646 views 8 mins

A Fonte Inesgotável que é o Quadrinho Nacional

em Economia da Criatividade
quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Em 2008, Homem de Ferro foi lançado nos cinemas. Filmes baseados em quadrinhos não eram novidade. De X-Men e Homem-Aranha, a diversos filmes do Batman e do Super-Homem, filmes de super-heróis já eram comuns. Mas com o aumento criado depois da criação do chamado MCU, o Marvel Cinematic Universe (ou UCM, Universo Cinematográfico da Marvel, em português), a indústria do entretenimento nunca mais foi a mesma.

Claro que a Marvel Studios não é o único estúdio fazendo sucesso com suas adaptações de quadrinhos. A DC Comics com seu universo de filmes também tem visto muito sucessos nos últimos anos. E com tantos filmes de sucesso baseado em quadrinhos, já estava mais que na hora de o mercado audiovisual brasileiro começar a investir nisso. Filmes como “Tungstênio” e “Motorrad” já são bons exemplos de filmes nacionais baseados em quadrinhos, mas são só o começo.

Uma franquia que está sendo construída aos poucos é uma baseada nos mais populares gibis do Brasil: A Turma da Mônica. As histórias, iniciadas em 1959 em tirinhas de jornais, hoje já venderam mais de um bilhão de gibis, além de aparecerem em várias outras mídias como o cinema e a televisão. Porém, a maior revitalização da marca foi em 2012, com o lançamento da Graphic MSP, graphic novels com histórias mais maduras baseadas nos famosos personagens de Maurício de Souza, dessa vez com traços e estilos de diversos artistas brasileiros.

E em 2019 o primeiro filme em live-action da Turma da Mônica foi lançado. Turma da Mônica: Laços, baseado na Graphic MSP homônima, foi um grande sucesso de crítica e de bilheteria. Em dezembro de 2021, sua sequência “Lições” foi lançada, e em 2022, seu primeiro spin-off foi lançado. “Turma da Mônica: A Série” foi mais um sucesso para a franquia. Esses últimos três projetos abriram a porta para uma série de produções futuras baseadas nesses clássicos personagens. Ainda em 2022, teremos a série “Franjinha e Milena em Busca da Ciência”. Além disso, o filme do Chico Bento (cujo teaser apareceu como cena pós créditos do filme “Lições”, no mais clássico estilo Marvel).

Mas uma das maiores apostas da MSP (Maurício de Sousa Produções) são os filmes da Turma da Mônica Jovem. Criados em 2008, os quadrinhos da Turma da Mônica Jovem mostram a famosa turminha do Limoeiro já crescida, em um formato de mangá, e em aventuras que misturam drama adolescente com histórias fantásticas e às vezes até sombrias. Quatro filmes baseados nessas histórias já estão sendo produzidos, além de cinco filmes da “Turma do Penadinho”.

A maior diferença dos filmes e séries da MSP em comparação à Marvel é que essas produções serão em parceria com diferentes estúdios e serviços de streaming. “Turma da Mônica: A Série”, por exemplo, saiu na Globoplay, enquanto a série animada do Astronauta sairá na HBO Max. Por isso, a ideia não é manter um único universo compartilhado, e sim diversas histórias que não dependem umas das outras. Os filmes da Turma da Mônica Jovem, por exemplo, contarão com atores diferentes dos filmes anteriores e da série. Ao invés deles, um elenco de atores na faixa dos 20 anos já foi selecionado. Por coincidência, esse modelo de produção se assemelha ao que a Warner vem fazendo com alguns filmes da DC nos últimos anos, com “The Batman” e “Coringa” se passando em universos diferentes de filmes como “Aquaman” e “Mulher Maravilha”.

Outro nome importantíssimo para os quadrinhos e, logo, para o cinema nacional é a Guará. Uma editora que eu gosto de chamar de “a Marvel brasileira”, a Guará produz quadrinhos 100% brasileiros, misturando artistas de todo o país e fomentando a indústria dos quadrinhos nacionais, dando espaço para muitos artistas independentes e fazendo um quadrinho com valor mais acessível do que muitos outros no país.

Junto da Panini (que distribui os quadrinhos da Turma da Mônica), a Guará é uma das únicas editoras nacionais com um lançamento mensal: O Almanaque Guará, uma série que traz em cada edição três histórias originais e uma independente. Mas o plano do Guará vai muito além dos quadrinhos. Várias das histórias e personagens da editora já tem projetos confirmados no audiovisual.

“Cidadão Incomum”, que conta a história de um super-herói que atua na cidade de São Paulo, já tem um projeto confirmado para a televisão, uma série pela produtora O2 envolvendo Fernando Meirelles (“Cidade de Deus”). “Santo” (que abro parênteses para mencionar que é um dos meus personagens favoritos da editora), um detetive sobrenatural à lá Constantine (DC Comics) brasileiro, também tem um projeto confirmado, além de “Pérola”, uma jovem prostituta que se envolve com a política e a corrupção, “Os Desviantes”, um quadrinho sobre a guerra da Elite com a Resistência na favela de um Rio de Janeiro pós-apocalíptico, “Sangue Quente”, uma aventura no Rio de Janeiro envolvendo vampiros, e até um projeto animado envolvendo “Kriança Índia”, uma criança indígena que assassina friamente os invasores da floresta amazônica.

As produções da MSP e da Guará com certeza não são e muito menos serão as únicas adaptações de quadrinhos que veremos nos próximos anos. Muitos estão agora percebendo o sucesso que pode ser atingido quando bebemos dessa fonte tão vasta de histórias que são os quadrinhos nacionais. Basta então esperarmos para ver o que vem nos próximos capítulos, ou melhor, nas próximas páginas.

Formado em cinema na Full Sail University, Lucas Fouyer é o criador do Podcast Terapeuta, o qual apresentou na CCXP17, trabalha na edição e produção de diversos vídeos e é um amante de toda forma de cultura pop.