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A retomada da indústria do entretenimento no Brasil

em Economia da Criatividade
quinta-feira, 01 de julho de 2021

O primeiro trimestre de 2020 trouxe a pandemia do Covid-19 e a partir daí o mundo mudou de maneira irreversível. Todos sabemos que o problema com o qual lidamos não é apenas a Pandemia, mas tudo o que vem junto com ela. A indústria do entretenimento como um todo foi o setor mais afetado pelas restrições, medidas sanitárias, e de segurança que tiveram que ser adotados. A não aglomeração foi um duro baque em um setor, que na grande maioria dos casos depende de púbico, fãs e consumidores presentes para sobreviver. Há dezoito meses vivemos esta nova realidade nos adaptando a ela e às suas causas e efeitos um pouco mais a cada dia. O que queremos saber agora é como será a retomada?

Outubro de 2020 apontava o primeiro semestre de 2021 como um período de retomada, mas infelizmente com a segunda onda do Covid-19 o que se viu foi neste período foi uma repetição das ameaças e incerteza que nortearam 2020. De lá para cá tivemos um significativo avanço nas vacinas e o cenário para o segundo semestre de 2021 promete finalmente ser de retomada. A previsão é que 2022 seja um ano “quase normal” para a indústria, lembrando que este será um ano de Eleição e Copa do Mundo o que contribui bastante para o crescimento do setor. Ainda assim, os números não devem ser os mesmo de 2019, quando a indústria do entretenimento no Brasil avançava de forma expressiva.

Quando se pensa em retomada deste setor, não é possível imaginar que a tecnologia não faça parte dela. Ao longo da pandemia, a tecnologia foi em muitos casos a ferramenta utilizada para vencer as adversidades impostas pela pandemia. No momento em que o isolamento e distanciamento social viraram regra de sobrevivência em todo o planeta, foi a tecnologia que aproximou as pessoas. Foi também a tecnologia a responsável pela grande virada do setor de entretenimento. Quem conseguiu sobreviver, o fez graças aos eventos híbridos, que misturando eventos físicos com a tecnologia digital criou uma forma de se realizar e consumir reuniões corporativas, palestras, shows e afins. A tecnologia foi responsável pela sobrevivência de vários outros segmentos dentro e fora da indústria do entretenimento. Empresas ligadas ao setor de alimentos e bebidas, bares e restaurantes por exemplo, conseguiram reverter a falta de público, com a ajuda de aplicativos de entrega e ferramentas de logística cada vez mais tecnologicamente avançadas. Infelizmente o que é bom para alguns não o é para todos e a tecnologia que aproxima pessoas, afeta diretamente o setor de viagens, companhias aéreas e hotelaria.

É fato que os eventos híbridos vão continuar existindo, são novas oportunidades de negócio e de geração de receita que a indústria não pretende abandonar. Assim como os bares, restaurantes não pretendem deixar o sistema de delivery. A pandemia nos ensinou a trabalhar com estas e muitas outras novas ferramentas que se mostraram muito eficientes. Retomar não significa regredir e por isso, um dos desafios deste momento é trabalhar de forma harmônica com os formatos pré e pós pandemia.

É importante enxergar que o setor de eventos B2B e B2C é gerador de negócios e não de aglomeração. A indústria do entretenimento é um importante gerador de empregos, impostos e crescimento econômico e por isso a retomada é urgente e já é possível ver alguns primeiros passos neste sentido. É bem verdade que com a flexibilização das medidas de segurança, e adotados os protocolos necessários, feiras e congressos já poderiam estar de volta a alguns meses, mas finalmente e aos poucos, esse movimento está avançando e o setor comemora. Bares e restaurantes já tiveram algumas medidas suspensas e lentamente retomam as suas atividades.

De acordo com pesquisa da PwC/statista, a região Sudeste reponde por 52% da receita de eventos e entretenimento do País e 85% deste movimento vem do Rio de Janeiro e de São Paulo. Não por acaso, as duas Capitais já iniciaram o processo de retomada do setor. Observando os eventos teste que acontecem em todo o mundo, os governos das duas Capitais já traçam um plano para a retomada do setor. Segundo as autoridades, a ideia é elaborar um formato responsável, baseado na ciência para que a retomada aconteça da forma mais segura possível.

Em maio o Governador de São Paulo anunciou uma agenda de 10 eventos teste, de 10 de junho a 30 de julho. O calendário inclui feiras de negócio, festas sociais, jantares corporativos e até um casamento. Todos os eventos acontecem com limitação de público, ambiente controlado e testagem rápida dos participantes, assim como está sendo feito em outros países. A Secretaria de desenvolvimento de São Paulo disponibilizará cursos de biossegurança e de protocolos sanitários a fim de colaborar com o processo.

O Rio de Janeiro também prepara seu cronograma de eventos testes e estudos para a retomada. Em junho foi anunciado que a ilha de Paquetá foi escolhida para funcionar como um laboratório e todos os estudos e testes estão sendo focados ali. Uma parceria entre a Prefeitura e a Fiocruz vai vacinar toda a população e quatorze dias depois disso a ilha receberá um Carnaval Fora de Época que servirá como evento teste. Serão 600 participantes todos testados e monitorados. Outros eventos teste estão planejados para acontecer na Cidade a partir do mês de julho. Hoje dia 30 de junho a cidade lança o projeto de digitalnomads.rio com o slogan “seja carioca o tempo que quiser”. Na esteira dos hábitos de trabalho remoto gerado pela pandemia, a cidade oferece a estrutura básica para incentivar e receber este turismo. Esta é mais uma iniciativa que visa fomentar o setor hoteleiro e de entretenimento na cidade.

É fato que a retomada já está acontecendo, a cada dia um novo movimento e uma nova iniciativa marcam este momento. Quem estiver preparado larga na frente e não só o setor do entretenimento, assim como os profissionais desta indústria agradecem e comemoram finalmente estarem vendo uma luz no fim do túnel.

ANDREA CARVALHO é advogada com Pós Graduação em Direito Empresarial e mestrado internacional em Entertainment Business concluído na Full Sail University na Florida. Com mais de 20 anos atuando na indústria de entretenimento Andrea tem perfil multidisciplinar tendo experiência diferenciada nas áreas negócios, planejamento estratégico, patrocínio, marketing e relacionamento com clientes. CONTATO: @andreacarvalho.me