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Qual será o futuro dos Subscription Video Demand?

em Economia da Criatividade
quinta-feira, 17 de junho de 2021

Guilherme Canineo (*)

Se nos últimos meses houve um protagonismo muito grande entre Netflix e Disney+, nas últimas semanas pode-se dizer que os holofotes se voltaram para outros serviços. Estamos falando da fusão entre a WarnerMedia e a Discovery e a compra dos icônicos estúdios MGM pela Amazon. Porém, o que isso significa para o futuro dessa “guerra” entre as plataformas de streaming de vídeo por assinatura?

Bom, uma coisa é certa, a competição nunca esteve tão disputada como nos últimos meses, e isso sem contar que muitos serviços ainda nem estão disponíveis ao nível global.

Por um lado, demorará um pouco para que Netflix e Disney+ deixem seus postos como número 1 e 2 em números de assinantes. As duas empresas, sobretudo a que leva o legado de Walt Disney e companhia, foram muito beneficiadas pela pandemia. Em 2020, a Netflix adquiriu 37 milhões de assinantes e hoje conta com mais de 207 milhões. A Disney, em seu primeiro trimestre fiscal de 2020 anunciou um total de 26,5 milhões de assinantes. Após um ano, esse número ultrapassou os 100 milhões. A grande vantagem das duas plataformas: a Netflix está disponível em 190 países e a Disney+ em 59.

Por outro lado, Jeff Bezos, CEO da Amazon, comentou que 175 milhões das mais de 200 milhões de pessoas que assinam o serviço da Amazon Prime interagiram com o conteúdo da Prime Video em 2020. A Amazon não possui um histórico de divulgação desses números, sobretudo os relacionados com o seu serviço de streaming. O que isso nos mostra? Que agora a Amazon realmente está demonstrando interesse em competir nesse mercado e está disposta a investir (e muito) em produções que possam, não só trazer novos assinantes, como vencer prêmios de prestígio como Óscares e Emmys. A compra dos estúdios MGM, estipulada em $8,45 bilhões de dólares, simboliza um excelente investimento por parte do gigante do e-commerce, não só pelo legado de 97 anos de um dos estúdios mais clássicos de Hollywood, como pelo legado de suas franquias que incluem “007” e “Rocky”. Além disso, vale lembrar que a nova série adaptada ao universo de “Senhor dos Anéis” está sendo produzida pela Amazon e a primeira temporada tem um orçamento de $465 milhões de dólares. Tudo isso sem contar os milhões que a empresa já investe em contratos esportivos com a National Football League (NFL), Premier League, entre outros. Em resumo, se a Amazon realmente quiser, todos nós sabemos que ela tem capital para isso.

Do lado da WarnerMedia, a HBO Max estará finalmente chegando à região latino-americana nas próximas semanas e, caso opte pela mesma estratégia de preço que adotou no Brasil (mais barato do que a Netflix), pode adquirir um número considerável de assinantes na região que se somariam aos 20 milhões de assinantes nos Estados Unidos. Para quem não sabe, a HBO Max conta não só com o conteúdo premium da HBO, mas também com produções dos estúdios Warner Bros., TNT, Cartoon Network, entre outros. No Brasil, a plataforma ainda transmitirá a UEFA Champions League. E tudo isso ainda pode ficar melhor agora que a AT&T decidiu abdicar da WarnerMedia e fundi-la com a Discovery, casa de canais renomados como HGTV, Food Network e Animal Planet, e que já possui o canal de streaming Discovery+ com 15 milhões de assinantes. Basta saber agora qual será a estratégia adota pela nova empresa que terá um valor de mercado estipulado em $100 bilhões de dólares. Caso escolham incluir o conteúdo da Discovery+ dentro da HBO Max, o que talvez seja a estratégia menos provável, quem sairá ganhando serão os consumidores já que terão acesso a mais conteúdo e não terão que se preocupar em pagar por mais uma plataforma. A grande verdade é que ainda está muito cedo para dizer qual será a estratégia adotada pelo novo CEO David Zaslav que agora conta com uma vasta quantidade e qualidade de propriedade intelectual, estrelas dos mais amplos calibres e um capital gigante. Porém, espero que pelo menos a qualidade de certos estúdios se mantenha (ou melhore) e que não haja tanto envolvimento dos novos líderes durante os processos criativos.

Correndo por fora temos a Paramount+, serviço de streaming da gigante americana ViacomCBS e recentemente lançada internacionalmente em mercados como América Latina, Canada, Austrália e a Nova Zelândia oferecendo programas da MTV e Nickelodeon e filmes clássicos da Paramount e Miramax. A Apple, que lançou o Apple TV+ praticamente na mesma época que a Disney+ (final do segundo semestre de 2019), está finalmente saboreando um pouco do fruto do seu alto investimento em produções audiovisuais. A série de comédia “Ted Lasso” teve uma excelente recepção entre críticos e assinantes e documentário da cantora “Billie Eilish” foi altamente elogiado pelo conteúdo e pela produção.

Além desses competidores, ainda podemos citar o Peacock, plataforma da gigante Comcast, a Hulu, parte do conglomerado da Disney, e serviços locais como a Globo Play no Brasil. A diferença desses em relação aos outros é que não há uma projeção de lançamento internacional para a Peacock, a Disney recorrerá a Star e Star+ para representar a Hulu internacionalmente e o Globo Play, pelo idioma de seus programas, tem oportunidades mais restritas em mercados fora do Brasil. Por outro lado, temos a Sony, que preferiu licenciar seu conteúdo para a Netflix e Disney+ do que lançar sua própria plataforma.

A grande verdade é que a popularidade das plataformas de streaming não só favoreceu aos consumidores, que tem agora acesso a milhares de horas em conteúdo sendo lançado todas as semanas, como também aos trabalhadores da indústria, desde atores, produtores, diretores e roteiristas, como seguranças, figurinistas e empresas de catering. Muitas produções só saíram do papel devido à necessidade que essas empresas têm de produzir e lançar conteúdo em escala para manter seus assinantes em suas plataformas mês após mês. 

Desde o ponto de vista do consumidor é ótimo ter essa variedade disponível, porém para muitos o acesso a uma grande maioria dessas plataformas é inviável por conta do valor. Além disso, temos a questão do tempo para consumir essa infinita quantidade de conteúdo.

Dessa forma, observando o mercado, acredito que muitas plataformas sucumbirão ante os mais poderosos (sempre e quando sejam aprovadas pela justiça por desconfiança de monopólio), licenciarão seu conteúdo (ao estilo Sony), farão parcerias (assim como o Globo Play fez com a Disney+ e Deezer no Brasil) ou buscarão outras fontes de renda (assim como a Netflix que está começando a comercializar merchandise e projeta entrar no mercado de games). Caso isso aconteça, e ainda consigam incluir esportes ao vivo no pacote, isso só tem a favorece ao consumidor que terá menos opções, porém com mais material concentrado.

O futuro, apesar de incerto, continua promissor para essa indústria. Milhões de dólares ainda serão gastos, seja em licenciamentos ou produções originais. Tudo para competir pelo bem mais precioso dessa indústria na atualidade, a atenção do consumidor.

(*) É ex-tenista profissional, jornalista, apresentador e especialista em podcasts. Mestre em Entertainment Business pela Full Sail University e formação em jornalismo pela University of West Florida. Comanda, toda quinta 17:30h, a live “Resumão da Semana” nos canais da Full Sail Brazil Community.