Gabriel Trevisan (*)
Estamos testemunhando um novo mundo, com mudanças cada vez mais frequentes que exigem diferentes ferramentas de inovação. A constante transformação pela tecnologia acaba gerando problemas de uma natureza nova, que demanda de todas as pessoas uma nova maneira de enfrentá-los. A habilidade adaptativa está muito conecta com a habilidade da empresa conseguir entender o contexto em que está inserida e inovar.
Não há dúvidas que as organizações precisam cada vez mais rápido de inovação. Por isso, um ponto chave para iniciar qualquer processo de transformação é ter um profundo conhecimento do seu contexto e mercado, para aí sim tomar a decisão de qual, ou quais, caminhos seguir. Mas que mentalidade podemos adotar para nos manter na rota?
Em primeiro lugar, é muito importante entender a importância da formação de equipes multidisciplinares e colaborativas, com diferentes pontos de vista. Além disso, valorizar a visualização de novas ferramentas e frameworks, incentivar o pensamento integrativo, que une a análise à experiência e abraçar a incerteza, aceitando a experimentação e permitindo que o erro se transforme em oportunidade de aprendizado, são meios de potencializar o processo de crescimento e inovação da empresa.
Para essa discussão, trago primeiro a definição de “burocracia”, pois o termo é, quase imediatamente, associado à ideia de ineficiência ou demora. Entretanto, o sentido original da palavra é uma forma particular de se organizar as atividades: as regras são claras e devem ser cumpridas de forma objetiva.
Nesse sentido, o que chamamos usualmente de burocracia é, na verdade, um conjunto de “disfunções burocráticas”, que refletem certa internalização das regras e apego aos regulamentos, excesso de formalidade, resistência a mudanças e despersonalização do relacionamento.
Nós sabemos que o empoderamento é uma condição básica para organizações mais ágeis, e que agilidade é uma condição fundamental para qualquer transformação. Cerca de 89% das pessoas dentro de grandes empresas dizem que não podem setar suas prioridades, decidir seus métodos de trabalho ou escolher seus líderes.
Ao mesmo tempo, 81% dos líderes das grandes empresas consideram agilidade, tendo em vista flexibilidade e autonomia, condição básica para o desenvolvimento de seus negócios. Então, a burocracia em si não é o grande problema, mas se não dosada com cuidado, acaba por trazer esse excesso de formalismos que “sentimos” e que precisamos cumprir para dar o próximo passo, afetando a autonomia dos times e sua velocidade.
Assim, a liderança assume um importante papel na busca pelo equilíbrio entre a burocracia e o empoderamento, como guia dessa transformação. O mindset de aprender com as experiências, incentivar a organização a correr riscos e fracassar, já que o erro é parte inerente do processo de inovação e até mesmo reorganizar as operações, são exemplos de uma mentalidade essencial neste processo.
Empresas líderes fracassam justamente porque fazem tudo certo. Os executivos de empresas de sucesso não são incentivados a correr riscos, pois são medidos por seus resultados de curto prazo. Isso é a transformação digital, muito mais do que tecnologia! É o redesenho da forma de gerar valor ao consumidor, do modo de pensar e da maneira de competir. É uma resposta à disrupção causada pelos novos modelos de negócio ancorados de maneira inovadora em tecnologia.
Não existe uma “bala de prata” para inovar, porém o autoconhecimento organizacional, em que temos conhecimento profundo dos nossos processos e como eles se relacionam, pode ser um primeiro passo para entender quais desses formalismos estão me impedindo de ser mais “ágil”.
Assim, cria-se bloqueios para a colaboração, empoderamento das equipes e reduz nossa capacidade de adaptação.
(*) – É líder do Pilar de Tecnologia Digital na Endeavor Brasil e atua como Prolancer na posição de Product Manager na BossaBox.