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Semana de quatro dias: utopia ou solução?

em Economia da Criatividade
quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Esse regime de trabalho já vinha sendo debatido e adotado em diversos países pelo mundo, antes mesmo da pandemia dar uma chacoalhada nos nossos velhos a arraigados conceitos. Já caiu por terra o mito do home office, o qual recentemente foi reconhecido legalmente no Brasil. Um avanço e tanto para quem vive e trabalha em uma cidade que tem um dos piores trânsitos do mundo, somado à falta de transportes públicos. Mas a conversa aqui é sobre a jornada semanal de apenas quatro dias de trabalho e três de descanso, que já é realidade em países como Japão, Islândia e Emirados Árabes Unidos. A ideia central é atrair e reter talentos, combater os problemas de saúde mental que se multiplicam no ambiente corporativo e formar equipes mais engajadas e eficientes.

Por exemplo, a Unilever da Nova Zelândia está testando, em projeto piloto, por um ano, a semana de quatro dias com a mesma remuneração. Caso o modelo atinja os resultados esperados, será expandido para outros países. Em 2019, a Microsoft do Japão avaliou a economia com gastos administrativos, como o uso de papel e energia, mantendo seus funcionários em casa três por dias da semana. O experimento, além de mostrar uma redução drástica dos custos, indicou um aumento de produtividade de 40% e os funcionários se declararam mais felizes. A Panasonic do Japão, é outro exemplo de adoção da jornada de quatro dias. O objetivo é apoiar o bem-estar dos funcionários.

O governo japonês já considera estender o regime para todos os setores da economia. O governo belga também caminha no mesmo sentido, ao permitir que os trabalhadores do país solicitem esse regime de trabalho como teste por até seis meses, com vistas a melhorar a qualidade de vida da população. Após esse período, o trabalhador decide se quer manter ou voltar ao antigo regime. Na Islândia, cerca de 85% dos trabalhadores já podem trabalhar apenas quatro dias por semana. Na Escócia, o governo adotou a semana de quatro dias, sem nenhuma redução salarial, após algumas empresas terem testado o modelo com sucesso. Na Espanha, um programa piloto de três anos, permite a redução da carga horária semanal para 32 horas, sem redução na remuneração. Nos Emirados Árabes, a jornada semanal é de quatro dias e meio. Nos EUA está tramitando um projeto de Lei para reduzir a jornada semanal de 40 para 32 horas.

Para os jovens de hoje, que prezam pela harmonia no ambiente de trabalho, mais do que cargos ou salários, faz todo sentido ter mais equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Uma pesquisa nos EUA, feita no final de 2021, apontou que 32% dos jovens de 22 a 25 anos que haviam pedido demissão de seus empregos, não teriam feito o pedido se o regime de trabalho fosse reduzido, como na semana de trabalho de quatro dias. Esses jovens compõem uma parcela dos 20 milhões de americanos que pediram desligamento de seus empregos desde o início da pandemia.

No Brasil, a ideia já começa a ser praticada por algumas empresas. Empresários relatam o aumento de candidatos interessados para preencher vagas, cujo regime de trabalho seja de quatro dias semanais e de seis horas por dia, ainda que isso possa significar remuneração menor. Para quem já está empregado a passa para o regime de quatro dias semanais, a legislação garante o mesmo salário e demais direitos, sendo um fator de motivação para que os funcionários se dediquem o mesmo ou até mais do que antes, criando ou fortalecendo a relação de reconhecimento e empatia entre eles e a empresa. Vale lembrar que a legislação brasileira limita o máximo da jornada de trabalho, que pode ser de até 8 horas diárias e 44 horas semanais. Assim, nada impede que a carga horária seja reduzida.

Mas é importante ressaltar que toda mudança requer cautela e análise: nem sempre a redução de carga horária significa mais tempo livre. As responsabilidades e cobranças se mantêm, só que ficam mais concentradas, o que pode, ao contrário do que se espera, aumentar os níveis de desgaste emocional e psicológico. De qualquer forma, é uma forte tendência no cenário profissional e devemos nos preparar para lidar com essas questões.

Com graduação em Engenharia, pós-graduações em Marketing e Computação Aplicada à Educação, Mestrado em Educação Matemática e Doutorado em andamento na mesma área, Luis Pacheco tem experiência no mercado financeiro e em empresas digitais, atua como professor no ensino superior, como mentor de startups, como pesquisador e é autor de conteúdo especializado.