
Em entrevista ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional, o jurista brasileiro e ex-ministro das Relações Exteriores Francisco Rezek avaliou que o Brasil figura entre os países menos afetados com a vitória insperada de Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas.
“No restante do mundo e sobretudo entre os países que mais importam, eu diria que o Brasil é provavelmente um dos menos afetados. Há outros países que têm mais com o que se preocupar do que nós. Sobre nós, o que repercute é apenas essa ideia de que temos, na chefia daquilo que ainda é a nação militarmente e economicamente mais poderosa do mundo, alguém que não tem como avaliar o fenômeno global, os interesses nacionais à luz da comunidade humana que povoa o planeta. É isso que falta a Donald Trump. Nesse sentido, como somos uma parte expressiva deste mundo, um país de dimensões territorial e humana colossais, o problema nos afeta. Mas ele decididamente não nos afeta mais do que a outros, como a comunidade europeia, o Reino Unido, a Rússia e outras nações”.
Temer deseja êxito a Trump e diz que Brasil e EUA mantêm fortes relações
O presidente Michel Temer enviou na manhã de ontem (9) carta ao presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, felicitando-o pela vitória no pleito norte-americano. Na carta, Temer deseja “pleno êxito” ao governo dos EUA e diz que os dois países são grandes democracias que mantêm “fortes relações nos mais diferentes domínios”. Temer disse, ainda, estar “certo de que trabalharemos juntos para estreitar ainda mais os laços de amizade e cooperação entre os povos”.
O porta-voz da Presidência, Alexandre Parola, disse que o presidente Temer acompanhou ao longo da noite o desenrolar do processo eleitoral que resultou na eleição de Donald Trump. “Ao desejar êxito ao novo presidente norte-americano no cumprimento de seu mandato, o presidente Michel Temer manifesta sua disposição para trabalhar conjuntamente com o novo governo de Washington em beneficio mútuo de nossos povos”, disse o porta-voz.
Ao informar sobre o envio da mensagem Parola acrescentou que as relações entre Brasil e EUA são marcadas por “elevado grau de intensidade e diversidade”, e que isso se observa não apenas no plano governamental, mas também “nos fortes laços que a sociedade e empresariado nos mais diversos campos”. Mais cedo, o presidente Michel Temer comentou, em sua conta no Twitter, a vitória de Donald Trump. Na avaliação dele, os dois países devem manter a institucionalidade das relações e, portanto, não devem ocorrer mudanças significativas entre as duas nações (ABr).
Após eleições, republicanos dominarão Congresso
O novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contará com a maioria tanto no Senado como na Câmara no início de seu mandato. Mesmo com algumas apurações ainda em andamento, os republicanos dominarão as duas Casas. Para o Senado, onde havia 34 dos 100 assentos em disputa, os republicanos venceram e agora contam com um total de 51 representantes contra 45 democratas e dois independentes. Duas vagas continuam em aberto. Na Câmara, os republicanos também venceram, levando 236 assentos contra 192 dos democratas – nove vagas estão ainda em aberto.
Entre os principais estados que elegiam senadores, a sigla do novo presidente conquistou representantes na Flórida, em Indiana, no Missouri, em New Hampshire, na Carolina do Norte, na Pensilvânia e em Wisconsin. Os democratas venceram apenas nos “estados-chave” de Illinois e de Nevada. Cenário parecido ocorreu na eleição para a Câmara, em que os membros do partido de Hillary Clinton venceram em apenas 4 dos 11 mais importantes locais de votação.
Com isso, algumas das propostas de Trump devem ser aprovadas sem grandes dificuldades. A maior delas, provavelmente, será a revogação da lei de saúde aprovada pelo presidente Barack Obama. O “Obamacare” foi alvo de duras críticas do então candidato e deve ser revogado com amplo apoio dos republicanos. No entanto, outras mudanças – especialmente nas questões econômicas – não deverão ser tão “tranquilas”. Isso porque Trump não contou com o apoio de muitos políticos de seu partido durante toda a corrida eleitoral.
A maior das desavenças foi, inclusive, com o porta-voz do Congresso, o senador Paul Ryan, que só demonstrou apoio ao magnata após ele ser nomeado oficialmente pelo Partido Republicano. Com 100% das urnas apuradas, os democratas venceram em Delaware, na Carolina do Norte e em West Virginia – além de liderarem, com boa vantagem em Washington, em Montana e no Oregon. Já os republicanos conquistaram os governos de Indiana, Missouri, New Hampshire, Dakota do Norte e Vermont e lideram com ampla vantagem a disputa em Utah (ANSA).