Bullying na escola está ligado à má relação familiar, diz estudo
O bullying é um problema social mundial que acontece, na maioria das vezes, com crianças e dentro do ambiente escolar
A pesquisa foi feita com 2.354 estudantes com idade entre 10 e 19 anos de escolas públicas de Uberaba. |
Stella Arengheri/Jornal da USP
O que quase ninguém sabe é que as relações familiares podem influenciar diretamente no envolvimento de estudantes com o bullying. Uma pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP apontou as relações ruins dentro de casa como um dos fatores que afetam o comportamento das crianças e adolescentes dentro da sala de aula.
Segundo o psicólogo Wanderlei Abadio de Oliveira, pesquisador responsável pelo estudo, tanto as crianças que sofrem bullying quanto as que praticam têm histórico de más relações familiares. “Essas relações são marcadas pela falta de diálogo saudável e de envolvimento emocional. Também está presente nessas famílias a má relação conjugal entre os pais/cuidadores e, ainda, as punições físicas exercidas pelos pais/cuidadores”.
O exemplo vem de casa
A pesquisa foi feita com 2.354 estudantes com idade entre 10 e 19 anos de escolas públicas de Uberaba, Minas Gerais. Oliveira aplicou questionários para identificar a qualidade da interação familiar e a ligação com situações de bullying na escola. Os resultados mostraram que os estudantes sem envolvimento com o bullying tinham melhores interações familiares, demonstradas pelo cuidado, afeto e boa comunicação com os pais que, por sua vez, mantinham boa relação conjugal. Além disso, os pais desses estudantes estabeleciam regras dentro de casa, como também supervisionavam seus filhos, sabendo onde eles estavam nos tempos livres.
De acordo com o pesquisador, as famílias dos estudantes envolvidos com bullying são consideradas menos funcionais. Isso quer dizer que elas não colaboram com o crescimento dos sentimentos positivos, não realizam boa comunicação entre os moradores da casa, assim como não auxiliam nas tomadas de decisões de forma saudável, ou seja, tendo como base a troca de ideias de forma conjunta ao invés da imposição. “No caso das vítimas, essas crianças não pedem ajuda ou suporte para enfrentamento da questão”, completa.
Oliveira ainda destaca o quanto bons momentos em família são importantes: “Para que haja funcionalidade nas famílias é preciso valorizar o tempo que pais e cuidadores passam juntos com os filhos, não em termos de quantidade, mas de qualidade afetiva”. Nesse sentido, a pesquisa mostra que o comportamento das famílias, como o incentivo aos estudos e a já mencionada boa comunicação, podem ajudar a acabar com o bullying, assim como ensinar os filhos a terem pensamentos de tolerância e respeito às diferenças.
Estratégia Saúde da Família
Como forma de resolução do bullying, o pesquisador destaca a importância da Estratégia Saúde da Família (ESF). A equipe da ESF exerce atividades junto às famílias e às crianças na casa e na escola. Nas casas, a tarefa da equipe é estimular os laços familiares e a imposição de regras. Já nas escolas as equipes conversam com os estudantes e buscam identificar relatos de má relação familiar. “Esses aspectos são considerados protetivos em relação ao bullying e podem ser trabalhados em grupos nas unidades de saúde ou por meio de visitas domiciliares.”
As equipes de saúde podem, inclusive, orientar pais sobre como identificar comportamentos ligados ao bullying, tanto para a criança agressora, quanto para a vítima. O pesquisador sugere, ainda, que os pais passem a observar o comportamento dos seus filhos dentro de casa, uma vez que esses comportamentos podem indicar envolvimento com o bullying na escola, tanto como agressor, quanto como vítima.
Tratamento transforma madeira jogada no lixo em fonte de energia
Biomassa de resíduos urbanos pode diversificar matriz energética brasileira e aliviar pressão sobre as florestas.
Denis Pacheco/Jornal da USP
Uma pesquisa realizada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, demonstrou que resquícios de madeira presentes nos resíduos urbanos podem ser utilizados como fonte de energia térmica. Com o objetivo de avaliar o potencial energético escondido no lixo das cidades brasileiras, o engenheiro florestal Carlos Rogério Andrade analisou e deu tratamento térmico a amostras de madeira utilizada em obras, móveis e outros itens do dia a dia. O material foi coletado em uma usina de reciclagem instalada em Piracicaba, em São Paulo.
Entre os desafios enfrentados para o uso destes resíduos na forma em que se encontram, estão presença de contaminantes e a sua alta heterogeneidade, ou seja, objetos como pregos, parafusos, plásticos, dobradiças, entre outros, podem acompanhar os materiais coletados. Para identificar existência de riscos ao ambiente e à saúde humana, os resíduos de madeira foram submetidos a análises específicas. “Foram verificadas a presença ou ausência de metais pesados, sulfetos, cianetos, fenóis, pesticidas e compostos nitrogenados”, explica ele. Os parâmetros encontrados ficaram abaixo do limite estipulado pelas normas técnicas, sendo que, em alguns casos, não foram sequer detectados.
“Foi testada também uma metodologia própria para quantificar a presença de contaminantes como terra, areia, cimento, entre outros, que porventura estivessem presentes nesses resíduos”, conta Andrade. Os resultados foram considerados satisfatórios para essa finalidade. Além disso, ao aplicar o tratamento térmico, o estudo concluiu que “a torrefação pode contribuir para aumentar o valor energético destes resíduos, ou mesmo promover a limpeza destes materiais, sobretudo naqueles que receberam durante sua vida útil algum tratamento químico como tintas, vernizes e resinas”, destaca ele.
A tentativa de “minimizar os problemas relacionados ao lixo nas cidades” foi uma da motivações para se demonstrar a viabilidade energética das sobras de madeira, esclarece o pesquisador. Além disso, ao utilizar resíduos urbanos para produção de carvão, e não madeira obtida diretamente das árvores, o trabalho buscou uma forma de aliviar a pressão sobre as florestas. Para Andrade, o caminho rumo a um crescimento sustentável “é longo, tortuoso e com muitas armadilhas”. No entanto, na sua visão, tem aumentado o número de iniciativas que buscam alcançar esse equilíbrio entre demandas sociais, o lado econômico e as preocupações quanto ao uso e à conservação do ambiente.
“Os resultados obtidos neste projeto demonstraram, por exemplo, ser possível, a partir de análises prévias, utilizarmos com segurança a madeira contida no lixo como uma fonte alternativa de energia térmica”, salienta, ao concluir que essa viabilidade caminha junto aos anseios de parte da sociedade, “que cada vez mais se mostra consciente e militante em relação às causas socioambientais enfrentadas pelo País”.