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O esporte brasileiro depois de Tokyo 2020

em Economia da Criatividade
quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Ao final dos jogos olímpicos de 2020, é possível afirmar que os resultados obtidos pelo do Time Brasil foram extremamente positivos. Conseguimos aumentar o número total de medalhas de 19 obtidas em 2016, para 21 em 2020. Também subimos no ranking geral de medalhas, saindo do 13º lugar (resultado de 2016) e chegando ao 12º em 2020. De uma forma geral, foi o melhor resultado brasileiro de todos os tempos, mas ainda longe da meta estabelecida em 2012, quando foi criado o Plano Brasil Medalha. O plano foi criado pelo Governo Federal e tinha como objetivo preparar atletas para os jogos do Rio 2016. A meta do plano era ambiciosa e determinava que ao fim daqueles jogos o Brasil atingisse o resultado inédito de figurar entre os 10 melhores da competição. Considerando essa a meta do esporte de alto rendimento brasileiro, ainda temos muito trabalho nestes três anos que antecedem a olimpíada de 2024 em Paris.

Neste momento, a pergunta que fica é: o que fazer para melhorar o desempenho do Time Brasil em 2024? Na realidade a pergunta e a resposta são mais complexas, considerando que o objetivo do esporte não é apenas olímpico. Antes de mais nada, todos os brasileiros deveriam ter acesso a prática esportiva por questões de saúde. Observando o tema enquanto política pública e social, é impossível não enxergar o esporte como uma importante ferramenta de inclusão capaz de amenizar e muito a desigualdade e os problemas de famílias de crianças e jovens carentes do nosso país. Concordo com Ary Rocco, Professor e Pesquisador da Escola de Educação Física da USP, quando ele explica que no Brasil, o esporte ainda é muito mais visto como uma atividade de diversão, entretenimento e lazer, do que uma ferramenta de inclusão social capaz de trazer imensos benefícios aos menos favorecidos. Segundo o professor, “se a gente tivesse programas esportivos extremamente interessantes, que trabalhassem com crianças em situação de risco, que ajudasse essas crianças a se socializar, aprendendo a perder e a ganhar, a jogar em equipe, com certeza a gente teria cidadãos melhores”.

Além de todos os pontos colocados acima, o esporte gera muitos empregos e é uma importante fonte de receitas para todos os envolvidos, por exemplo governo (federal, estadual e municipal), entidades publicas, privadas e atletas. O fomento ao esporte, muito mais do que uma política geradora de medalhas, é essencial para o crescimento do país.

Sendo assim, a pergunta que tem que ser respondida é: o que fazer para fomentar o desenvolvimento do esporte no Brasil, incentivando a prática esportiva e o surgimento de novos atletas? Para que seja possível atingir todos os objetivos relacionados acima e considerando o cenário atual, há muito trabalho a ser feito!!

O levantamento do Projeto Transparência no Esporte, da Universidade de Brasília, que mapeia os gastos estatais esportivos o investimento do Governo Federal no Plano Brasil Medalha à época do seu lançamento, foi de 3.2 bilhões de reais. Para os jogos de Tokyo 2020 este valor foi reduzido para 2 bilhões de reais, mas ainda assim, o Governo Federal é o principal patrocinador do desenvolvimento de atletas. O direcionamento desta verba é um tema polêmico, mas Leandro Carlos Mazzei, Presidente da Associação Brasileira de Gestão do Esporte, afirma que o maior problema é que “não se olha de forma mais profunda para a formação esportiva de crianças e adolescentes”. Ou seja, considerando uma pirâmide, os atletas de alto rendimento (o topo) são privilegiados e os atletas que seriam o futuro do esporte (a base), na grande maioria dos casos é esquecida.

Como disse acima, a verba governamental existe, mas sua utilização e direcionamento são pontos polêmicos, e por isso é importante olhar para outras formas de se obter receitas e visibilidade para o esporte brasileiros, seus atletas e os futuros atletas. Assim como são muitas as demandas, são muitas as possíveis soluções. Eu particularmente, sou entusiasta da que reúne a iniciativa privada, cidades e municípios de menor porte, eventos esportivos e atletas de base.

Novos eventos e competições são ótimas oportunidades de se construir o futuro do nosso esporte. Eventos esportivos, torneios e competições não precisam ser de grande porte e nem custar milhões. Torneios pequenos e médios atingem exatamente os atletas de base, e é na base que se constrói o futuro esportivo de um país. Além do mais, por estes formatos terem menor custo a captação de verba é mais simples, assim como a produção e montagem. As grandes metrópoles já têm seus calendários preenchidos, mas cidades menores não só precisam, como querem receber estes eventos. Além de fomentar o esporte local e ajudar as comunidades mais carentes, é uma receita de turismo e uma visibilidade que elas precisam. Como se diz, esse formato é um ganha – ganha! As cidades e municípios agradecem a visibilidade e a receita, os atletas são diretamente beneficiados com amis oportunidades e as empresas aproveitam a visibilidade e trabalham o posicionamento das suas marcas. Com o final da pandemia se aproximando, a torcida é para que os eventos esportivos possam retornar e assim ajudar a construir um futuro melhor para os atletas brasileiros.

ANDREA CARVALHO é advogada com Pós Graduação em Direito Empresarial e mestrado internacional em Entertainment Business concluído na Full Sail University na Florida. Com mais de 20 anos atuando na indústria de entretenimento Andrea tem perfil multidisciplinar tendo experiência diferenciada nas áreas negócios, planejamento estratégico, patrocínio, marketing e relacionamento com clientes.