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Às vésperas da posse, brasileiros nos EUA estão apreensivos

em Especial
terça-feira, 17 de janeiro de 2017
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Às vésperas da posse, brasileiros nos EUA estão apreensivos

Com a proximidsade da posse do novo presidente americano, a comunidade brasileira nos Estados Unidos segue apreensiva por conta das declarações de Donald Trump. Afinal, uma das promessas de campanha do republicano foi a deportação em massa de imigrantes ilegais

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Legais ou ilegais, estudantes ou profissionais, imigrantes recentes ou “veteranos”, os brasileiros residentes nos EUA não estão tranquilos. Afinal, as últimas nomeações de Trump para seu gabinete, sinalizam com razões concretas para as apreensões dos “brazucas”. Além de ter feito da “deportação em massa” de imigrantes ilegais um dos cavalos de batalha de sua campanha, o magnata nomeou o senador republicano Jeff Sessions, conhecido por seu discurso anti-imigração, como secretário de Justiça dos Estados Unidos.

Sessions ficou conhecido por defender a criação de limites para a imigração legal, com o argumento de que a mesma reduziria o salário dos cidadãos americanos. “O que Trump espera, na verdade, é que os estrangeiros se autodeportem, ou seja, que graças ao medo e à tensão social as pessoas desistam e voltem para os seus países, sem que os EUA tenham que desembolsar com prisões ou deportações”, explicou Carlos Eduardo Siqueira, professor e pesquisador da Universidade de Massachusetts, que atua desde 2003 no setor de Saúde Pública na área de imigração brasileira.

“A crise econômica atual do Brasil vem expulsando muita gente que perdeu o emprego, o negócio ou mesmo a esperança. Estamos vendo uma onda de imigração brasileira semelhante à do período Collor. A imigração brasileira hoje é nacional, não é mais local como há alguns anos, quando os EUA recebiam muita gente de Minas Gerais. Hoje temos uma massa de pessoas que chegam de todas as partes do Brasil”, afirmou Siqueira. “O Trump me lembra muito o [ex-primeiro ministro italiano Sílvio] Berlusconi. Ele muda de opinião muito rapidamente e exagera o tempo todo. Mas continua a insistir que a imigração será uma questão central do seu governo”, contextualizou o professor.

O senador republicano Jeff Sessions, conhecido por seu discurso anti-imigração, foi nomeado por Trump para ser o novo secretário de Justiça.“Acredito que Trump vá apertar o cerco, mesmo porque no contexto mundial a imigração não é vista hoje com bons olhos. Existe apoio dentro da sociedade atual para reprimir e para tratar a imigração como caso de polícia. Eu não sou otimista. Penso que boa parte da comunidade brasileira ainda não acordou, mas vai acordar em breve para a gravidade do que vem por aí. Mas já existe um medo crônico, latente e presente na comunidade brasileira dos Estados Unidos”, afirmou Siqueira.

Para o administrador brasileiro Rubens Vianna, 31 anos, que mora há 11 anos na Flórida e faz MBA em Finanças no Rollins College, há bastante ansiedade em relação ao futuro com Trump. “Acho que a situação já é difícil para o imigrante que quer trabalhar e ficar aqui legalmente. E, como [o novo presidente] é muito radical, a expectativa é que a situação vá ficar mais difícil ainda”, afirmou.

“Quando você está há 11 anos em um país, você cria laços com a cultura, com as pessoas, com o estilo de vida. E meu desejo é continuar aqui. Então, dá uma insegurança sim”, disse Rubens. “Para se ter uma ideia, nos dois dias seguintes à eleição de Trump, o site de imigração do Canadá ficou fora do ar, tamanha a quantidade de pessoas que tentou acessá-lo para pesquisar a possibilidade de se mudar para lá”, contou.

O presidente Barack Obama cumprimenta o presidente eleito, Donald Trump, no Salão Oval da Casa Branca, em Washington.“Nossa comunidade está doente”
Ilma Paixão, que mora nos EUA há 32 anos e é delegada do Partido Democrata, confirma a ansiedade com a chegada de Trump entre os milhares de brasileiros da região de Boston. “Cheguei aqui com 19 anos de idade. Eu me casei e tive meus filhos aqui. Sou uma mulher negra, do Brasil, tive que driblar o estereótipo ‘mulata do Sargentelli’”, conta Paixão, que hoje é dona de uma rede de rádios dirigidas às comunidades afroamericanas e brasileiras nos Estados Unidos.

“A nossa comunidade está doente. Todas as minorias, mas principalmente os imigrantes, os brasileiros, porque é muito difícil verificar que uma pessoa possa ganhar a eleição com uma linguagem de rejeição. Todos estamos no mesmo barco, falo isso tanto como delegada do governo como representante da comunidade. Mas o mais inquietante é o sentimento do desconhecido. Você está sentindo uma pressão, e não sabe exatamente quais serão suas consequências”, disse ela.

“No entanto, não acredito que haverá muitas deportações de imediato. Durante o governo Obama, que considero um superpresidente, houve várias deportações, isso não é novidade. O que vai piorar é o aumento de brasileiros que estão chegando, não necessariamente preparados para enfrentar as dificuldades da crise americana, que eles com certeza encontrarão aqui”, disse a comunicadora.

150315194510 temporario“Não acreditávamos que Trump fosse vencer”
A socióloga brasileira Natalícia Tracy mora nos EUA há 25 anos e é diretora-executiva do Centro do Trabalhador Brasileiro em Boston, criado há mais de 20 anos. “Nosso trabalho principal é educar os brasileiros sobre seus direitos aqui e advogar em seu favor. Para ser honesta, por mais que estivéssemos preocupados com uma possível vitória de Trump, não acreditávamos que ele fosse ganhar. Nos pegou de surpresa. No dia seguinte à eleição, estávamos em prantos, passamos por uma fase de depressão, um luto pelas conquistas sociais da América que conhecíamos”, admitiu ela.

“Sabemos que haverá mudanças muito grandes que vão afetar a comunidade de imigrantes, que estão mais expostos, como os latinos, os brasileiros, imigrantes sem documentação, os estudantes com vistos temporários, a ansiedade é muito grande. Sentimos uma onda de racismo forte nos espaços públicos, há pessoas nas ruas dizendo ‘vão embora’. Existem também casos de crianças nas escolas que desejam ir para casa com medo de que suas mães ou pais tenham sido deportados, porque algum colega sugeriu que isso poderia acontecer”, relatou a socióloga.

Tracy afirma, “para descontrair”, que “ainda bem que os candidatos não cumprem suas promessas”. “Infelizmente as pessoas que Trump está nomeando para compor seu gabinete se posicionam bem à direita, estamos nos preparando para o pior. No entanto, a verdade é que já convivemos com uma política de deportação em massa, não é uma novidade. São 1,1 mil pessoas sendo deportadas todos os dias”, finalizou a socióloga (Rádio França Internacional).

Trump assume Presidência com maior rejeição em 40 anos

201601270147107208 AP temporarioO republicano Donald Trump prestará juramento como novo presidente dos Estados Unidos com a popularidade mais baixa que um líder político já registrou em 40 anos no país, de acordo com uma pesquisa publicada ontem (14).

Dados divulgados pelo jornal “The Washington Post” e e pela rede “ABC” afirmam que a popularidade de Trump não supera os 40%, enquanto 54% dos eleitores matêm sentimentos contrários ao magnata. Antes de tomar posse, o democrata Barack Obama tinha uma aprovação de 79%. Já o republicano George W.Bush tinha 62% e o também democrata Bill Clinton, 68%.
A pesquisa, porém, destaca que, apesar da impopularidade, a maioria dos norte-americanos demonstra otimismo em relação à gestão de Trump e ao cumprimento de suas promessas de campanha, como a retomada do crescimento econômico e a luta contra o terrorismo. Os maiores pontos de crítica a Trump se referem ao escândalo dos ataques de hackers que teriam partido da Rússia e suas relações com Moscou. Vencedor das eleições de novembro contra a candidata democrata Hillary Clinton, Trump logo reagiu à pesquisa no Twitter.
“As mesmas pessoas que fizeram as pesquisas eleitorais falsas, e estavam erradas, agora fazem rankings de aprovação. São manipulados, como antes”, escreveu o magnata. A resposta de Trump foi uma alfinetada ao jornal “The Washington Post”, que publicou antes das eleições que a candidata Hillary Clinton seria a mais votada. O jornal acertou, mas Trump venceu no colégio eleitoral. O republicano toma posse na próxima sexta-feira (20) como novo presidente dos Estados Unidos (ANSA).