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Fim de ano é armadilha para compradores compulsivos

em Economia
terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Um armário cheio de roupas ainda sem usar, peças e produtos comprados sem necessidade e a sensação de prazer imediato que desaparece dias após a compra foram os sinais que fizeram a jornalista Flávia Vargas, 44 anos, perceber que estava comprando por compulsão. “No início do isolamento social, descobri dois aplicativos de vendas e não parava de comprar. As compras se tornaram incontroláveis. Meu armário ficou abarrotado, inclusive com roupas que ainda não usei”, conta.

Mesmo com a flexibilização das medidas de isolamento e a abertura do comércio, ela continuou comprando pelos aplicativos. Segundo estimativas da OMS, cerca de 8% da população mundial sofre de oniomania, compulsão por compras, também chamada de consumismo compulsivo e Transtorno do Comprar Compulsivo (TCC).

A patologia é responsável pelo giro de mais de US$ 4 bilhões na América do Norte. Entre 80% e 94% dos compradores compulsivos são mulheres.

Para o psiquiatra Adiel Rios, o isolamento social contribuiu para o aumento no número de casos desse transtorno. “Muitas lojas migraram para o e-commerce e quem já atuava neste modelo, reforçou a atuação nas vendas online. E os aplicativos são uma grande armadilha para os compradores compulsivos: eles disponibilizam cupons de descontos, pontos para cada compra realizada, que são revertidos em desconto para novas compras”, detalha o médico do Programa de Transtorno Bipolar do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP.

Segundo ele, mesmo com a abertura do comércio, o comprador compulsivo continua utilizando as ferramentas disponíveis no ambiente online, pois basta pegar o celular, entrar no aplicativo e comprar o que quiser, a qualquer hora e em qualquer lugar. Quando percebeu que havia algo por trás da compulsão por compras, Flávia procurou ajuda médica especializada e, hoje, mantém acompanhamento com psiquiatra e psicólogo.

Além da medicação, a jornalista tem procurado seguir as orientações dos especialistas em relação ao comportamento no dia a dia. “Quando estou no celular, evito acessar os aplicativos [de compras], algo que era impossível antes do tratamento”. Com a proximidade do fim do ano, quando há um maior apelo por compras devido ao Natal e ao décimo-terceiro salário, o psiquiatra afirma que há chances de o hábito de adquirir compulsivamente se intensificar. Além disso, com o comércio aberto em horário estendido e sem restrições, aumentam-se os canais de aquisição de produtos (ABr).