Taeli Klaumann (*)
Nas últimas décadas, pudemos acompanhar uma crescente conscientização sobre a importância da igualdade de gênero e diversidade no ambiente de trabalho, incluindo a representatividade feminina em cargos de liderança. Para se ter uma ideia, a McKinsey & Company revelou que os avanços tecnológicos podem dar a 160 milhões de mulheres a chance de mudarem de emprego até 2030 e progredirem em suas carreiras. Também temos a projeção de um crescimento de 20% no número de trabalhos para essas profissionais. Hoje, as mulheres no Brasil já são responsáveis por cerca de 56% dos doutores formados anualmente. Elas estão se qualificando cada vez mais para acessar esse mercado de trabalho.
Pensando que foi apenas na década de 60 que as mulheres passaram a poder disputar vagas nos vestibulares, através da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação Brasileira, e, com isso ingressar na educação superior, parece que avançamos muito. Do outro lado, porém, existe o caminho que ainda falta ser percorrido.
No ecossistema com o qual convivo existe um debate sobre as líderes do setor financeiro, as CFOs (Chief Financial Officers), que, apesar dos avanços, ainda não possuem representação significativa. Mesmo assim, o que estamos vendo no Brasil e em outros países é o melhor patamar já alcançado. As mulheres estão abrindo os olhos para questões importantes do comportamento feminino, como a insegurança. A população feminina nunca teve, por exemplo, um grande hábito de tomar riscos, mas agora está se fazendo mais vezes a seguinte pergunta: “por que um homem que tem a mesma capacidade técnica que eu se sente tranquilo para aplicar para posições que eu não me sinto confortável em me candidatar?”.
Já existem grupos formados por estas mulheres que visam construir uma comunidade para trocarmos situações como esta. No W-CFO, por exemplo, conseguimos formar uma verdadeira rede de apoio que, além das trocas técnicas, várias vezes permeiam assuntos mais pessoais como estrutura familiar, networking e como lidar com nossas fragilidades. Ter esta rede de apoio permite visualizar exemplos de outras mulheres do grupo que já passaram por desafios semelhantes e encontraram soluções. A ambição de construir uma carreira de sucesso só cresce, e consequentemente vemos mais de nós chegando ao sonhado papel de CFO.
Como mãe e esposa, sei o quanto a sensação de estar sozinha pode dificultar o processo decisório. Eu tive a chance de viver um processo de expatriação para os Estados Unidos, e apenas na segunda vez que a oportunidade bateu em minha porta eu aceitei. A decisão de ficar longe das minhas filhas e do meu marido foi um processo complexo e de auto-sabotagem por vieses sociais. Precisei de muito apoio do meu marido para aceitar que aquele caminho seria um marco na minha carreira. Hoje posso dizer que aquela oportunidade mudou tudo!
Contribuições das CFOs para o ambiente financeiro e corporativo
Desafios como esse que passei e outros ainda mais complexos sempre existiram para as mulheres no setor financeiro, mas com o aumento da representatividade feminina na área, não só mais profissionais estão conseguindo superá-los, como o próprio mercado está encontrando maneiras de viabilizar oportunidades para todos. Uma delas é a abordagem de liderança mais colaborativa, empática e inclusiva, o que tem influenciado positivamente na cultura organizacional e tomada de decisões estratégicas das marcas.
Quanto mais diversa uma organização, mais capaz ela se tornará de entender seu mercado endereçável, atrair profissionais e encontrar soluções criativas. A própria governança é fortalecida com os diferentes pontos de vista trazidos por essas líderes, que avaliam os riscos financeiros e estratégicos da companhia, ajudando o time a montar um planejamento de crescimento seguro e eficiente.
Como a representatividade feminina nas lideranças pode aumentar?
É claro que nem tudo são flores e ainda há muito trabalho a ser feito. A escassez de mulheres em posições intermediárias de liderança no setor financeiro, por exemplo, continua criando uma espécie de “teto de vidro”, dificultando a progressão para posições executivas.
Não à toa, costumamos sentir mais avanços no mercado de trabalho em áreas como recursos humanos, marketing, comunicação, saúde e educação. Nelas, as habilidades sociais, de comunicação e empatia são muito valorizadas e, com isso, as mulheres acabam se tornando líderes com uma frequência maior.
Tratar abertamente dessas discussões nos permite entender os vieses que estão enraizados para uma mulher chegar ao cargo de CFO. E, por bem ou por mal, isso ajuda a nos desviar deles sempre que for preciso, até porque a falta de representatividade feminina segue como um desafio global a ser superado por empresas de todas as categorias.
A sororidade é um despertar para o que podemos fazer umas pelas outras. O significado de sororidade carrega a ideia de que ficamos mais fortes quando nos unimos e isso é muito poderoso já que networking não é o nosso forte. Tive o privilégio, em minha jornada profissional, de encontrar muitas mãos que se estenderam e hoje espero retribuir tudo que recebi. Se olharmos para todas essas histórias e trocarmos as nossas experiências em prol umas das outras, com certeza esse será só o começo de uma mudança ainda maior.
(*) É CFO da Conta Simples.