Brasileiros têm a oportunidade de acompanhar novos esportes na Rio 2016
Os Jogos Olímpicos têm sido uma oportunidade para que o brasileiro conheça novos esportes
Atleta brasileira Lohaynny Vicente, do badminton. |
O badminton, por exemplo, nunca viu um público tão vibrante no Brasil, uma sorte para Ygor Coelho, que teve ao seu lado a barulhenta torcida do país, tão temida por atletas estrangeiros nesta Olimpíada. “A torcida me apoiou, me levantou. Eu aproveitei ao máximo, peguei muito bem a energia”, disse Ygor.
O jovem, de 19 anos, foi derrotado na estreia pelo irlandês Scott Evans, mas ainda assim fez história. Foi o primeiro brasileiro a vencer um set nesse esporte em uma Olimpíada. Empurrado pela arquibancada a cada ponto conquistado, Ygor acredita que o badminton já não é algo estranho no país.
“Nos Jogos Olímpicos, as pessoas estão conhecendo melhor o badminton, viram e gostaram. Tinha muita gente da torcida que eu não conhecia. Elas, talvez, não conhecessem o esporte e [a partir de agora] podem se interessar em conhecer mais”, diz. “Acho que o badminton nos últimos anos cresceu bastante. Nos jogos intercolegiais do Rio de Janeiro não tinha, e hoje tem. O badminton está sendo mais visto. Antes, não sabiam o que era e hoje muita gente já sabe”, completa.
O caminho para os jogos do Rio começou quando Ygor tinha 3 anos de idade, por influência do pai, Sebastião de Oliveira. Ygor surgiu do projeto Miratus, criado por Sebastião para educar e socializar por meio do esporte na comunidade da Chacrinha, no Rio de Janeiro. “O projeto é baseado em fazer o melhor. Se o seu melhor servir para tirar as crianças da rua e chegar a uma olimpíada, ele vai conseguir porque o nosso projeto sustenta isso”, diz Sebastião.
No começo do projeto, em 1998, Ygor era muito pequeno para jogar com as outras crianças, então ele brincava sozinho à espera do pai. “Quando ele implantou [o projeto], eu só ficava brincando dentro de uma piscina vazia. No fim dos treinamentos, ele descia e jogava comigo”. Sebastião viu o filho se desenvolvendo no esporte. Hoje, considera Ygor um espelho para o badminton no país. “Foi fundamental a participação do Ygor, ele é uma pessoa extremamente carismática, um gentleman. Somada à qualidade técnica dele, isso pode fazer o esporte ter um crescimento. Ele é o ídolo e é seguido. Sou muito orgulhoso”.
De acordo com Sebastião, o projeto Miratus seria, inicialmente, de natação, mas a escolha do badminton pareceu mais democrática. “O badminton reúne qualidades que outros esportes não têm. Jogam gordo, magro, alto, baixo; é extremamente divertido, te desafia. É um esporte que agrega, inclui as pessoas”. A raquete usada é extremamente leve e mais comprida que a de tênis. O objetivo é rebater a peteca na quadra do adversário. Pela leveza da raquete e da peteca, se torna um jogo extremamente ágil, mas ao mesmo tempo suave, sem impacto.
A participação de Ygor em um esporte dominado por asiáticos e alguns europeus foi um marco na história do badminton no Brasil. Ele agora tem outras metas, mais ambiciosas. Para isso, vai passar um período na França, treinando com um dos grandes nomes do esporte, o dinamarquês Peter Gade, ex-número 1 do mundo e atualmente treinador. “Acho que nos Jogos de Tóquio, em 2020, estarei mais experiente. Minha meta é ser um dos mais fortes do mundo. Pretendo treinar fora para alcançar esse nível com os melhores” (ABr).
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A opinião é do pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Lamartine Pereira da Costa, especialista em assuntos ligados ao esporte, membro do conselho consultivo da Russian International Olympic University.
“Já foi decidido, na Agenda 2020 do Comitê Olímpico Internacional, publicada em 2014, que não se aceita mais este tipo de coisa. Tóquio, que foi escolhido depois, já não existe isto que vimos no Rio de Janeiro. Estes são os últimos jogos gigantescos do mundo. Não haverá mais isto”, disse o professor, durante palestra sobre O Futuro dos Jogos, na Casa Brasil, na região portuária do Rio.
Segundo Costa, eventos esportivos de grande magnitude já não são mais sustentáveis, do ponto de vista financeiro, pois exigem muitos investimentos, para um retorno abaixo dos gastos. “É questão de sustentabilidade. Quando você faz uma coisa muito grande, ela começa a perder o sentido econômico, social, cultural. Você tem que colocar os custos no nível dos gastos. Se o gasto é maior que o custo, aí há um desequilíbrio e isso conduz à perda do controle econômico e social”.
O pesquisador deu como exemplo as três últimas olimpíadas, em Londres, Pequim e Atenas, que geraram desequilíbrios financeiros e arenas esportivas que ficaram sem uso. “Atenas, Londres e Pequim foram gigantes. Isto se esgotou. Já foram longe demais. A Agenda 2020 não admite mais isto. Se você vai além dos gastos, [os equipamentos acabam sucateados]. Existem os excessos. O velódromo não tem préstimo nenhum, nem para o Rio de Janeiro nem para o Brasil. Custou R$ 200 milhões. É uma perda gigantesca”, disse.
Costa levantou a hipótese das próximas olimpíadas serem feitas em mais de uma cidade ao mesmo tempo. “Acabou a tradição que vem desde [o barão Pierre de] Coubertain [criador dos Jogos Olímpicos modernos]. Não haverá mais tudo concentrado. Pode ser em mais de um país”, disse o pesquisador.
Outro assunto debatido durante as palestras na Casa Brasil foi a formação de base para gerar atletas de alto rendimento que garantam medalhas ao país. O presidente do Conselho Regional de Educação Física (Cref), André Fernandes, disse que tudo começa nas escolas e na valorização da educação física, pois é na base onde estão os futuros craques do esporte nacional. Segundo ele, o baixo número de medalhas dos brasileiros tem que ser comemorado, por causa da falta de condições dos atletas.
“Foi até um bom resultado, pelo pouco ou nenhum apoio que alguns atletas têm. Não é feito nenhum tipo de projeto esportivo em longo prazo. Temos que mudar toda uma cultura, que começa dentro da escola, com a presença de um profissional de educação física, que tem contato com a criança e despertar o interesse e o talento. Para que elas possam ir para centros de treinamentos específicos e possam se desenvolver, até chegarem a um esporte de alto rendimento”, disse.
Segundo Costa, este é o modelo praticado há décadas nos Estados Unidos, país tradicionalmente campeão em medalhas em olimpíadas: “Não podemos esquecer da grande massa, que tem de praticar esporte. Temos um bom exemplo dos americanos, que são líderes das olimpíadas e têm os centros de treinamento. Quando uma criança é detectada como um talento infantil, ela é destacada do grupo e passa a ter um treinamento específico, porque tem condição de atingir o alto rendimento. É o que falta para a gente aqui, um projeto em longo prazo”, disse (ABr).